A televisão Me deixou burro Muito burro demais Oh! Oh! Oh! Agora todas coisas Que eu penso Me parecem iguais Oh! Oh! Oh!
Quando falamos de uma deficiência, falamos de limitações que fazem no qual nos chamarem de deficiente. A deficiência é um caso de estereótipos que nos dão para diferenciar de outras pessoas – como a Simone de Beavoir disse que as mulheres não nascem mulheres por causa do estereótipo que colocaram dentro do termo “mulher” talvez parafraseando Lacan que disse que a mulher não existe, digo que as pessoas com limitações não nascem deficientes, mas se tornam deficientes pelo estereótipo que colocaram dentro do termo deficiente – e nada tem a ver em pessoas serem especiais ou que as pessoas colocam dentro da ideia da deficiência, que somos eterno sofredores e se nos esforçamos além do normal, somos pessoas que nos colocam no rol dos “exemplos de superação” que é mais ou menos, exemplos que temos de pessoas especiais (se uma deficiência pudessem ser sinônimo de ser especial). Não quero ser um “exemplo de superação” e não vou precisar ser “especial” para encontrar e mostrar em um programa de TV para mostrar que sou feliz ou não. Aliás, dês de muito pequeno, tenho medo de pessoas muito “boazinhas” e desconfio das pessoas que postam coisas boas toda hora, pois o mundo melhor me arrepia.
Não que não acredite que um dia o ser humano poderá evoluir dentro da moral o bastante para compreender o outro como deve compreender, isso minha convicções espirituais me fazem acreditar nessa ideia, mas de repente nesse estagio da humanidade que tudo tem que ser na base da troca e na corrupção, tenho minhas duvidas. Eu sou meio um anarquista do mesmo patamar de Proudhon, não acredito em utopias impossíveis bem do tipo “adultecente” que acha que deve deixar o mundo melhor para seu próprio filho e começa reciclar até papel higiênico usado. Sou realista o bastante para ver que nesse momento a humanidade passa em uma fase de puro radicalismo de todos os meios – isso é devido as mudanças porque o ser humano não gosta de mudanças – e no nosso meio, devido a algumas crenças e algumas situações, não está muito diferente. Estamos passando por um período de que as pessoas acham valido tudo para divulgar a deficiência e toda a sua teoricamente claro, realidade. Existe mesmo realidade num programa de TV? Existe mesmo realidades únicas que podem ser mostradas em um quadro de programa de TV? Não preciso mostrar em um programa de TV que sou amado e posso sim casar e ter uma família, pois sei muito bem da minha capacidade e sei também que sou capaz de trabalhar para cuidar dessa família, sem inflar meu ego em programas inúteis e sem fotos no Facebook.
A coisa está tão grave que existe uma ala do segmento das pessoas deficientes que estão preocupados com coisas secundarias como o Estatuto da Pessoa com Deficiência que não defende – porque quem defende deve punir e não tem nenhuma punição no Estatuto – e fica evidente que é uma obra completamente, politica. Ninguém está preocupado com todos nós, quem mais do que ninguém quer que nos “fodemos” com um “f” maiúsculo do que os políticos que nada fazem, nada vê, nada discute. Quer me convencer que um politico com nome, que está pouco preocupado com a classe favorecida – que no nosso caso, quem anda – vai se preocupar com um monte de “estropiado” que só serve para encher o saco e exigir coisas? Quer me convencer que um estatuto que não prende quem não obedece a lei de cotas, não guincha o carro de quem para na vaga dos deficientes, que não temos nenhum respaldo jurídico, é um estatuto serio? A seriedade não está entre chamar “Estatuto da pessoa com deficiência” ou “Lei da Inclusão” – que não passam de nomes pomposos – mas um estatuto que pune e com rigor alguém que desobedeça qualquer coisa que esteja assegurado ali e não interessa a vontade, o que é ético que importa. Esse estatuto não garante saúde, porque os postos de saúde não tem médicos especializados, não tem educação, porque as escolas não estão preparadas nem para as crianças que não tem mobilidade reduzida imagine as crianças que tem, não garante trabalho, porque os empresários e o governo não obedecem a lei 8213/91 (lei de cotas) que garante o nosso direito de trabalho, se contrata, fica enchendo o saco para o cara desistir. Mas o mais importante é o transporte, pois sem ele não tem ida no medico, não tem ida na escola, não tem ida no trabalho, não tem ida nem mesmo para passear. Talvez antes disso deveria haver um plano de mobilidade e acessibilidade nas calçadas e entradas de estabelecimentos comerciais que, no desenrolar, o estatuto não garante e se garante, não há punição para as prefeituras ou governos estaduais. Ainda você bate palmas para um estatuto desses? Eu colocaria fogo, queimaria sem pena. Ainda não garante uma melhor qualidade dos aparelhos que recebemos e compramos – porque a qualidade está muito inferior a que tínhamos antigamente – porque podemos até mesmo nos ferir gravemente. Eu se isso acontecer, lógico que processarei a empresa e o governo.
Diante de tudo isso ainda podemos encontrar o amor, mas o amor de verdade vai além do que mera aparecias e não é um programa de TV que vai dizer isso. Quem aceita de verdade sua deficiência – aceitar não se conformar – vai sempre olhar além do outro dentro do real sentimento. Se amamos um ser humano cadeirante e essa pessoa nos olha como um ser humano mesmo nós sermos cadeirante, então, aceitando o outro como ele é. Sou muito cético quando as pessoas cadeirantes arrumam pessoas que não tem mobilidade reduzida, pois por mais que essas pessoas amem o cadeirante e desprezam sua condição, isso mostra que tem algo de errado no próprio cadeirante. Isso são fatos que vivi e percebi ao longe de 39 anos de deficiência, onde tem um período na nossa vida que não aceitamos e queremos sempre algo que nos falta, algo que não temos. Pode acontecer? Claro. Minhas convicções espirituais dizem que cada um tem sua missão espiritual de aprendizado e evolução, pode acontecer que a pessoa tem a aprender com um relacionamento assim, até o deficiente. Mas não podemos deixar que isso se torne uma regra que todos devem seguir, pois sentimentos são coisas subjetivas. Onde estão a individualidade das pessoas? Vamos aceitar que qualquer programa mostre pessoas deficientes sofredoras e quando essas pessoas encontram e conquistem, sejam exemplos sei lá do que ou especiais? Queremos ser deuses como os devotees nos olhem? Pelo menos eu não.
Até quando iremos aceitar essas infantilidades das pessoas deficientes?
Amauri Nolasco Sanches Júnior, 39, publicitário, técnico de informática e filósofo