sábado, 13 de outubro de 2012

A evolução da acessibilidade



O arquiteto e urbanista José Antonio Lanchoti foi convidado pelo governo federal a integrar a equipe técnica de vistoria dos aeroportos para Copa de 2014

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Envolvido, por acaso, com as questões de acessibilidade para pessoas com deficiências, o arquiteto e urbanista José Antonio Lanchoti especializou-se nesta área, o que lhe rendeu convites de diferentes órgãos federais para integrar a equipe técnica de vistoria dos aeroportos para a Copa de 2014. A seguir, acompanhe a entrevista do portal da Revide com o profissional, sobre esse tema.

Há quanto tempo atua na área de acessibilidade? Alguma motivação especial para isso?
Lanchoti - Atuo nesta área desde 1993. Tudo começou com um simples exercício feito com meus alunos. O resultado deste trabalho virou uma apresentação na APAE de Barretos, onde recebi um abraço de uma criança como agradecimento, e nunca mais esqueci aquele “muito obrigado”. Não tinha a menor noção da quantidade de avanços nesta área que eu poderia ajudar a introduzir e, de lá para cá, foram diversos trabalhos junto ao CREA, a seis Ministérios (Cidades, Educação, Turismo, Ciência e Tecnologia, Casa Civil e Direitos Humanos), à Caixa Econômica Federal, ao Banco do Brasil, a Petrobrás, ao Ministério Público (Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Distrito Federal) e a Rede Globo, etc.  

O que nota de avanços / retrocessos nesta área em Ribeirão Preto?
Lanchoti 
- Vejo total avanço nesta área em todo o Brasil e também em Ribeirão Preto. No Brasil, além do Plano Brasil Acessível, construído com a coordenação do ribeirãopretano arquiteto e urbanista Augusto Valéri, temos todas as Leis e Decretos atuais, a aprovação da Convenção da ONU dos Direitos das Pessoas com Deficiência e, mais recentemente, o Plano da Presidente Dilma “Viver sem Limites”. Em Ribeirão Preto demos o primeiro passo em 1996, com a implantação de 900 rampas de acesso, quase todas no quadrilátero central. Fizemos naquele ano a 1ª Semana de Promoção e Integração da Pessoa com Deficiência, mas tudo foi feito com muito sacrifício, porque era um assunto muito novo, embora real e simpático a todos. Verificamos, nestes últimos três anos, um grande avanço com a exigência de implantação de rampas de acesso em todos os novos empreendimentos, em todas as obras públicas e, finalmente, a adequação das rampas do centro da cidade. Mais de mil rampas e passagens em nível serão feitas ou refeitas no quadrilátero central para garantir a acessibilidade. Teremos também as duas primeiras academias ao ar livre acessíveis às pessoas com deficiência. Já estamos com quase 90% das escolas acessíveis e o externo destas escolas está sendo também contemplado. Temos agora o compromisso de criação de uma comissão especial de avaliação da acessibilidade que buscará esclarecer para qualificar as obras de acessibilidade. Só avanços. 

Como foi ser convidado por três órgãos a integrar o Grupo Técnico de vistoria dos aeroportos?
Lanchoti 
- Em uma reunião com o Diretor de Acessibilidade e Planejamento Urbano do Ministério das Cidades, que conheceu um trabalho que fiz sobre a acessibilidade do centro histórico do Rio de Janeiro, e o levantamento físico da acessibilidade das cidades que serão sede da Copa de 2014 (trabalho feito em 2010 e que gerou 6 livros), ele ficou interessado e me fez o convite. Quando o meu nome foi levado à Secretaria dos Direitos Humanos, já me conheciam e o meu nome foi referendado. No Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil - CAU/BR - fui indicado porque o presidente já conhecia o meu trabalho.  

Qual é exatamente o trabalho que o grupo está realizando?
Lanchoti 
- O grupo desenvolveu um check list sobre a aplicação da NBR9050 e o Decreto Federal nº. 5.296/04 e os técnicos avaliam as condições técnicas do atendimento a estes parâmetros, garantindo os serviços prestados nos aeroportos às pessoas com deficiência.

Qual é exatamente a sua função dentro do Grupo Técnico?
Lanchoti
 - Sou apenas um membro do grupo, não há nenhuma distinção sobre as ações de cada um. Todos fazem este trabalho. Somos técnicos representando, oficialmente, o CAU, o CREA, o Ministério das Cidades, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, a Infraero e a Casa Civil. Quais aeroportos já foram visitados? E quais ainda faltam?Lanchoti  - Já foram visitados os aeroportos de Brasília, Fortaleza e Belo Horizonte (Confins). Os próximos serão Galeão, Guarulhos, Salvador e Recife (até meados de novembro). Ficarão ainda para se definir agenda os de Manaus, Cuiabá, Natal, Porto Alegre e Curitiba. 

O que encontraram nessas visitas?
Lanchoti
  - Percebe-se desconhecimento técnico em vários momentos. Encontramos banheiros supostamente adaptados, mas totalmente fora das normas técnicas. Também falta treinamento de funcionários, informativos em braile e capacitação para interprete de Libras. Outro detalhe muito comum é a falta de investimento para levar os usuários de cadeira de rodas até dentro das aeronaves, seja por qualquer modelo de deslocamento. 

O que vem de trabalho pela frente? Acha que será possível cumprir prazos?
Lanchoti - Sim, com certeza. O problema que vejo é a qualidade dos serviços que estaremos oferecendo. Temo estarmos perdendo a maior oportunidade que o Brasil já teve para deixar um legado na área da acessibilidade. Muitos avanços estão acontecendo, mas estamos falando de um Brasil que não tinha quase nada nesta área, e que agora irá receber as duas maiores festas esportivas do planeta. Os avanços poderiam ser muito maiores, mas serão minimizados por burocracia, pela falta de técnicos empenhados e pela ausência de domínio político das decisões. É pena que isso esteja acontecendo. Gostaria muito de estar errado. Os prazos serão cumpridos, volto a afirmar, mas com qualidade mínima. 

No aeroporto de Ribeirão Preto, o que precisa ser feito?
Lanchoti -
 Nesta área até que avançaram muito (apesar que não se tinha nada). Há banheiros, funcionários treinados (educados e receptivos, principalmente na Passaredo), mas o embarque é, literalmente, uma grande “rodoviária”. É lamentável a distância de embarque e desembarque do portão, e a idade do ônibus é vergonhosa. Ribeirão Preto merece uma condição muito melhor. Acreditamos que, agora, com a ampliação do aeroporto, finalmente, possamos sonhar com um equipamento digno do montante econômico que nos rodeia. Um detalhe que o Leite Lopes poderia ter, e fácil de resolver, são as poltronas para obesos. É constrangedora a condição deste público quando tenta descansar no saguão de espera. Outra questão básica é a informação de embarque apenas pelo autofalante, pois os passageiros surdos não têm a informação. 

Texto: Yara Racy
Foto: Arquivo

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