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Atletas para valer Em competições adaptadas às suas habilidades, crianças deficientes ganham destreza e independência |
Vencer é apenas um detalhe, quando a criança com deficiência entra na quadra de basquete, de tênis ou de futsal, na pista de patinação no gelo, na piscina ou nos campos de futebol. O importante é participar e superar limites a cada cesta, gol ou ponto, sentindo o gosto da vitória no corpo que se mostrou capaz. Daí o sucesso de iniciativas como as Olimpíadas Especiais, que envolvem, todos os anos, perto de 1 milhão de portadores de deficiência mental no mundo, em 23 esportes de inverno e verão. O Brasil desenvolve o programa há 12 anos e atende anualmente cerca de 18 mil atletas, em 13 modalidades esportivas. "Não são apenas competições. Temos um programa de treinamento, com a participação de quase 5 mil voluntários, voltado para a integração do deficiente na sociedade. O esporte gera autoconfiança para que ele enfrente e vença as barreiras sociais", explica Vanilton Senatore, diretor executivo das Olimpíadas Especiais Brasil. Ninguém fica de fora A criança portadora de deficiência mental pode ingressar nas Olimpíadas Especiais Brasil a partir dos 8 anos de idade. Na fase inicial, ela participa de atividades recreativas, para se adaptar ao esporte. Começa a competir por volta dos 10 anos em modalidades individuais e, aos 15, está pronta para integrar um time e disputar jogos coletivos. As competições são organizadas de acordo com as habilidades dos atletas. "É o grande diferencial das Olimpíadas Especiais. Os grupos não são selecionados pelo rendimento no esporte. Todos participam das competições, não apenas os mais talentosos", esclarece Vanilton Senatore. As crianças mais novinhas e os portadores de deficiência mental severa participam de disputas adaptadas. No atletismo, em uma prova de arremesso de peso, a bola de ferro pode ser substituída por uma mais leve, de beisebol. Se o jogo é em grupo, como futebol, e o atleta não tem condições de trabalhar em equipe, cria-se para ele uma prova individual na mesma modalidade. A criança dribla, chuta no gol e mostra como conduz a bola para uma equipe de árbitros avaliar sua habilidade. Não deixa de praticar o esporte de que tanto gosta, só porque é coletivo. Medalha de ouro As competições nacionais e mundiais das Olimpíadas Especiais acontecem a cada dois anos, alternando esportes de verão e inverno. Em 1997, no Canadá, na primeira participação do Brasil em patinação de velocidade sobre gelo, Luciana dos Santos, portadora da síndrome de Down, fez bonito. Levou a medalha de ouro nos 25 metros e a de bronze na prova de 50 metros. "Passei a ser mãe de uma atleta especial e não mais de uma deficiente mental", orgulha-se Jandira Mansão dos Santos, que se tornou treinadora de patinação sobre rodas, estimulada pela vitória da filha, na época com 14 anos. Na volta do campeonato no Canadá, ela resolveu fazer um curso de Educação Física e criou a Companhia Artística Esportiva Luz (Cael), em São Bernardo do Campo (SP). Luciana diversificou as atividades esportivas: além de patinar, faz tênis, natação e ginástica rítmica. Em cadeira de rodas As crianças com deficiência física também demonstram sua garra no esporte. Em São Paulo, participam de dois projetos de basquete em cadeira de rodas: o Cesta de Três, pioneiro na atividade, criado há um ano e meio pela Associação Desportiva para Deficientes (ADD), e o Projeto Kids, mais recente. Escolas e empresas patrocinam as iniciativas, oferecendo espaço, transporte e bolsas de estudo para crianças de 6 a 16 anos. "O esporte é um grande convite ao deficiente para se integrar. Ele se fortalece de todas as formas, na reabilitação física e na convivência social", afirma a psicóloga Eliane Assumpção, coordenadora de projetos infantis na ADD. Larissa Blasco Leme, 13 anos, paraplégica, descobriu isso no Cesta de Três. "Para quem anda, fazer uma cesta não é tão gratificante quanto para alguém que a faz sentado. É maravilhosa a sensação de ter conseguido vencer tantos obstáculos", explica ela. Olhos vendados Nem mesmo o fato de não enxergar impede as crianças de ingressar no mundo esportivo. No Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro, elas fazem natação, tae kwon do, judô, atletismo, futsal e ginástica olímpica. Bolas com guizo no futsal e guias ligados ao atleta por uma corda na corrida são algumas das adaptações para a prática dos esportes. Mas há modalidades criadas especialmente para cegos e portadores de baixa visão, como o goalball, um jogo praticado com bola, em duas equipes, com todos os jogadores vendados. Assim, os que têm pouca visão não levam vantagem sobre os que não enxergam nada. A manha do esporte é perseguir a bola, que possui guizos, pelo som. E depois localizar a trave de nove metros de largura, bem maior do que as convencionais, para fazer o gol com as mãos. "O jogo, além de divertido, favorece a independência da criança, ao desenvolver sua orientação espacial", diz a coordenadora de Educação Física do IBC, Soraia Izabel Corrêa Cabral. Não importa a modalidade esportiva, a deficiência, os resultados. O exemplo dos atletas especiais mostra que eles já são vencedores ao aceitar o desafio de superar suas barreiras físicas e emocionais para enfrentar a vida em sociedade. Para eles, ganhar uma disputa é adquirir destreza, amigos, um relacionamento familiar mais saudável e se sentir parte integrante de uma comunidade. |
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