terça-feira, 23 de junho de 2015

Rádio Agência Nacional: O que é e como funciona a audiodescrição

A audiodescrição em audiovisual, principalmente em cinema, é uma iniciativa que traz em si a possibilidade de inclusão para os deficientes visuais. Surgida em 1975 nos Estados Unidos, foi somente a partir dos anos 80 que a audiodescrição passou a ser adotada em teatros, museus e cinemas daquele país.
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Em 1989, a audiodescrição foi realizada em alguns filmes do festival da Cannes. Atualmente, a acessibilidade nos meios de comunicação está em pauta em todo o mundo. A respeito desse tema, audiodescrição, eu vou conversar agora com Maurício Santana, publicitário, professor na área de Rádio e TV e cinema e diretor da Iguale Comunicação de Acessibilidade. Maurício, obrigada por sua participação. 

E (entrevistadora): O que é audiodescrição? 
M (Maurício): A audiodescrição é uma técnica onde a gente transforma uma informação visual numa informação verbal, para que a pessoa com deficiência visual, cega, ela tenha acesso pleno a esse conteúdo de um filme, programa de televisão, e teatro. Obviamente a pessoa com deficiência visual tem sempre o acesso ao áudio, mas muitas vezes as cenas dentro do cinema são cenas que têm várias ações porém preenchidas apenas com uma trilha sonora, então nesse momento é que a audiodescrição tem sua importância fundamental, que é onde a gente começa a construir em forma de áudio para que a pessoa com deficiência possa imaginar e compreender a obra como um todo. Resumidamente é isso. A audiodescrição é um modo de tradução audiovisual que consiste em uma narração e descrevendo com o máximo de detalhes possíveis tudo que acontece em uma cena. 

E: E Maurício, como ela surgiu no Brasil? 
M: No Brasil, a gente foi um dos pioneiros. Paralelamente, também tinha a professora Lívia Mota, que também estava pesquisando. No Rio de Janeiro, a Graciela Pozzobon e a Lara, responsáveis pelo Festival Assim Vivemos, estavam fazendo algumas experiências com audiodescrição. Particularmente, nós começamos em 2007 e, até então, ninguém conhecia muito a audiodescrição no Brasil. 

E: Existem em festivais aqui no Brasil salas de cinema que usem a audiodescrição? 
M: Existem sim. Em 2013, agora, a gente fez a quarta edição do festival Melhores Filmes do SESC em São Paulo. Nós também produzimos audiodescrição do Cine Ceará, Mostra Cinema e Direitos Humanos da América Latina, Festival Retrospectiva São Paulo, Festival Internacional de Curta-metragem e Mostra Internacional de Cinema. 

E: Além do cinema, também a audiodescrição é feita para televisão, para o teatro, museus... Como está isso no Brasil?
M: Hoje a gente tem uma lei para as emissoras de televisão, onde existe uma obrigatoriedade de transmissão de quatro horas semanais de conteúdo audiodescrito, porém, somente para emissoras que transmitem em HD. Muitas peças de teatro estão adotando o recurso da audiodescrição, principalmente no eixo Rio-São Paulo. Já chegamos a produzir cerca de trinta filmes audiodescritos para DVD: "O auto da compadecida", "Xingu", "Cazuza", vários desses títulos nacionais e internacionais dublados com audiodescrição e creio que muitos já estejam disponíveis para o público. 

E: Maurício, como que funciona a audiodescrição? Ela, em alguns casos, é feita ao vivo ou ela é feita em estúdio? 
M: Bacana a sua pergunta. O trabalho inicial é uma roteirização desse produto audiovisual, e nesse primeiro trabalho, a gente vai buscar brechas que um filme nos proporciona para poder escrever essas cenas, evitando a sobreposição ao diálogo. A partir daí, a gente tem duas possibilidades de produção: ou a gente vai com esse roteiro da audiodescrição para o estúdio e daí nós gravamos a narração e depois nós editamos e mixamos com o áudio original do filme ou do programa de televisão, ou no caso de festival de cinema ou peça de teatro, essa audiodescrição é feita ao vivo na sala do espetáculo. Então montamos uma cabine com revestimento de isolamento acústico e com esse roteiro da audiodescrição em mãos a gente faz ao vivo, simultânea à apresentação do espetáculo ou do filme. E a pessoa com deficiência visual retira na entrada do cinema ou do teatro um aparelhinho receptor, um fone de ouvido, onde ele vai receber então essa narração. A audiodescrição vem substituir o acompanhante que ia, eventualmente, no cinema ou numa peça de teatro, e ficava cochichando para os cegos o que estava acontecendo na cena. 

E: A audiodescrição, além dessa questão inclusiva do deficiente visual ao ambiente artístico, ela também possibilita uma rede de empregos, como audiodescritor roteirista, audiodescritor narrador, audiodescritor revisor, roteirista de legendas... Como é feita essa capacitação?
M: Hoje a gente tem o audiodescritor roteirista, que é a pessoa responsável por estudar a obra e criar a narrativa de uma forma que interaja com o filme. Aí você tem o audiodescritor roteirista, depois você tem o audiodescritor narrador, mas é importante destacar também o trabalho do revisor. A gente faz uma revisão cognitiva desse roteiro, que é com uma pessoa cega. O audiodescritor narrador vai fazer ou dentro do estúdio ou ao vivo na cabine. A gente trabalha com atores para poder fazer esse papel do narrador.

E: Maurício, queria agradecer mais uma vez pela sua participação e explicação sobre audiodescrição, essa técnica tão importante para a integração dos deficientes visuais. Muito obrigada. 
M: Eu agradeço o espaço, só complementar - ela também beneficia a pessoa com deficiência intelectual e pessoas com dislexia. Então, só tenho que agradecer o espaço e difundir e divulgar a audiodescrição como um recurso importantíssimo. 

E: Eu conversei com Maurício Santana, publicitário, professor de audiovisual e diretor da Iguale Comunicação de Acessibilidade, sobre a técnica de audiodescrição.

Fonte: Blog da Audiodescrição (http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/2013/08/diretor-iguale-radio-agencia-nacional.html)

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