segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

ARTISTAS COM DEFICIÊNCIA E A DEMOCRACIA.


Imagem: Viktoria Modesta sentada num cubo branco num local todo branco e mostrando sua prótese que faz imagem steampunk que mistura componentes do século XIX
Por Amauri Nolasco Sanches Junior
Pronto. Finalmente temos uma cantora que colocou a deficiência em voga e não como um “modo de superação”. Viktoria Modesta é uma cantora e modelo britânica, em 2007 por problemas da perna que ela caia muito, teve que amputá-la e dês de então, está mesmo assim no meio e ao que parece, agora investiu a carreira de cantora. Não gosto muito do tipo de musica que a Viktoria canta, pois sou adepto ao rock e ao metal, mas algo que eu vi que me fez refletir que de repente falta dentro da visão da deficiência, a discriminação. Em um blog, que peguei a sua biografia, o escritor postou o que ela disse ao amputar a perna e achei fantástico essa coisa dela mesma dizer que estava tirando algo errado dela e que agora se sentia completa, não lamentou a vida por ter perdido a perna, mas foi em frente e disse que era completa. Aonde uma pessoa amputada se sentiria completa na posição dela? Aonde os meios de comunicação poderiam mostrar que uma pessoa amputada faz um video mostrando a sua prótese, assim, explicitamente?
Há uma extensa discussão como poderíamos divulgar a deficiência e como poderíamos colocar essa deficiência como uma coisa normal, não tão dramática e não tão substanciada no “vitimismo” que muitas pessoas com deficiência promovem dentro das próprias palestras e do modo de contar sobre a sua deficiência. Alguns anos atrás, uma cantora chamada Katia foi lançada e ela era cega, não emplacou por razões que desconheço, mas ficava vendo o modo que as pessoas tratavam ela só porque ela era cega. O maior problema das pessoas com deficiência e renegar a sua deficiência por causa de uma sociedade que nos rejeita, que nos humilha, que nos transforma em meros seres humanos sofredores e que de alguma maneira, que não podem se prover sozinhos. Mas o que ninguém sabe, ou a grande maioria é que o cantor Roberto Carlos tem uma prótese e perdeu a perna quando era criança. Em minha opinião pessoal, mesmo com os inúmeros preconceito na época, a sua atitude foi de extrema canalhice de não assumir sua deficiência e de extrema canalhice em não mostrar sua prótese. Mas temos que reconhecer que mesmo com isso ele foi atrás do que quis e conquistou, de uma forma que não concordo, seu espaço como cantor. Aqui no Brasil, queiram vocês ou não, somos acometidos de um vitimismo muito grande que eu chamo de Filosofia Teletoniana. Joga você no vitimismo, faz de você o mais baixo dos seres humanos para depender de secretarias, entidades e outras coisas do tipo e enriquecem com isso, porque vai muito dinheiro e por esse dinheiro, se aliena a sociedade sobre isso. Fora que empresas preferem pagar multas do que contratar pessoas com alguma deficiência e consultorias que exigem critérios estranhos, igual aconteceu comigo em outubro envolvendo a AME e o SESC (aqui). Isso é a industria da caridade, onde aproveitam das pessoas que querem ajudar e não encontram meios de ajudar e essas entidades forçam uma imagem degradante da deficiência e uma imagem degradante dos meios que essas pessoas podem ajudar. Por outro lado, não adianta os meios de comunicação ajudar e ao mesmo tempo, não obedecer a Lei de Cotas de pessoas com deficiência nas empresas.
A Filosofia Teletoniana tem origem na antiguidade onde não existiam nenhum meio de tratamento, não existiam nenhum modo cientifico que comprovasse que nós, meros seres humanos com suas limitações, não eramos castigo dos deuses. Aliás, somos produto do meio onde vivemos e quanto mais progresso, mas meios químicos e processos difíceis podemos encontrar e nascer com alguma deficiência, ainda mais a pobreza que agrava ainda mais. Μas é lógico que isso não é dito porque eles revertem para a sociedade o que certamente, uma parte dessa culpa, pelo menos da miséria, do descaso e da realidade onde vivemos, são dos mesmos que jogam a culpa na sociedade. Montam uma rede de pensamentos para amenizar os partos sem pediatra ou obstetra, no caso da paralisia cerebral, para amenizar os acidentes automobilísticos ou violências diversas, de remédios que podem deformar o feto em gestação, que não há meios de se tratar algumas deficiências para enriquecer e armar um esquema de doação, ajudar quem não precisa. Dai ficam dizendo que somos dependentes de tal entidade e que não precisamos de mais nada, apenas de amor e carinho como se não comecemos ou quiséssemos ter uma vida como todo ser humano. A culpa das nossas deficiências é do ESTADO que não dá assistência adequada, não dá uma maior atenção as mulheres no pré-natal, não fazem prevenção de remédios que sabem ser proibidos e não há outras pesquisas e resoluções que poderiam acabar ou diminuir as deficiências, dai coloca entidades para dizer que ele tem uma solução, mas não tem e o sujeito ficará com ela a vida inteira. Ainda pior, com o descaso desse mesmo ESTADO que dá a sua deficiência e não quer assumir, com as filosofias teletonianas de caridade que nada tem a ver com a nossa inclusão dentro da sociedade, e ainda, ficar ouvindo e lendo que não somos qualificados por empregos que somos, assim, inventam inverdades para encobrir a verdade. Então o problema é muito mais profundo do que meios acessíveis e secretarias que só são meios para despistar um fim. Um Estado que é ineficaz até no meio de dar ao ser humano o bem estar que ele precisa para tratar e viver com sua deficiência, um Estado ineficaz que só joga heróis da superação para dar esperança de um dia que não vai chegar e só lhe mostra um caminho. Os meios de comunicação só valorizam o esporte, nada mais, pois não existe deficiente que escreve, não existe o deficiente que canta, não há o deficiente que é qualificado no meio publicitário, deficiente artista plástico, tem que ser esportista.
Vejo no clipe da Viktoria uma nova visão que ela mostra, como uma deficiente que consegue inverter o que a sociedade tem como visão e como a sociedade vê quem quer mudar essa visão transformando em um vilão, um ser desprezível que quer mostrar que é um ser humano. De repente até ser corruptor de crianças, como mostra a cena da menina, ou uma dominadora que domina os meios para mostrar que a sociedade está errada em desprezar esse tipo de ser. Viktoria pouco importa com a visão da boa mocinha, pacata, que tem como prioridade apenas chorar pelo seu futuro desprezível sem uma perna, ela tem a postura austera, que despreza aquelas palavras de ordem. A policia representa o Estado e como autoridade dita regras, mas a atitude dela é de desprezo, de reinado, de segurança de si mesmo e de todos que a seguem. Muito diferente daqui que os personagens que aparecem de cadeira de rodas como exemplos de superação, que são bons mocinhos e que nutrem aquele sorriso de quem superou ou a mocinha de cadeira de rodas que tem a necessidade de se autoafirmar com atitudes que mostram a sua fraqueza no seu ego, Viktoria tem um estilo de mulher, um estilo de quebra do bonzinho com deficiência, do estilo de não tão santo e nem tão pouco demônio, mas com os seus desejos. A mulher que mesmo com deficiência é desejada, mesmo com deficiência é má, mesmo com deficiência quer dominar, mesmo com deficiência que desprezar uma sociedade que o a despreza e no entanto, ela tem que conviver. Diferente do fraco curta metragem Cordas, Viktoria mostra que não precisamos morrer para mostrar alguma coisa, que podemos estar vivos e mostrar o quanto essa sociedade nos restringe ao nada.
Até quando nós vamos aguentar tudo isso por migalhas? Será mesmo que somos libertos? A democracia não é tão democrática como muitos pensam, mas um meio para a dominação alienando o ser humano fazendo acreditar que é liberto, mas não somos, porque somos dominados por ideias e condicionamentos, que não são tão fáceis de se enxergar. Mas é um ponto para se começar, só querer.
esse é o clipe:

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