O catanduvense Cícero Antônio de Oliveira, deficiente visual há mais de 12 anos, se destacou e foi o campeão em um campeonato de xadrez realizado em Campinas. Oliveira que perdeu a visão após um descolamento de retina, aprendeu a jogar depois que perdeu a visão, sendo que antes já havia visto o jogo, mas considerava muito difícil pela variedade de modelos e formas que compõem a partida.
Em Campinas ele enfrentou outros cinco jogadores, todos que não possuem nenhum tipo de deficiência de visão. Ele conseguiu vencer duas partidas e sofreu três derrotas. Como era um torneio inclusivo, misturando jogadores com visão e sem, o representante de Catanduva conseguiu garantir o primeiro lugar na categoria.
O enxadrista considera a modalidade mais do que um simples jogo ou passatempo, tornando-se uma atividade que deu novo significado para a sua vida. Ele treina todos os dias com material adaptado e participa de várias competições ao longo do ano. Além disso, também ensina xadrez para outros deficientes visuais na associação que frequenta.
Com o auxílio de um gravador de voz ele registra as aulas e partidas e para que posteriormente consiga ouvir os áudios, refazendo as jogadas para aprimorar os próprios conceitos. Observando os erros e destacando os acertos. Ele também memoriza algumas jogadas e as refaz sempre que possível.
Oliveira também está sempre recebendo visitantes em sua casa para uma partida de xadrez. Entre eles há crianças de 7 anos e jogadores experientes, que muitas vezes são vencidos pelo jogador.
INÍCIO
O enxadrista aprendeu a jogar xadrez com o professor Gleison Begalli, há 10 anos, junto com outros 15 colegas cegos. Begalli relata que Oliveira sempre foi o aluno mais dedicado e ensinar cada aluno foi, antes de tudo, um aprendizado.
“Tenho um grande amigo cego em São Paulo que o encontrava esporadicamente em torneios. Ele me ensinou a ensinar deficientes visuais e resolvi transmitir meus conhecimentos para esse grupo aqui em Catanduva do qual fazia parte o Sr. Cícero. Na época eles se reuniam no CAIC com a professora Tânia e a cada aula eu me realizava pessoalmente, pois via que estava proporcionando algo de especial na vida deles. Foi um trabalho voluntário dos mais gratificantes que realizei em toda a minha vida”, disse Begalli.
Atualmente Cícero tem aulas com o professor Sílvio Shiroma que assim como Begalli, fazem parte do Clube de Xadrez de Catanduva. Os dois professores estiveram acompanhando Cícero em Campinas onde puderam ver de perto a conquista do empenhado aluno.
ADAPTAÇÃO
Os jogos para cegos são adaptados: as peças brancas são lisas enquanto as pretas são ásperas. No centro das casas há um furo para as peças serem encaixadas e não caírem enquanto são tateadas pelo jogador. As casas pretas são em alto-relevo também. Assim, com o tocar das mãos, eles podem saber quais são as peças e desenvolverem as jogadas.
As primeiras peças e tabuleiros usados pela turma de cegos foram adaptadas pelos próprios alunos, que pegaram jogos normais e fizeram todas as adaptações necessárias.
JOGADA
Se engana quem pensa que por ser cego, este tipo de enxadrista joga mal. Eles evoluem e crescem proporcionalmente a sua dedicação, assim como qualquer pessoa. Oliveira por exemplo, joga de igual para igual com vários jogadores experientes da cidade. A maior dificuldade dele está com o tempo. Em partidas com menos tempo ele tem maior dificuldade, mas isso é comum em muitos jogadores que possuem visão.
Para a disputa em Campinas, o enxadrista que pertence à Coordenadoria de Inclusão Social contou também com o apoio do setor. Oliveira se prepara para retomar as disputas em 2015, já que o calendário de provas está sendo organizado pelas federações que promovem a modalidade no Estado de São Paulo e em todo o Brasil.
Fonte: O Regional
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