quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MEDICINA ESPORTIVA

A Medicina do Esporte ou Medicina Esportiva é uma especialidade
reconhecida no Brasil pela Associação Médica Brasileira,
pelo Conselho Federal de Medicina e pela Comissão Nacional de
Residência Médica.
É uma das especialidades médicas mais antigas, uma vez que há
relatos de 1.550 a.C. do uso clínico da atividade física e do exercício
físico. Na antiga Grécia, por exemplo, foi construído próximo
a Atenas um hospital que entre outros setores contava com um
ginásio de esportes.
Várias são as definições que têm sido propostas para a Medicina
do Esporte. A Federação Internacional de Medicina do Esporte
(FIMS), por exemplo, adotou em 1977 a seguinte definição:
“Medicina do Esporte é uma especialidade que inclui segmentos
teóricos e práticos da medicina com o objetivo de investigar
a influência do exercício, do treinamento e do esporte sobre as
pessoas sadias ou doentes, com a finalidade de prevenir, tratar
e reabilitar.”
É importante ressaltar que a Medicina do Esporte não lida somente
com atletas de alto rendimento. Esse é apenas um dos
segmentos da especialidade. Talvez o termo “Medicina do Exercício
e do Esporte” seja mais elucidativo. Assim, utiliza-se também
o exercício como instrumento de prevenção primária (por
exemplo, programas de exercícios para indivíduos aparentemente
saudáveis; prevenção de lesões ortopédicas) e secundária (por
exemplo, programas de reabilitação cardiovascular e pulmonar;
reabilitação de lesões ortopédicas); como instrumento de diagnóstico
e avaliação (por exemplo, o teste de esforço clínico; o
teste de exercício cardiopulmonar; ou a avaliação clínica de um
atleta); e como coadjuvante no tratamento de doenças cronicodegenerativas
(por exemplo, programas de exercícios para cardiopatas,
pneumopatas, obesos, diabéticos, etc). Por uma série
de mecanismos, o exercício auxilia também melhorando o prognóstico
em uma série de situações clínicas.
Em suma, a Medicina do Esporte é uma especialidade que trabalha
com um conteúdo específico, não contemplado ou apenas
parcialmente contemplado em outras especialidades médicas,
utilizando o exercício e a atividade física como instrumentos de
promoção da saúde e da qualidade de vida.
A medicina do Esporte é muito freqüentemente referida como a
especialidade médica do terceiro milênio. Apesar dos avanços
tecnológicos, que trazem recursos cada vez mais sofisticados
para diagnóstico cada vez mais precoce e tratamento não-invasivo
e / ou invasivo cada vez mais eficiente para um série de
doenças que antes eram incuráveis ou de controle mais difícil,
a medicina do terceiro milênio aponta de forma inevitável para
a prevenção. Este não pretende ser um discurso idiossincrásico
contra a medicina curativa: somente pretende colocar as medicinas
curativas e preventiva nos seus verdadeiros locais e tem a
intenção de chamar a atenção para a importância desta para
que aquela possa se ocupar melhor com as condições causadas
por traumatismo ou as não-traumáticas não-preveníveis.
Evidências científicas cada vez mais consistentes têm mostrado
a atividade física regular como capaz de reduzir a incidência
e/ou atuar como importante coadjuvante no tratamento de doenças
não somente cardiovasculares, mas também pulmonares,
metabólicas, gastrintestinais, hematológicas, oncológicas,
neurológicas, do aparelho locomotor, renais, psiquiátricas, etc.
a atividade física não pretende se apresentar como uma panacéia.
Mas é importante reconhecer nas discussões científicas a
verdadeira importância da atividade física, freqüentemente tão
ou mais importante do que o tratamento farmacológico, e não
apenas incluí-la de modo secundário na categoria das “medidas
higieno-dietéticas”.
Há evidências de que a prevenção através da atividade física
possui também uma relação custo/benefício extremamente favorável
do ponto de vista econômico. Os indivíduos fisicamente
ativos adoecem menos, e se adoecerem o fazem com menor
gravidade; se tiverem que ser internados, terão em média um
menor período de permanência hospitalar. Em outras palavras:
para a equipe econômica de um governo – federal, estadual ou
municipal – promover a atividade física na população fará com
que se economize muito mais a médio e longo prazos do que se
gastaria nessa promoção.
Os idosos ativos são mais independentes – é sempre importante
lembrar que com o declínio fisiológico que sofre a capacidade
funcional com a idade, muitos idosos mal são capazes de executar
tarefas do seu cotidiano, como a própria higiene – o que se
reflete na sua qualidade de vida. Fatores culturais – entre outros
– se encarregam de acentuar esse declínio.
Em países mais populosos, mais de uma centena de milhar de
indivíduos falecem a cada ano simplesmente por serem sedentários,
o que equivale em média a mais de 10% das mortes. O
sedentarismo tem prevalência superior a 70% em muitos países.
Esta prevalência cresce na população mais idosa, em grande
parte por fatores culturais. Infelizmente ainda as estranho para
muitos indivíduos –inclusive de bom padrão cultural – a idéia de
promover a atividade física para idosos; exercícios predominantemente
aeróbico ainda são mais aceitos, mas quando se fala
em contemplar outros componentes d aptidão física – como flexibilidade,
força e endurance musculares – qualidades tão importantes
no cotidiano, a aceitação não é tão automática. Também
é necessário incluir na mentalidade da população em geral,
inclusive dos profissionais da área de saúde, a noção de que a
prevenção da grande maioria das doenças deve ser iniciada na
infância. A formação – por exemplo – de uma placa aterosclerótica
coronariana, que em algum momento poderá causar um
infarto agudo do miocárdio, tem início na vida pré-natal e a sua
evolução ao longo da vida dependerá de uma série de fatores
inter-relacionados.
É pouco freqüente que profissionais da área de saúde questionem
os seus pacientes sobre a prática regular de atividade física
ou trabalhem para promovê-la. Atualmente esta realidade esta
mudando com a implantação nos cursos de medicina, de uma
disciplina com conteúdo especifico de Medicina do Exercício e
do Esporte, que são muito importantes para mudar esta mentalidade.
É importante que, para a população em geral, a atividade física
se torne um hábito tão comum e automático quanto a higiene
pessoal ou a alimentação. Para isto, é interessante que várias
frentes sejam contempladas. A inclusão de conteúdo especifico
sobre atividade física nos cursos de graduação da área de saúde,
acrescentará esta idéia à mentalidade dos profissionais de
saúde do terceiro milênio. A presença de ações governamentais
e não governamentais para a implementação de programas de
atividade física orientada (Ex: Bosque dos namorados, calçadão
da praia dos artistas, calçadão de Ponta Negra, etc), facilitará
e democratizará a prática de exercícios à população em geral,
independente da sua condição socioeconômica. A ação de organizações
não-governamentais que lutam por tantas causas
justas auxiliará os governos a mais rapidamente disponibilizar
a atividade física orientada a um maior número de brasileiros.
O fantástico poder de divulgação e difusão de informações da
mídia fará com que esta mensagem chegue a todos os cantos do
país, ajudando a tornar mais natural na cabeça de todos a idéia
da prática regular de atividade física.
Finalmente, é importante lembra que raríssimas são as condições
que contra-indicam a prática de exercícios de caráter não
–competitivo. A prática orientada de atividade física possui relações
risco/benefício e custo/benefício extremamente favorável,
e é capaz de beneficiar a enorme massa de brasileiros, independente
de idade, sexo, condição socioeconômica ou qualquer
outra característica. Cabe a nós, que acreditamos nessa
idéia, promovê-la.
Roberto Vital
Especialista em Medicina Esportiva
Diretor Médico do Comitê Paraolímpico Brasileiro
Médico da UFRN

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