CONQUISTAS DENTRO E FORA DOS TATAMES
25/01/2013 - 16:34h - Atualizado em 25/01/2013 - 17:13h
Bolsa-atletas buscam vaga para a Surdolimpíada deste ano e revelam como o esporte é capaz de superar a ausência da audição
Rafael, Luiz Felipe, Vanessa, Adalberto e Alexandre: deficientes auditivos e campeões / Fotos: Marcelo Santos
O judoca Alexandre Soares Fernandes tem 23 anos. Um detalhe mudou a vida dele. Ao sofrer uma queda em casa ainda pequeno, ficou surdo. Isso não o impediu de se tornar um exemplo no esporte. Mas o diferencial ficou mesmo por conta de um feito inédito: ele é o primeiro medalhista surdo do Brasil. Em 2009, Alexandre representou o Brasil nos 21º Jogos Surdolímpicos, em Taipei, capital de Taiwan, e conquistou a medalha de bronze na categoria meio-médio (até 81 kg).
- A medalha representa mais do que um título. É superação. O importante é mostrar para a comunidade surda que somos capazes de tudo, tanto quanto os ouvintes. O esporte é minha vida. Comecei a praticar judô escondido da minha mãe, pois ela tinha medo que eu me machucar – diz Alexandre.
Alexandre é um dos bolsa-atletas que são apoiados pelo Governo do Estado do Rio. São cinco os beneficiados pelo programa, que treinam em um dos núcleos do Projeto Rio 2016, no 2º Batalhão da Polícia Militar, em Botafogo, zona sul da cidade. Todos eles irão a São Paulo, em fevereiro, para disputar a seletiva para as 22º Surdolimpíadas, que serão realizadas na Bulgária em julho deste ano. E com grandes chances de classificação.
Alexandre também conquistou a medalha de prata no 14º Mundial de Artes Marciais dos Surdos, realizado no ano passado na Ilha de Margarita, na Venezuela. Ele também é estudante de educação física e está no terceiro período da faculdade.
- Primeiro, quero participar de mais uma competição. Quero, pelo menos, repetir o bronze, mas a ideia mesmo é levar o ouro. Força de vontade é fundamental. Eu sou capaz de fazer tudo – afirma o atleta.
Alexandre Soares é o primeiro medalhista surdo do Brasil. Ele conquistou o bronze na última edição da Surdolimpíada, em 2009
Vanessa Reis Fontes é outro exemplo de que a ausência de um dos sentidos não é motivo para desistir. Com 25 anos de idade, ela é deficiente auditiva e foi medalhista de ouro do Mundial de 2012, disputado na Venezuela, na categoria ligeiro (até 48 kg).
- A expectativa é grande com relação a possível vaga na Surdolimpíada deste ano. Quero muito estar lá. É um evento mais importante do que o mundial. Quero trazer o ouro – sonha Vanessa.
A judoca, que nasceu surda e começou no esporte ao ver competições de judô na televisão, ficou em quinto lugar na última edição da Surdolimpíada, em 2009. Passou por certa dificuldade, o que a levou a morar em Minas Gerais com o pai. Hoje, Vanessa mora sozinha em um apartamento em Higienópolis, Zona Norte do Rio.
- Graças ao bolsa-atleta, voltei para o Rio há dois anos e recomecei a treinar judô. Consigo pagar as inscrições nas competições para trazer títulos para o Brasil. O bacana aqui é a troca de experiência entre surdos e ouvintes – afirma Vanessa.
A judoca Vanessa Reis espera se classificar na seletiva em São Paulo para trazer um ouro para o país em Taipei
Outro judoca que é apontado com potencial de medalhas na Surdolimpíada é Adalberto Trigueiro da Silva, de 27 anos. Com quase 100 medalhas no currículo, entre campeonatos estaduais e interestaduais, ele é o primeiro faixa-preta surdo do Estado do Rio. Faturou a prata, na categoria ligeiro (até 60 kg), no Mundial de Artes Marciais de surdos, na Venezuela. Morador da comunidade do Adeus, Adalberto conta que o início na carreira como atleta não foi fácil.
- Minha família não me apoiava, foi difícil mesmo. Cheguei a pedir dinheiro no ônibus para me sustentar. Quando comecei a ganhar as competições, as coisas mudaram. Hoje, eles têm orgulho de mim. E quero que o Brasil tenha orgulho de mim também – acredita Adalberto.
Adalberto Trigueiro: primeiro faixa-preta surdo do Estado do Rio de Janeiro
Outros dois bolsistas surdos são os judocas Rafael Monteiro da Silva, de 20 anos, e Luiz Felipe de Souza Silva, de 19 anos. Ambos são considerados futuras promessas no esporte. Rafael, morador de Itaboraí, na região metropolitana do Rio, quer servir de espelho para outros deficientes auditivos.
- O bolsa-atleta veio como forma de me ajudar a pagar as competições, as despesas de viagens. Sonho no futuro participar de um Mundial. Quero servir de exemplo – diz Rafael.
Rafael Monteiro se espelha nos colegas mais experientes e sonha com títulos e medalhas
Luiz Felipe é nascido e criado no Vidigal, comunidade que recebe uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Mas chegou a conviver com a violência que existia no local. Ele ainda dá um conselho aos que estão chegando aos tatames agora.
– O judô melhorou muito a minha vida. Mas ainda falta muita coisa. Com certeza, se eu não tivesse praticando esporte, eu teria seguido o caminho errado. Eu aconselho surdo ou ouvinte a estudar e praticar esporte, pois é assim que seremos alguém na vida – declara Luiz Felipe.
Luiz Felipe de Souza, morador do Vidigal, acredita que o esporte é uma forma de transformação social
Todos os atletas fazem parte do projeto Valorizando a Diferença (AVD), coordenado pelo professor Eduardo Duarte, técnico da seleção brasileira de judô de surdos.
Junto com os deficientes auditivos, ouvintes também treinam judô no núcleo do Rio 2016
O projeto AVD integra o programa sócio-esportivo Rio 2016, presente em 73 municípios beneficiando mais de 200 mil pessoas com 53 atividades esportivas.
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- 13 fotos | 25/01/2013
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