Faltando exatamente 439 dias para os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, os atletas correm contra o tempo em busca da chance de conquistar novas medalhas e provar a representatividade brasileira nos esportes. Serão 12 dias de disputa, 23 modalidades, 528 provas e mais de 4.000 atletas mostrando grandes histórias de superação. E para chegar ao tão desejado pódio, todo apoio e orientação fazem a diferença.
Há 57 anos, o Clube dos Paraplégicos de São Paulo atua exatamente como esse trampolim para novos talentos, dando oportunidade para os
portadores de deficiência mostrarem que o esporte pode ser transformador, ajudando-os a deixar de lado as dificuldades e o preconceito. O CPSP é um espaço aberto, com técnicos e professores especializados em cada modalidade, responsáveis por orientar os atletas e preparar treinos semanais, com o objetivo de formar equipes fortes para campeonatos nacionais e internacionais. Além do trabalho físico, os membros do CPSP também passam por um processo de inclusão social, trocando obstáculos emocionais por pontos, recordes e cestas.
Podem fazer parte do CPSP pessoas entre oito e 80 anos, através de indicação de algum órgão ou instituição pública da área da saúde ou apresentando-se pessoalmente no local. O clube é uma organização sem fins lucrativos e conta com parceiros, como o Instituto GVT, para seguir com o projeto. (Reprodução/Facebook)
Esthefany de Oliveira Rodrigues, dona de mais de 40 medalhas com apenas 16 anos, conta que começou a competir na natação em 2012 e que conheceu o projeto desenvolvido pelo CPSP através de seu técnico Welington Gama. “Foram e continuam sendo muito importantes para minha carreira”, afirma a atleta, que em pouco menos de um ano dentro das piscinas já estava sendo convocada para a Seleção Brasileira de Jovens. Atualmente, Esthefany divide sua rotina entre estudos e muito treino. A nadadora está no segundo ano do ensino médio e treina de segunda a sábado. Ela conta que começou no esporte por recomendação médica, para ajudá-la a se desenvolver e desde então não quis mais deixar as raias e principalmente os pódios, “Não sou anã. Tenho displasia epifisária, uma escoliose em “S” na coluna acima de 60 graus. A natação para mim trouxe muitas mudanças, pois antes eu só ficava em casa e tinha muitas dificuldades para andar. Hoje, com o esporte, minha vida mudou completamente, viajo com as competições, conheço muitas pessoas, lugares, tenho mais ânimo e cada vez mais vontade de ir longe!”.
Neste momento, Esthefany mantém o foco no Mundial de Natação em Glasgow, Escócia, que acontecerá agora em julho. Já em agosto, a atleta viaja mais uma vez para participar do Parapan em Toronto, Canadá. (Reprodução/Facebook)
A mesma empolgação é dividida pela nadadora Paloma Garcia Sampaio, outra grande promessa para 2016. A atleta tem 22 anos e deu seu primeiro mergulho aos seis, fazendo hidroterapia. Aos oito anos entrou para a natação e nunca mais abandonou as competições. Assim como Esthefany, a
atleta chegou ao CPSP através de seu treinador, “Em 2008, eu competia pela PPP (Projeto Próximo Passo), mas já treinava com meu técnico Welington Gama. Como ele era técnico do CPSP, foi natural a minha ida ao clube, no início de 2010”. Nesses quase 15 anos como nadadora, Paloma já garantiu quatro medalhas (duas de ouro e duas de bronze) no Parapan de Bogotá, em 2009; foi recordista americana nos 100 metros peito; levou uma medalha de prata no Mundial de Jovens da República Tcheca, em 2010; e conquistou o 5º lugar no Parapan de Guadalajara, em 2011. É claro que tantas conquistas como essas só poderiam ser alcançadas com muita determinação, “Amo muito o que faço. Treino todos os dias, por três horas, e acabei de chegar de um treinamento de 10 dias no Colorado, EUA”, contou a atleta.
Paloma está se preparando para conquistar mais medalhas no Mundial de Glasgow e também está focada no Parapan de Toronto. (Reprodução/Facebook)
Mas por trás de todas essas grandes vitórias, também existe outro nome: Sérgio Seraphim Del Grande, o fundador do Clube dos Paraplégicos de São Paulo. Sérgio sofreu um acidente quando ainda estudava no Colégio Arquidiocesano, em São Paulo, durante uma partida de futebol. Seu primeiro contato com o
esporte sobre cadeira de rodas aconteceu durante seu período de tratamento nos Estados Unidos. Foi lá que ele conheceu a Pan-An Jets, equipe de basquetebol formada pelos funcionários deficientes da empresa de aviação Pan-Ann, e descobriu o basquete para
cadeirantes.
Del Grande voltou para o Brasil, depois de passar mais de um ano no exterior e, em 1957, deu um grande salto para a inclusão do esporte em cadeiras de rodas no Brasil. Com o apoio do Dr. Renato Bonfim, um dos fundadores da AACD, ele trouxe para o país os ágeis movimentos dos jogadores da equipe Pan-An Jets e naquele mesmo ano conheceu Balmer, o homem que o ajudou a reunir a primeira equipe de basquete para deficientes em São Paulo. Não foi uma tarefa fácil encontrar os atletas, mas logo no ano seguinte, os Azes da Cadeira de Rodas já estavam completos e realizando sua primeira apresentação no Ginásio de Esportes Baby Barione.
Mais de cinco décadas formando atletas de ponta e descobrindo novos talentos. (Reprodução/Facebook)
Desde sua fundação, o Clube dos Paraplégicos de São Paulo já formou mais de 300 equipes e foi pioneiro na criação de times na modalidade vôlei sentado. Em 2003 lançou o torneio Troféu Sérgio Del Grande, uma oportunidade de abrir as portas do esporte para todas as regiões do Brasil. Este ano, no início de junho, foi realizada a décima primeira edição do evento, com participação de 40 equipes inscritas e presença de quase 1.000 pessoas, entre atletas e acompanhantes. Os participantes competiram em oito modalidades: natação, halterofilismo, atletismo, tênis de mesa, bocha, polybat (tênis de mesa lateral), basquete em cadeira de rodas, basquete 3X3 para cadeirantes e voleibol sentado. João Antonio Bentim, presidente do CPSP, enxerga o evento como uma boa oportunidade para atletas de diferentes níveis se encontrarem, “O nosso movimento é muito carente de eventos paralímpicos. Não existem muitas competições durante o ano para atletas que ainda não obtiveram o índice. Por isso, com esse projeto, os atletas terão uma nova chance de participar”.
E o resultado do XI Troféu Sérgio Del Grande não poderia ter sido melhor para o CPSP. No atletismo masculino, o clube garantiu nove medalhas, sendo quatro delas de ouro, e ficou em 6º na classificação; já na categoria feminina, subiu no pódio em terceiro lugar, com seis medalhas, sendo três delas de ouro. Na natação masculina, o CPSP conquistou o 6º lugar na classificação, com dois ouros, e na feminina deixou os adversários para trás, com 14 medalhas, sendo oito delas de ouro, garantindo assim o primeiro lugar no pódio dessa modalidade.
Outra grande vitória aconteceu no vôlei sentado. Em uma partida contra o Clube Paineiras, fez três sets a um e garantiu medalha de ouro e o topo no pódio. (Reprodução/Facebook)
Junto nessa jornada pelo esporte está o Instituto GVT, parceiro do CPSP desde 2004 e patrocinador do Troféu Sérgio Del Grande. Ao lado do clube, a instituição reconhece a importância dessa ideia no protagonismo de portadores de deficiência, dentro e fora das competições, e na transformação física e social na vida desses atletas, “O projeto promove o treinamento de autorrendimento para atletas de ponta e a iniciação de crianças e novos atletas visando melhorar a qualidade de vida, além do desenvolvimento motor e intelectual”. Sobre esses mais de 10 anos de parceria, a instituição reforça: “O Instituto GVT acredita na transformação da vida de pessoas por meio do esporte, pensando também na reabilitação e ampliação dos horizontes das que são portadoras de deficiência”.