Instituto Nacional de Tecnologia cria aparelhos que ajudam atletas paralímpicos
Rio - Dia 23 de agosto, quando o atleta Vanderson Silva, de 29 anos, amputado da perna esquerda, entrar na arena para disputar o ouro em lançamento de disco nos Jogos Paralímpicos de Londres, cientistas estarão de olho na sua marca. São os pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia (INT). Como numa fábrica de acessórios para super-heróis, eles produziram o suporte que sustenta Vanderson nas provas. Graças ao equipamento, a performance do segundo do mundo na categoria melhorou 26%.
“Quando comecei, em 2003, com uma cadeira tosca de ferro, meu lançamento não passava dos 18 metros. Agora, com o suporte do INT, a marca é de 44m77cm. Sou campeão brasileiro e sul-americano”, festeja Vanderson. O trabalho dos cientistas é meticuloso: o aparelho de Vanderson está sendo aprimorado há quatro anos. Pensando nisso, eles já se debruçam para arrumar soluções para nossos atletas em 2016. A missão é usar a tecnologia para que os heróis paralímpicos de sete modalidades — atletismo, vela adaptada, ciclismo, esgrima, basquete, rúgby e tênis em cadeira de rodas — quebrem barreiras nos Jogos do Rio.
Vanderson Silva: segundo melhor do mundo em lançamento de disco, graças a seis horas de treinos por dia
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Em busca de verba
A encomenda ao INT foi feita pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que deve fazer mais pedidos. “Os projetos vão custar R$ 2,5 milhões e estão em fase de captação de recursos junto ao governo e à iniciativa privada”, ressalta Saul Mizrahi, da Divisão de Gestão da Produção.
O sigilo para potencializar os superpoderes é fundamental: até serem patenteados, é segredo total. Segundo Júlio Silva, chefe da Divisão de Desenho Industrial do instituto, são três anos de estudos até que os projetos ganhem uma patente. “Tecnologias assistivas, para melhorar o rendimento de atletas com deficiências, exigem muitos estudos. Um milímetro errado na estrutura de um equipamento, pode representar uma medalha perdida”, compara.
Seis horas de treino por dia e gasto com suprimentos maior que salário
Vanderson sai de casa, em Niterói, às 4h. Coloca as muletas no carro adaptado e dirige até a Vila Olímpica de Mato Alto, em Jacarepaguá. Ele também trabalha em departamento de transportes no Centro do Rio. Sua motivação tem nome e número: Issa Al Jahwari e os 54 mm que o separam do recorde do atleta árabe. “Quero ser o melhor do mundo”, resume.
De origem humilde, Vanderson Silva, um dos 35 atletas paralímpicos brasileiros que vão a Londres, perdeu a perna aos 15 anos, atropelado por trem em Barra Mansa. Ele começou a praticar o esporte em 2003, através da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef). Em 2007, conheceu o o INT. O atleta, que já passou fome, ganha pouco mais de R$ 1.500 e não tem patrocínio. Algumas lojas doam suprimentos alimentares. “Sua força de vontade contagia”, elogia o técnico Fernando Barbosa.
Escâner a laser em 3D é o aliado dos cientistas
No INT, há aparelhos de última geração, que medem cada milímetro dos músculos dos atletas. Quarta-feira, Vanderson passou a tarde em escâner gigante 3D a laser, único na América Latina. A tecnologia do INT não mira só no pódio. Está presente também no dia a dia de alunos da Escola Municipal Paulo Freire, em Niterói. Lá, jovens com deficiências físicas praticam, desde abril, rugby em cadeiras de rodas adaptadas. Há modelo para quem joga no ataque e na defesa. Graças a patrocíno da Fundação de Amparo à Pesquisa (Faperj), 10 foram produzidas.
“Nossa meta é alcançar toda rede pública de ensino do estado”, diz Maria Carolina Santos, coordenadora do projeto ‘Eu Jogo Rugby. E Você?’. O esporte volta às Olimpíadas em 2016. “A autoestima dos alunos portadores de deficiência foi recuperada e eles participam de várias outras atividades”, comenta Nelma Pintor, coordenadora de Educação Especial do município.
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