A psicóloga Morgana Masseti, coordenadora do Centro de Estudos "Doutores da Alegria", avaliou a influência do grupo de palhaços sobre os profissionais de saúde em sua tese de mestrado e verificou que médicos e enfermeiras tornaram-se mais abertos ao conviverem com os "clowns".
Os profissionais de saúde são estimulados a brincar e levar alegria
para os pacientes, abrindo uma conexão com seu lado emocional. "Eles
percebem que podem tentar outra abordagem do paciente", afirma a psicóloga.
Os palhaços são vistos como pessoas que mudam a rotina do hospital,
afirma a psicóloga na tese. "Depois deles, pudemos pintar a parede,
fazer um monte de coisas que não podíamos fazer antes", disse
um médico no estudo.
O grupo, formado por atores especializados no teatro "clown" (mágica,
malabarismo, mímica, improvisação e música), é
pioneiro na aplicação do humor como recurso para auxiliar crianças
a superar o trauma de internações.
Especialista em psicologia hospitalar, Morgana reuniu um grupo de palhaços
e profissionais de saúde e colheu seus depoimentos, bases para o trabalho,
cujo título é "Boas Misturas". Em um primeiro estudo,
o "Soluções de Palhaço", já havia verificado
a melhora dos pacientes depois da atuação dos "Doutores da
Alegria".
Para Morgana, o principal problema dos profissionais de saúde está
em não valorizar pequenas ações que nada têm a ver
com a técnica médica, mas que podem ajudar o paciente . "Uma
série de problemas que ocorrem no hospital, como depressão, tem
relação com nossa incapacidade de estabelecer uma relação
com o paciente."
Hoje, os "Doutores da Alegria" dão cursos para residentes de
pediatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Fonte: Folha de SP, Caderno cotidiano,São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001
Blog do Prof de Ed. Física MSc SERGIO CASTRO,da Pós Graduação em Educação Especial e Tecnologia Assistiva da Universidade Cândido Mendes(AVM) ;Ex-professor da Universidade Estácio de Sá e Ex-Coordenador de Esportes para Pessoas com Deficiências (PcD) do Projeto RIO 2016 da SEEL RJ ,destinado a fornecer informações sobre pessoas com deficiência(PcD) e com Necessidades Educativas Especiais(PNEE), bem como a pessoas interessadas nesta área ( estudantes, pais, parentes, amigos e pesquisadores)
domingo, 31 de maio de 2009
Brasil conhece as 12 cidades que receberão partidas da Copa de 2014
São escolhidas Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá
GLOBOESPORTE.COM
Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá verão ao vivo a Copa do Mundo de 2014. As 12 cidades-sede foram anunciadas pelo presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, em reunião do comitê da entidade em Nassau (capital das Bahamas), neste domingo.
vejam mais sobre as cidades escolhidas em : http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL1177312-9825,00.html
As outras concorrentes eram Florianópolis, Goiânia, Campo Grande, Belém e Rio Branco. Portanto, as quatro candidatas do Nordeste e as três do Sudeste conseguiram ver seus projetos aprovados. Cuiabá levou a melhor sobre Campo Grande na disputa pela vaga do Pantanal, e Manaus superou Belém na briga pela sede da Amazônia.
O próximo passo para as escolhidas será num seminário de 8 a 10 de junho, no Rio de Janeiro. Os projetos serão analisados mais detalhadamente e, em função dos relatórios da Fifa realizados durante as inspeções, possíveis alertas serão feitos.
- Essas 12 cidades já terão um quadro do que terão de fazer especificamente quanto a estádios. Vamos nos reunir com as cidades e com algumas pessoas do Governo Federal, para encaminhar o projeto. Agora é que está começando efetivamente a Copa do Mundo, portanto se iniciam também as cobranças - afirmou Ricardo Teixeira, em entrevista ao SporTV.
Esta é a segunda vez que o Brasil recebe uma Copa do Mundo. Em 1950, o país foi vice-campeão ao ser derrotado pelo Uruguai na decisão, no Maracanã, estádio que mais uma vez deverá receber o jogo final.
Cronologia
A corrida para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 começou em maio de 2007, quando as cidades concorrentes - 21 na época - apresentaram seus projetos à CBF. Em agosto do mesmo ano, a Fifa realizou a primeira inspeção em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, elaborando um relatório positivo a respeito delas.
Candidato único, o Brasil foi escolhido como a sede do Mundial em 30 de outubro de 2007, em anúncio em Zurique, na Suíça. Durante o ano de 2008, especulou-se se seriam dez ou 12 cidades-sede no torneio. Em janeiro passado, Joseph Blatter confirmou que seriam 12 e justificou sua decisão pela dimensão continental do Brasil. No fim do mesmo mês, iniciaram-se as inspeções da Fifa às 17 cidades candidatas.
GLOBOESPORTE.COM
Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá verão ao vivo a Copa do Mundo de 2014. As 12 cidades-sede foram anunciadas pelo presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, em reunião do comitê da entidade em Nassau (capital das Bahamas), neste domingo.
vejam mais sobre as cidades escolhidas em : http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL1177312-9825,00.html
As outras concorrentes eram Florianópolis, Goiânia, Campo Grande, Belém e Rio Branco. Portanto, as quatro candidatas do Nordeste e as três do Sudeste conseguiram ver seus projetos aprovados. Cuiabá levou a melhor sobre Campo Grande na disputa pela vaga do Pantanal, e Manaus superou Belém na briga pela sede da Amazônia.
O próximo passo para as escolhidas será num seminário de 8 a 10 de junho, no Rio de Janeiro. Os projetos serão analisados mais detalhadamente e, em função dos relatórios da Fifa realizados durante as inspeções, possíveis alertas serão feitos.
- Essas 12 cidades já terão um quadro do que terão de fazer especificamente quanto a estádios. Vamos nos reunir com as cidades e com algumas pessoas do Governo Federal, para encaminhar o projeto. Agora é que está começando efetivamente a Copa do Mundo, portanto se iniciam também as cobranças - afirmou Ricardo Teixeira, em entrevista ao SporTV.
Esta é a segunda vez que o Brasil recebe uma Copa do Mundo. Em 1950, o país foi vice-campeão ao ser derrotado pelo Uruguai na decisão, no Maracanã, estádio que mais uma vez deverá receber o jogo final.
Cronologia
A corrida para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 começou em maio de 2007, quando as cidades concorrentes - 21 na época - apresentaram seus projetos à CBF. Em agosto do mesmo ano, a Fifa realizou a primeira inspeção em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, elaborando um relatório positivo a respeito delas.
Candidato único, o Brasil foi escolhido como a sede do Mundial em 30 de outubro de 2007, em anúncio em Zurique, na Suíça. Durante o ano de 2008, especulou-se se seriam dez ou 12 cidades-sede no torneio. Em janeiro passado, Joseph Blatter confirmou que seriam 12 e justificou sua decisão pela dimensão continental do Brasil. No fim do mesmo mês, iniciaram-se as inspeções da Fifa às 17 cidades candidatas.
NOVA GERAÇÃO - AS ALTERAÇÕES EM RELAÇÃO ÀS GERAÇÕES ANTERIORES
Vejam o excelente artigo de SIDNEI DE OLIVEIRA sobre o relacionamento das gerações anteriores e as atuais:
http://kantu.mkt9.com/ver_mensagem.php?id=H|652|19297|123455358390071800
Tenho compartilhado pensamentos e reflexões através de crônicas e artigos.
Agradeço cada mensagem de apoio e também cada convite para acrescentar mais amigos em minha lista de emails.
Muitos leitores tem me questionado sobre um tema que tenho estudado com muita profundidade, que apresento em minhas palestras e workshops e que será objeto de meu próximo livro - GERAÇÃO Y - A era das conexões - tempo de relacionamentos.
Assim, além de enviar minhas crônicas, estarei regularmente enviando também, artigos sobre o tema Geração Y, inaugurando assim um novo debate com meus leitores.
O primeiro artigo tem o título:
DÁ PARA ENTENDER A GERAÇÃO Y?
Não há como ficar impassível diante da nova geração, conhecida como geração Y (nascidos a partir de 1980 ).
Ansiedade, impaciência, arrogância, egoísmo...
São vários os adjetivos que, pais, professores e líderes experientes estão usando para classificar a nova geração de jovens que assumem cada dia mais, as posições de destaque na sociedade.
Porque eles são tão questionadores? Como eles conseguem manter o foco em tantas coisas simultaneamente? Como estimulá-los e guiá-los em seu futuro?
Muitas dúvidas e especulações tem desafiado pessoas das gerações que antecederam a Geração Y.
Líderes de empresas encontram dificuldades em atrair, reter e desenvolver os novos profissionais que estão chegando.
Pais vivem numa relação de constante tolerância e desaprovação nas escolhas de seus filhos.
Professores se sentem ameaçados por alunos que demonstram maior domínio de suas matérias ou mais habilidade em obter informações.
A energia e habilidades que eles apresentam estão assustando pais, professores e líderes, que acabam agindo de forma conservadora, adotando modelos de liderança ultrapassados e com isso, bloqueando toda criatividade e inovação.
Precisamos fazer algumas reflexões sobre a Geração Y e estabelecer uma relação histórica com as gerações anteriores.
Que características e que fatores históricos e culturais influenciaram o comportamento e a educação dos jovens em suas respectivas gerações?
Como surgiu a Geração Y ?
Modelos baseados nos comportamentos gerados pelas novas tecnologias no decorrer dos últimos 50 anos, provocaram profundos impactos nesta geração, principalmente agora que ela atingem o primeiro estágio da vida adulta.
É necessária uma nova abordagem para o entendimento da Geração Y, com modelos práticos de comportamentos de gestão e de educação. É muito importante estabelecer um novo papel para os lideres de gerações anteriores, diante da inequívoca força de transformação, que a nova geração está promovendo na sociedade.
Neste novo cenário AS PERGUNTAS MUDARAM, por isso as respostas que os pais, os professores e os lideres tem não servem mais.
O modelos de lideranças que eram certos e garantidos tem produzidos resultados equivocados e negativos, enquanto que práticas consideradas erradas até a pouco tempo, estão sendo reavaliadas diante de resultados positivos.
Precisamos fazer novas perguntas, uma delas é: COMO LIDERAR A GERAÇÃO Y?
______________________________________________________________________________________________
Sidnei Oliveira
www.sidneioliveira.com.br
http://kantu.mkt9.com/ver_mensagem.php?id=H|652|19297|123455358390071800
Tenho compartilhado pensamentos e reflexões através de crônicas e artigos.
Agradeço cada mensagem de apoio e também cada convite para acrescentar mais amigos em minha lista de emails.
Muitos leitores tem me questionado sobre um tema que tenho estudado com muita profundidade, que apresento em minhas palestras e workshops e que será objeto de meu próximo livro - GERAÇÃO Y - A era das conexões - tempo de relacionamentos.
Assim, além de enviar minhas crônicas, estarei regularmente enviando também, artigos sobre o tema Geração Y, inaugurando assim um novo debate com meus leitores.
O primeiro artigo tem o título:
DÁ PARA ENTENDER A GERAÇÃO Y?
Não há como ficar impassível diante da nova geração, conhecida como geração Y (nascidos a partir de 1980 ).
Ansiedade, impaciência, arrogância, egoísmo...
São vários os adjetivos que, pais, professores e líderes experientes estão usando para classificar a nova geração de jovens que assumem cada dia mais, as posições de destaque na sociedade.
Porque eles são tão questionadores? Como eles conseguem manter o foco em tantas coisas simultaneamente? Como estimulá-los e guiá-los em seu futuro?
Muitas dúvidas e especulações tem desafiado pessoas das gerações que antecederam a Geração Y.
Líderes de empresas encontram dificuldades em atrair, reter e desenvolver os novos profissionais que estão chegando.
Pais vivem numa relação de constante tolerância e desaprovação nas escolhas de seus filhos.
Professores se sentem ameaçados por alunos que demonstram maior domínio de suas matérias ou mais habilidade em obter informações.
A energia e habilidades que eles apresentam estão assustando pais, professores e líderes, que acabam agindo de forma conservadora, adotando modelos de liderança ultrapassados e com isso, bloqueando toda criatividade e inovação.
Precisamos fazer algumas reflexões sobre a Geração Y e estabelecer uma relação histórica com as gerações anteriores.
Que características e que fatores históricos e culturais influenciaram o comportamento e a educação dos jovens em suas respectivas gerações?
Como surgiu a Geração Y ?
Modelos baseados nos comportamentos gerados pelas novas tecnologias no decorrer dos últimos 50 anos, provocaram profundos impactos nesta geração, principalmente agora que ela atingem o primeiro estágio da vida adulta.
É necessária uma nova abordagem para o entendimento da Geração Y, com modelos práticos de comportamentos de gestão e de educação. É muito importante estabelecer um novo papel para os lideres de gerações anteriores, diante da inequívoca força de transformação, que a nova geração está promovendo na sociedade.
Neste novo cenário AS PERGUNTAS MUDARAM, por isso as respostas que os pais, os professores e os lideres tem não servem mais.
O modelos de lideranças que eram certos e garantidos tem produzidos resultados equivocados e negativos, enquanto que práticas consideradas erradas até a pouco tempo, estão sendo reavaliadas diante de resultados positivos.
Precisamos fazer novas perguntas, uma delas é: COMO LIDERAR A GERAÇÃO Y?
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Sidnei Oliveira
www.sidneioliveira.com.br
sábado, 30 de maio de 2009
ALUNOS CEGOS E COM BAIXA VISÃO - LIVRO COM 88 PAGINAS VEJA
Alunos Cegos e com Baixa Visão vejao livro em : http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/769/Alunos_cegos.pdf
O Ministério da Educação, através da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, publicou no 2º semestre do passado ano de 2008 um pequeno livro intitulado “Alunos Cegos e Com Baixa Visão – Orientações Curriculares”. Trata-se de uma obra muito bem concebida que, apesar da relevância técnico-científica do assunto abordado, mostra-se de fácil leitura e compreensão ao cidadão comum. Embora se afirme virada para educadores e encarregados de educação é manifesto o interesse de que também se reveste para todos os deficientes visuais, tanto crianças como adultos.
Da nota de abertura da referida obra consta o seguinte:
“A presença de alterações nas estruturas ou funções da visão coloca limitações à realização de actividades que envolvem este sentido. Todavia, o funcionamento visual não depende apenas das condições do respectivo sistema, decorrendo também de um processo interactivo com factores contextuais, passíveis de serem manipulados com vista a minimizar barreiras à actividade e à participação.
No caso dos alunos com baixa visão ou com cegueira, muitas das barreiras com que se confrontam no contexto escolar podem ser minoradas, ou mesmo ultrapassadas no processo de ensino/aprendizagem.
Sensibilizar educadores e encarregados de educação para a importância de se proceder a avaliações especializadas no âmbito das consultas de subvisão e criar centros de recursos especializados na área da deficiência visual que funcionem como suporte e orientação aos docentes que exercem funções junto desta faixa da população escolar, constituem exemplos de medidas que o Ministério da Educação está a desenvolver, no sentido de promover a participação dos alunos com alterações nas estruturas ou funções da visão no sistema de ensino e a aquisição de competências que lhes permitam autonomia e sucesso na escola e na vida.
A presente publicação sobre Orientações Curriculares para Alunos Cegos e com Baixa Visão focaliza o currículo e a necessidade da sua expansão em algumas áreas básicas para a autonomia e integração social dos alunos, tais como as actividades da vida diária e a orientação e mobilidade.
Visa, ainda, a aquisição de competências fundamentais para o seu sucesso educativo relacionadas com o domínio da leitura e da escrita, focando aspectos fundamentais do treino de visão, do braille e das tecnologias de informação, sem descurar as estratégias a que o professor deve recorrer para melhorar os níveis de actividade e de participação do aluno nos diferentes contextos de vida”.
Este livro está publicado na Internet ocupando 88 páginas em formato PDF. Aconselho vivamente a sua consulta aqui deixando para o efeito o respectivo endereço: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Atta...
O Ministério da Educação, através da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, publicou no 2º semestre do passado ano de 2008 um pequeno livro intitulado “Alunos Cegos e Com Baixa Visão – Orientações Curriculares”. Trata-se de uma obra muito bem concebida que, apesar da relevância técnico-científica do assunto abordado, mostra-se de fácil leitura e compreensão ao cidadão comum. Embora se afirme virada para educadores e encarregados de educação é manifesto o interesse de que também se reveste para todos os deficientes visuais, tanto crianças como adultos.
Da nota de abertura da referida obra consta o seguinte:
“A presença de alterações nas estruturas ou funções da visão coloca limitações à realização de actividades que envolvem este sentido. Todavia, o funcionamento visual não depende apenas das condições do respectivo sistema, decorrendo também de um processo interactivo com factores contextuais, passíveis de serem manipulados com vista a minimizar barreiras à actividade e à participação.
No caso dos alunos com baixa visão ou com cegueira, muitas das barreiras com que se confrontam no contexto escolar podem ser minoradas, ou mesmo ultrapassadas no processo de ensino/aprendizagem.
Sensibilizar educadores e encarregados de educação para a importância de se proceder a avaliações especializadas no âmbito das consultas de subvisão e criar centros de recursos especializados na área da deficiência visual que funcionem como suporte e orientação aos docentes que exercem funções junto desta faixa da população escolar, constituem exemplos de medidas que o Ministério da Educação está a desenvolver, no sentido de promover a participação dos alunos com alterações nas estruturas ou funções da visão no sistema de ensino e a aquisição de competências que lhes permitam autonomia e sucesso na escola e na vida.
A presente publicação sobre Orientações Curriculares para Alunos Cegos e com Baixa Visão focaliza o currículo e a necessidade da sua expansão em algumas áreas básicas para a autonomia e integração social dos alunos, tais como as actividades da vida diária e a orientação e mobilidade.
Visa, ainda, a aquisição de competências fundamentais para o seu sucesso educativo relacionadas com o domínio da leitura e da escrita, focando aspectos fundamentais do treino de visão, do braille e das tecnologias de informação, sem descurar as estratégias a que o professor deve recorrer para melhorar os níveis de actividade e de participação do aluno nos diferentes contextos de vida”.
Este livro está publicado na Internet ocupando 88 páginas em formato PDF. Aconselho vivamente a sua consulta aqui deixando para o efeito o respectivo endereço: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Atta...
CEGOS E DEFICIENTES VISUAIS - Aprender a ver uma nova vida
Aprender a ver uma nova vida
Submetido em Sábado, 24/01/2009 - 20:48 por Lerparaver
Com o tema: Deficiência visual Educação Emprego Reabilitação Vida diária
Perder a visão na fase adulta. Há cada vez mais pessoas a perder a visão na fase adulta, principalmente devido a diabetes e VIH. Muitas isolam--se e fecham-se em casa, porque têm medo de cair em buracos ou chocar contra coisas. Mas a solução existe. Há técnicos que ensinam os cegos a andar em segurança e a fazer quase tudo o que é necessário para prosseguir uma vida normal, com estudos, emprego, família e vida social. "Não nos podemos entregar à doença", diz Carlos Manuel Ferreira, que tem 41 anos e cegou em 2005. Na quinta-feira, etiquetas em braile passaram a identificar os artigos que os deficientes visuais compram nos hipermercados
Técnicos ensinam pessoas a ultrapassar deficiência visual
De um momento para o outro, a vida de luz e cor de Teresa Simões mergulhou num mundo de trevas, em que tudo se resume numa palavra: cegueira. Quem perde a visão já na fase adulta considera que "é muito pior do que ter nascido cego". Ficam desorientados e perdidos, sem saberem onde estão nem para onde vão. Alguns até chegam a dizer que "a melhor coisa que podia acontecer era morrer". Mas a vida continua para além da penumbra que lhes tolda a vista. Têm de aprender a usar melhor os outros sentidos com a ajuda de pessoal técnico que os ensina a ver um novo mundo. Há cegos que conseguiram aprender tudo tão bem que garantem ter "uma vida normal como as outras pessoas".
Numa tarde de sábado, foi essa vida normal que a equipa de reportagem do DN encontrou ao entrar num apartamento da Quinta do Pinheiro, em Odivelas. Quem depara com Helena Cristina Fernandes a brincar na sala com as duas filhas gémeas está longe de imaginar que aquela mulher de 42 anos é cega. Tal como o seu marido, José Manuel Fernandes. As crianças, Marta e Márcia, de quatro anos, são normavisuais - vêem normalmente.
Lourinha e muito faladora, Marta ouve a mãe perguntar: "O que é que a mãe é ao pai?" E responde prontamente: "É marida." De grandes olhos azuis, Márcia é mais calminha que a irmã. As duas dizem que os pais, quando eram miúdos, "deviam ser muito traquinas. Caíram e ficaram mal dos olhos. Têm de ir ao médico arranjar os olhos".
Helena estava preocupada com a chegada da equipa do DN, porque tinha lá ido o técnico instalar a TV por cabo e tinha-se atrasado. "Eu gosto mais de ver a SIC Notícias, o Canal História e o National Geographic. O meu marido quer mais é o desporto e elas gostam é do Canal Panda", contou.
"Nunca vi muito bem"
A trabalhar desde há seis anos no serviço informativo do call center da Segurança Social, Helena Cristina revelou já ter avançado com um requerimento "para mudar para uma função técnica", onde possa aplicar o curso de Gestão de Recursos Humanos e Organização Estratégica, que terminou em Julho de 2008, no Instituto Superior de Línguas e Administração. Antes foi telefonista durante sete anos, no Hospital de S. José, em Lisboa.
Mas, até alcançar esta vida normal, Helena teve de lutar muito para aprender a ver de outra maneira. Algarvia de Benafim, no concelho de Loulé, recorda nunca ter visto "muito bem. Por isso, só estudei até à 4.ª classe na escola normal. Ficava mais à frente e perto da janela, para ter mais luz. A professora dava licença para me levantar e ir ver o que ela tinha escrito no quadro".
Para continuar os estudos, "tinha de ir para uma escola em Loulé. Mas não dava, porque só havia uma camioneta de manhã para ir às aulas e outra ao fim da tarde para voltar a casa. Como a essa hora já havia pouca luz, eu não conseguia ver para regressar a casa. Deixei de estudar".
Só aos 22 anos, depois de o médico Luís Cardia dizer que "não havia cura", Helena foi para o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, perto de Santa Apolónia, em Lisboa. "Estive lá seis meses em internato e, de 15 em 15 dias, ia de autocarro sozinha para o Algarve. Para aprender a viver com a deficiência, ensinaram braile, mobilidade na rua e actividades domésticas", recordou Helena, adiantando que faz "toda a lida da casa".
Depois voltou para junto dos pais, no Algarve, que vêem normalmente, tal como a irmã. "Procurei emprego durante um ano, mas não consegui, porque só tinha a 4.ª classe. Resolvi mudar-me para Lisboa e trabalhei ano e meio num lar de raparigas cegas, em Chelas. Estudei à noite em escolas de ensino normal, até terminar o 12.º ano", referiu.
"Só tive problemas nos 8.º e 9.º anos, porque a professora de História não queria cegos nas aulas dela. Mas estudei muito e tive 19,6 valores no exame. No fim, a professora deu- -me os parabéns e já me aceitava nas aulas. Depois até me escreveu uma carta em braile a pedir-me desculpa", recordou.
Na Acapo - Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal, "fiz um curso de recepcionista/telefonista. Entre 2000 e 2004 fui directora da Acapo", contou Helena, adiantando que em 2003 fez provas específicas e entrou para a faculdade.
Desde que tem as gémeas, a sua vida complicou-se um pouco, mas Helena não tardou a encontrar solução: "O infantário fica na Pontinha, mas era complicado ir de autocarro para lá e andar com as duas meninas pela mão, porque assim não podia pegar na bengala para me orientar. Então decidimos comprar um carro e pedimos a uma amiga para o conduzir e levar as meninas à escola e trazê-las a casa."
Escola inglesa foi solução
O caso do pai das gémeas, José Manuel Fernandes, de 45 anos, é menos atribulado, porque sempre viveu em Lisboa: "Aos três anos, tive um tumor raro difícil de detectar. Desenvolve-se no fundo dos olhos e os pais confundem aquilo com uma ramela. Limpam, aquilo desaparece, mas volta e vai sempre agravando. Depois já é tarde para tratar, porque se propaga rapidamente para o interior."
"Fiquei cego dos dois olhos ainda em criança", relatou José Manuel, lembrando que, para começar a estudar, em 1968, "a única solução foi uma escola inglesa. Fui o primeiro cego em Portugal a frequentar escolas de ensino normal, mas em Inglaterra isso já era comum".
Foi revisor de braile para o Ministério da Educação, deu formação profissional em braile e foi director da Acapo. Em 2001 concluiu o curso de Psicologia. Actualmente é psicólogo na Acapo.
Segundo José Manuel, "até aos anos 80, muitos cegos trabalhavam em linhas de montagem de fábricas, porque o trabalho é tão repetitivo que nem é preciso ver. Estudos até dizem que eles têm mais concentração, porque não se distraem com outras coisas. Depois automatizaram a produção, despediram-nos e eles não conseguiram arranjar outro trabalho. Passaram a pedir esmola".
"Há 12 anos a tactear"
Madalena, de 28 anos, vive na Covilhã e passou dois meses no Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa. Encontrámo-la na cozinha do centro a fazer sopa, no âmbito das aulas de actividades da vida doméstica. Além da sua visão estar abaixo dos 10%, só ouve de um ouvido.
"Desde há 12 anos - quando a visão começou a reduzir - que ando a tactear, porque nunca me indicaram este centro ou outro sítio para reabilitação", disse ao DN. "Só vejo uma área muito pequena. Não consigo ver uma pessoa inteira, mas apenas um bocadinho dela de cada vez", explicou.
"Já sou casada há sete anos e só este ano é que o meu marido se apercebeu disso, embora eu já lhe tivesse falado no meu problema logo quando começámos a namorar, há dez anos", contou.
Os seus dois filhos - uma menina de três anos e um rapaz com seis - "não têm qualquer problema de visão nem de audição", esclareceu.
"Uma pessoa não é incapaz"
No mesmo centro de reabilitação, Teresa Simões, de 40 anos, aprendeu que "uma pessoa cega não é uma pessoa incapaz". Natural de Toledo, no concelho da Lourinhã, só aos 19 anos descobriu a doença, "que se foi desenvolvendo muito lentamente. Pelos 27 anos houve uma evolução rápida, devido à morte do meu irmão", explicou.
Estudou até ao 11.º ano e desistiu por considerar que "não conseguia continuar, por ver mal", lembrou. Depois trabalhou como secretária e mais tarde como auxiliar de educação num jardim de infância, na Lourinhã, até 1996.
Nesse ano "piorei e achei que devia fazer reabilitação e começar uma vida nova, longe dali e longe de quem me conhecia. Pedi transferência para Lisboa e comecei por ter aulas no Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos".
Foi reintegrada como auxiliar na Escola Nuno Gonçalves, em Lisboa, e passou para a central telefónica da Direcção-Geral do Ensino Superior.
Salienta que "foi muito difícil o período entre descobrir a doença e cegar. Fui a muitos médicos, um disse que havia de chegar um dia e nem um café ia conseguir fazer. Isso foi muito pior do que me dizer que ia ficar cega. Afinal, consigo fazer um café e muito mais que isso".
"Ceguei em 2000. Nesse ano fui fazer o 12.º ano e, entre mais de dois mil candidatos para a Direcção de Serviços de Informação e Documentação do Ministério da Educação, fiquei em primeiro lugar. E é aqui que continuo a trabalhar", contou.
Hoje anda em passo acelerado pela rua, mas nem sempre foi assim. "Em 2002 tive um acidente. Nunca vi o Metro de Lisboa e só conhecia o do Canadá, em que as carruagens estão todas ligadas por mangas. Com a bengala à frente, detectei um espaço livre e pensei que fosse a porta. Avancei e caí entre as duas carruagens para a linha. Alguém viu, gritou e o metro não avançou. Parti o nariz."
"Fiquei com fobias e com medo de andar na rua e no metro", confessou. "Quando chegava a casa, respirava de alívio e pensava: consegui passar mais um dia e voltar sã e salva", lembrou.
"Sou muito vaidosa e dou importância à imagem. Marco os frasquinhos de verniz das unhas com fita gomada ou tiro bocadinhos dos rótulos para distinguir as várias cores", explicou Teresa.
Na sua vivenda na Quinta do Conde, onde vive sozinha, faz todas as tarefas. "Passar a ferro é fácil, porque vou tacteando para sentir se a roupa já está direita. E não pensem que alguém passa a ferro melhor do que eu", disse com um grande sorriso de orgulho.
"Não me sinto dependente e acho que estou muito bem integrada. Ando na ginástica e na hidroginástica e costumo sair com os amigos ao bar, ao teatro e à discoteca. E danço no meio da pista. Não fico lá sentada a um canto", esclareceu.
"Vejo à minha maneira"
Carlos Manuel Ferreira, de 41 anos, deixou de ver em 2005. Antes de começar a frequentar aulas de reabilitação, sentia-se completamente perdido. "Até cheguei a pensar que a melhor coisa que me podia acontecer era morrer", confessou ao DN.
Segundo explicou, o seu caso "é hereditário da parte da mãe, que ainda vê qualquer coisa". Entre quatro irmãos, dois têm problemas de visão. Os outros têm visão normal e nem usam óculos.
"Andei na escola normal, mas não conseguia ler no livro. Tinha de ir ao pé do quadro ver o que a professora escrevia. Só fiz a terceira classe", recordou, adiantando que "o médico dizia que pelos 40 anos ficaria mesmo sem ver. A visão foi diminuindo muito lentamente. Só me fui apercebendo quando comecei a tropeçar nas coisas".
Trabalhou durante 22 anos na distribuição de produtos alimentares e bebidas. No último ano de serviço, em 2005, "já não via, mas conseguia fazer o trabalho, porque já sabia de cor onde ficavam as lojas e onde tinha de ir", explicou esclarecendo que apenas vê "a claridade e o escuro. Não consigo ver a pessoa que está à minha frente". Por isso, ficou de baixa e depois passou à reforma.
"As técnicas da Acapo é que me deram a mão e me fizeram subir, desde há quatro anos. Sentia que tinha caído num buraco, quando deixei de ver", contou Carlos Manuel, considerando que, "a nível psicológico, é mais complicado uma pessoa ver e depois perder a visão. É pior do que ter nascido já sem ver". Para aprender a ser autónomo, também frequentou o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos.
Residente na Pontinha, em Odivelas, lembra que, "no início, tinha o complexo de andar de bengala. Quando me perguntavam o que tinha acontecido, eu nem sabia o que responder. Era um desconsolo tão grande"...
"Sentia-me muito mal. Ficava fechado em casa. Chegava a estar na cama e não queria ir para as aulas de reabilitação. Estava quase a desistir", conta Carlos, com um ar desolado. Agora diz ter uma certeza: "Não nos podemos entregar à doença."
Actualmente, frequenta o programa Novas Oportunidades, onde escreve num computador adaptado. "Estou a terminar a 4.ª classe e quero continuar os estudos. Também tenho aulas de carpintaria, braile e informática na Associação Portuguesa de Deficientes Visuais", revelou.
"As aulas de reabilitação deram-me uma nova visão da vida. Agora consigo ver. Vejo à minha maneira. Já fui ver teatro de revista. E gostei", frisou.
"No outro dia pedi a um vizinho para me emprestar a bicicleta dele. E andei mesmo de bicicleta, sem chocar com nada e sem pôr os pés no chão. Ele nem queria acreditar no que estava a ver", relatou Carlos Manuel, cheio de orgulho.
http://dn.sapo.pt/2009/01/24/sociedade/aprender_a_uma_nova_vida.html
Processo de reabilitação só começa depois de "fazer o luto da doença"
Milagre. "Todos os cegos têm a secreta esperança de voltar a ver", diz a directora do centro de reabilitação
Quando ficam cegas, "as pessoas chegam aqui completamente perdidas, todas encolhidas, enroscadas, quase em posição fetal para se protegerem, porque têm medo de cair ou chocar contra as coisas", diz Conceição Luís, directora do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, em Santa Apolónia, Lisboa. "São pessoas que viam normalmente e, de repente, cegaram e ficaram perdidas", referiu ao DN.
"Trabalhamos imenso na recuperação da auto-estima. No primeiro mês e meio, a nossa função principal é tirar as pessoas do buraco em que se encontram", explicou, pois "entraram em depressão e ainda não aceitam o facto de terem cegado. Têm de fazer o luto. É preciso que a pessoa aceite que está cega".
"Não posso ensinar braile nem pôr a bengala na mão de uma pessoa que ainda não assumiu que está cega", esclarece a directora do centro, revelando que "todos têm a secreta esperança de que vão voltar a ver. Acreditam que a ciência vai evoluir e resolver o problema".
Salienta que "uma pessoa só está reabilitada quando está integrada. Por isso, tentamos colocar as pessoas em postos de trabalho, através dos serviços do Instituto do Emprego e Formação Profissional. Mas é muito difícil, porque os responsáveis das empresas ainda não estão muito receptivos. O objectivo é colocá-los na função que queriam desempenhar antes de ficarem cegos".
"Se não ficarem com uma actividade, eles voltam a fechar-se em casa e a isolar-se. A solução é um emprego ou outra formação, como, por exemplo, o programa Novas Oportunidades para os que não têm a escolaridade completa", declarou.
E dá um exemplo: "Tive aqui um jovem de 20 anos, com descolamento da retina, que tinha feito várias operações e chegou a uma altura em que já não havia solução. Cegou."
"Nas aulas participava e era expert em informática. Quando não estava nas aulas, ficava fechado no quarto. Perguntámos-lhe porque se isolava assim e ele respondeu: "Quando não estou nas aulas, durmo, porque enquanto durmo sonho e enquanto sonho eu vejo", contou.
"Está a tirar um curso de programação informática e é DJ numa discoteca", revelou Conceição Luís, considerando que, "se ele fosse embora daqui sem ter uma colocação noutra actividade, acabaria por se fechar em casa e ficar outra vez perdido".
Adianta que, "normalmente, eles dizem que após terem cegado ainda conseguem imaginar as coisas às cores. Mas depois passa a ser tudo a preto e branco".
Este centro, que pertence à Segurança Social, existe há 46 anos e tem capacidade para 22 internos, que vêm de fora de Lisboa e ali permanecem durante o processo de reabilitação. Tudo é gratuito, incluindo refeições e alojamento. Quem vive na capital frequenta as aulas em regime externo.
Os períodos de reabilitação "são normalmente de três meses para utentes com baixa visão e de cinco meses a um ano para casos de cegueira total", informou a directora.
Ali ensinam mobilidade de quatro níveis, como movimentarem-se no interior do centro, na zona envolvente, nos transportes públicos e na área de residência. No programa de actividades da vida diária, a equipa de reportagem do DN encontrou Maria Bárbara na cozinha a receber formação e a confeccionar um bolo de ananás. Residente em Vila Viçosa, vê abaixo dos 10%. "Desde os 17 anos que tenho baixa visão, mas há cinco anos, devido a uma depressão, o problema agravou-se muito", contou Bárbara, que trabalhava no Centro de Saúde de Vila Viçosa, mas desde há três anos está em casa.
"Os meus filhos já são crescidos e vão-me ajudando, mas não me sentia muito bem a cozinhar e às vezes atrapalhava-me, porque não conseguia ver as coisas. Por isso vim para aqui. Agora já consigo fazer quase tudo mais à vontade", relatou, com um sorriso de satisfação.
A directora do centro revela que também acompanham os utentes "ao teatro, ao cinema e a outros eventos para perceberem que podem continuar a ter vida social".
Foram ver o filme Ensaio sobre a Cegueira, na antestreia, com auscultadores que lhes transmitiam por voz o que passava nas legendas. Salienta que, "no final do filme, um cego recupera a visão. Ficaram com aquela mensagem de esperança que os cegos podem voltar a ver".
"Gostei muito do filme. Aquele retrato das pessoas que perdem a visão de repente é mesmo o estado em que elas nos chegam aqui ao centro: completamente perdidas", observou Conceição Luís.
DANIEL LAM
Fonte: http://dn.sapo.pt/2009/01/24/sociedade/processo_reabilitacao_comeca_depo...
Submetido em Sábado, 24/01/2009 - 20:48 por Lerparaver
Com o tema: Deficiência visual Educação Emprego Reabilitação Vida diária
Perder a visão na fase adulta. Há cada vez mais pessoas a perder a visão na fase adulta, principalmente devido a diabetes e VIH. Muitas isolam--se e fecham-se em casa, porque têm medo de cair em buracos ou chocar contra coisas. Mas a solução existe. Há técnicos que ensinam os cegos a andar em segurança e a fazer quase tudo o que é necessário para prosseguir uma vida normal, com estudos, emprego, família e vida social. "Não nos podemos entregar à doença", diz Carlos Manuel Ferreira, que tem 41 anos e cegou em 2005. Na quinta-feira, etiquetas em braile passaram a identificar os artigos que os deficientes visuais compram nos hipermercados
Técnicos ensinam pessoas a ultrapassar deficiência visual
De um momento para o outro, a vida de luz e cor de Teresa Simões mergulhou num mundo de trevas, em que tudo se resume numa palavra: cegueira. Quem perde a visão já na fase adulta considera que "é muito pior do que ter nascido cego". Ficam desorientados e perdidos, sem saberem onde estão nem para onde vão. Alguns até chegam a dizer que "a melhor coisa que podia acontecer era morrer". Mas a vida continua para além da penumbra que lhes tolda a vista. Têm de aprender a usar melhor os outros sentidos com a ajuda de pessoal técnico que os ensina a ver um novo mundo. Há cegos que conseguiram aprender tudo tão bem que garantem ter "uma vida normal como as outras pessoas".
Numa tarde de sábado, foi essa vida normal que a equipa de reportagem do DN encontrou ao entrar num apartamento da Quinta do Pinheiro, em Odivelas. Quem depara com Helena Cristina Fernandes a brincar na sala com as duas filhas gémeas está longe de imaginar que aquela mulher de 42 anos é cega. Tal como o seu marido, José Manuel Fernandes. As crianças, Marta e Márcia, de quatro anos, são normavisuais - vêem normalmente.
Lourinha e muito faladora, Marta ouve a mãe perguntar: "O que é que a mãe é ao pai?" E responde prontamente: "É marida." De grandes olhos azuis, Márcia é mais calminha que a irmã. As duas dizem que os pais, quando eram miúdos, "deviam ser muito traquinas. Caíram e ficaram mal dos olhos. Têm de ir ao médico arranjar os olhos".
Helena estava preocupada com a chegada da equipa do DN, porque tinha lá ido o técnico instalar a TV por cabo e tinha-se atrasado. "Eu gosto mais de ver a SIC Notícias, o Canal História e o National Geographic. O meu marido quer mais é o desporto e elas gostam é do Canal Panda", contou.
"Nunca vi muito bem"
A trabalhar desde há seis anos no serviço informativo do call center da Segurança Social, Helena Cristina revelou já ter avançado com um requerimento "para mudar para uma função técnica", onde possa aplicar o curso de Gestão de Recursos Humanos e Organização Estratégica, que terminou em Julho de 2008, no Instituto Superior de Línguas e Administração. Antes foi telefonista durante sete anos, no Hospital de S. José, em Lisboa.
Mas, até alcançar esta vida normal, Helena teve de lutar muito para aprender a ver de outra maneira. Algarvia de Benafim, no concelho de Loulé, recorda nunca ter visto "muito bem. Por isso, só estudei até à 4.ª classe na escola normal. Ficava mais à frente e perto da janela, para ter mais luz. A professora dava licença para me levantar e ir ver o que ela tinha escrito no quadro".
Para continuar os estudos, "tinha de ir para uma escola em Loulé. Mas não dava, porque só havia uma camioneta de manhã para ir às aulas e outra ao fim da tarde para voltar a casa. Como a essa hora já havia pouca luz, eu não conseguia ver para regressar a casa. Deixei de estudar".
Só aos 22 anos, depois de o médico Luís Cardia dizer que "não havia cura", Helena foi para o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, perto de Santa Apolónia, em Lisboa. "Estive lá seis meses em internato e, de 15 em 15 dias, ia de autocarro sozinha para o Algarve. Para aprender a viver com a deficiência, ensinaram braile, mobilidade na rua e actividades domésticas", recordou Helena, adiantando que faz "toda a lida da casa".
Depois voltou para junto dos pais, no Algarve, que vêem normalmente, tal como a irmã. "Procurei emprego durante um ano, mas não consegui, porque só tinha a 4.ª classe. Resolvi mudar-me para Lisboa e trabalhei ano e meio num lar de raparigas cegas, em Chelas. Estudei à noite em escolas de ensino normal, até terminar o 12.º ano", referiu.
"Só tive problemas nos 8.º e 9.º anos, porque a professora de História não queria cegos nas aulas dela. Mas estudei muito e tive 19,6 valores no exame. No fim, a professora deu- -me os parabéns e já me aceitava nas aulas. Depois até me escreveu uma carta em braile a pedir-me desculpa", recordou.
Na Acapo - Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal, "fiz um curso de recepcionista/telefonista. Entre 2000 e 2004 fui directora da Acapo", contou Helena, adiantando que em 2003 fez provas específicas e entrou para a faculdade.
Desde que tem as gémeas, a sua vida complicou-se um pouco, mas Helena não tardou a encontrar solução: "O infantário fica na Pontinha, mas era complicado ir de autocarro para lá e andar com as duas meninas pela mão, porque assim não podia pegar na bengala para me orientar. Então decidimos comprar um carro e pedimos a uma amiga para o conduzir e levar as meninas à escola e trazê-las a casa."
Escola inglesa foi solução
O caso do pai das gémeas, José Manuel Fernandes, de 45 anos, é menos atribulado, porque sempre viveu em Lisboa: "Aos três anos, tive um tumor raro difícil de detectar. Desenvolve-se no fundo dos olhos e os pais confundem aquilo com uma ramela. Limpam, aquilo desaparece, mas volta e vai sempre agravando. Depois já é tarde para tratar, porque se propaga rapidamente para o interior."
"Fiquei cego dos dois olhos ainda em criança", relatou José Manuel, lembrando que, para começar a estudar, em 1968, "a única solução foi uma escola inglesa. Fui o primeiro cego em Portugal a frequentar escolas de ensino normal, mas em Inglaterra isso já era comum".
Foi revisor de braile para o Ministério da Educação, deu formação profissional em braile e foi director da Acapo. Em 2001 concluiu o curso de Psicologia. Actualmente é psicólogo na Acapo.
Segundo José Manuel, "até aos anos 80, muitos cegos trabalhavam em linhas de montagem de fábricas, porque o trabalho é tão repetitivo que nem é preciso ver. Estudos até dizem que eles têm mais concentração, porque não se distraem com outras coisas. Depois automatizaram a produção, despediram-nos e eles não conseguiram arranjar outro trabalho. Passaram a pedir esmola".
"Há 12 anos a tactear"
Madalena, de 28 anos, vive na Covilhã e passou dois meses no Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa. Encontrámo-la na cozinha do centro a fazer sopa, no âmbito das aulas de actividades da vida doméstica. Além da sua visão estar abaixo dos 10%, só ouve de um ouvido.
"Desde há 12 anos - quando a visão começou a reduzir - que ando a tactear, porque nunca me indicaram este centro ou outro sítio para reabilitação", disse ao DN. "Só vejo uma área muito pequena. Não consigo ver uma pessoa inteira, mas apenas um bocadinho dela de cada vez", explicou.
"Já sou casada há sete anos e só este ano é que o meu marido se apercebeu disso, embora eu já lhe tivesse falado no meu problema logo quando começámos a namorar, há dez anos", contou.
Os seus dois filhos - uma menina de três anos e um rapaz com seis - "não têm qualquer problema de visão nem de audição", esclareceu.
"Uma pessoa não é incapaz"
No mesmo centro de reabilitação, Teresa Simões, de 40 anos, aprendeu que "uma pessoa cega não é uma pessoa incapaz". Natural de Toledo, no concelho da Lourinhã, só aos 19 anos descobriu a doença, "que se foi desenvolvendo muito lentamente. Pelos 27 anos houve uma evolução rápida, devido à morte do meu irmão", explicou.
Estudou até ao 11.º ano e desistiu por considerar que "não conseguia continuar, por ver mal", lembrou. Depois trabalhou como secretária e mais tarde como auxiliar de educação num jardim de infância, na Lourinhã, até 1996.
Nesse ano "piorei e achei que devia fazer reabilitação e começar uma vida nova, longe dali e longe de quem me conhecia. Pedi transferência para Lisboa e comecei por ter aulas no Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos".
Foi reintegrada como auxiliar na Escola Nuno Gonçalves, em Lisboa, e passou para a central telefónica da Direcção-Geral do Ensino Superior.
Salienta que "foi muito difícil o período entre descobrir a doença e cegar. Fui a muitos médicos, um disse que havia de chegar um dia e nem um café ia conseguir fazer. Isso foi muito pior do que me dizer que ia ficar cega. Afinal, consigo fazer um café e muito mais que isso".
"Ceguei em 2000. Nesse ano fui fazer o 12.º ano e, entre mais de dois mil candidatos para a Direcção de Serviços de Informação e Documentação do Ministério da Educação, fiquei em primeiro lugar. E é aqui que continuo a trabalhar", contou.
Hoje anda em passo acelerado pela rua, mas nem sempre foi assim. "Em 2002 tive um acidente. Nunca vi o Metro de Lisboa e só conhecia o do Canadá, em que as carruagens estão todas ligadas por mangas. Com a bengala à frente, detectei um espaço livre e pensei que fosse a porta. Avancei e caí entre as duas carruagens para a linha. Alguém viu, gritou e o metro não avançou. Parti o nariz."
"Fiquei com fobias e com medo de andar na rua e no metro", confessou. "Quando chegava a casa, respirava de alívio e pensava: consegui passar mais um dia e voltar sã e salva", lembrou.
"Sou muito vaidosa e dou importância à imagem. Marco os frasquinhos de verniz das unhas com fita gomada ou tiro bocadinhos dos rótulos para distinguir as várias cores", explicou Teresa.
Na sua vivenda na Quinta do Conde, onde vive sozinha, faz todas as tarefas. "Passar a ferro é fácil, porque vou tacteando para sentir se a roupa já está direita. E não pensem que alguém passa a ferro melhor do que eu", disse com um grande sorriso de orgulho.
"Não me sinto dependente e acho que estou muito bem integrada. Ando na ginástica e na hidroginástica e costumo sair com os amigos ao bar, ao teatro e à discoteca. E danço no meio da pista. Não fico lá sentada a um canto", esclareceu.
"Vejo à minha maneira"
Carlos Manuel Ferreira, de 41 anos, deixou de ver em 2005. Antes de começar a frequentar aulas de reabilitação, sentia-se completamente perdido. "Até cheguei a pensar que a melhor coisa que me podia acontecer era morrer", confessou ao DN.
Segundo explicou, o seu caso "é hereditário da parte da mãe, que ainda vê qualquer coisa". Entre quatro irmãos, dois têm problemas de visão. Os outros têm visão normal e nem usam óculos.
"Andei na escola normal, mas não conseguia ler no livro. Tinha de ir ao pé do quadro ver o que a professora escrevia. Só fiz a terceira classe", recordou, adiantando que "o médico dizia que pelos 40 anos ficaria mesmo sem ver. A visão foi diminuindo muito lentamente. Só me fui apercebendo quando comecei a tropeçar nas coisas".
Trabalhou durante 22 anos na distribuição de produtos alimentares e bebidas. No último ano de serviço, em 2005, "já não via, mas conseguia fazer o trabalho, porque já sabia de cor onde ficavam as lojas e onde tinha de ir", explicou esclarecendo que apenas vê "a claridade e o escuro. Não consigo ver a pessoa que está à minha frente". Por isso, ficou de baixa e depois passou à reforma.
"As técnicas da Acapo é que me deram a mão e me fizeram subir, desde há quatro anos. Sentia que tinha caído num buraco, quando deixei de ver", contou Carlos Manuel, considerando que, "a nível psicológico, é mais complicado uma pessoa ver e depois perder a visão. É pior do que ter nascido já sem ver". Para aprender a ser autónomo, também frequentou o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos.
Residente na Pontinha, em Odivelas, lembra que, "no início, tinha o complexo de andar de bengala. Quando me perguntavam o que tinha acontecido, eu nem sabia o que responder. Era um desconsolo tão grande"...
"Sentia-me muito mal. Ficava fechado em casa. Chegava a estar na cama e não queria ir para as aulas de reabilitação. Estava quase a desistir", conta Carlos, com um ar desolado. Agora diz ter uma certeza: "Não nos podemos entregar à doença."
Actualmente, frequenta o programa Novas Oportunidades, onde escreve num computador adaptado. "Estou a terminar a 4.ª classe e quero continuar os estudos. Também tenho aulas de carpintaria, braile e informática na Associação Portuguesa de Deficientes Visuais", revelou.
"As aulas de reabilitação deram-me uma nova visão da vida. Agora consigo ver. Vejo à minha maneira. Já fui ver teatro de revista. E gostei", frisou.
"No outro dia pedi a um vizinho para me emprestar a bicicleta dele. E andei mesmo de bicicleta, sem chocar com nada e sem pôr os pés no chão. Ele nem queria acreditar no que estava a ver", relatou Carlos Manuel, cheio de orgulho.
http://dn.sapo.pt/2009/01/24/sociedade/aprender_a_uma_nova_vida.html
Processo de reabilitação só começa depois de "fazer o luto da doença"
Milagre. "Todos os cegos têm a secreta esperança de voltar a ver", diz a directora do centro de reabilitação
Quando ficam cegas, "as pessoas chegam aqui completamente perdidas, todas encolhidas, enroscadas, quase em posição fetal para se protegerem, porque têm medo de cair ou chocar contra as coisas", diz Conceição Luís, directora do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, em Santa Apolónia, Lisboa. "São pessoas que viam normalmente e, de repente, cegaram e ficaram perdidas", referiu ao DN.
"Trabalhamos imenso na recuperação da auto-estima. No primeiro mês e meio, a nossa função principal é tirar as pessoas do buraco em que se encontram", explicou, pois "entraram em depressão e ainda não aceitam o facto de terem cegado. Têm de fazer o luto. É preciso que a pessoa aceite que está cega".
"Não posso ensinar braile nem pôr a bengala na mão de uma pessoa que ainda não assumiu que está cega", esclarece a directora do centro, revelando que "todos têm a secreta esperança de que vão voltar a ver. Acreditam que a ciência vai evoluir e resolver o problema".
Salienta que "uma pessoa só está reabilitada quando está integrada. Por isso, tentamos colocar as pessoas em postos de trabalho, através dos serviços do Instituto do Emprego e Formação Profissional. Mas é muito difícil, porque os responsáveis das empresas ainda não estão muito receptivos. O objectivo é colocá-los na função que queriam desempenhar antes de ficarem cegos".
"Se não ficarem com uma actividade, eles voltam a fechar-se em casa e a isolar-se. A solução é um emprego ou outra formação, como, por exemplo, o programa Novas Oportunidades para os que não têm a escolaridade completa", declarou.
E dá um exemplo: "Tive aqui um jovem de 20 anos, com descolamento da retina, que tinha feito várias operações e chegou a uma altura em que já não havia solução. Cegou."
"Nas aulas participava e era expert em informática. Quando não estava nas aulas, ficava fechado no quarto. Perguntámos-lhe porque se isolava assim e ele respondeu: "Quando não estou nas aulas, durmo, porque enquanto durmo sonho e enquanto sonho eu vejo", contou.
"Está a tirar um curso de programação informática e é DJ numa discoteca", revelou Conceição Luís, considerando que, "se ele fosse embora daqui sem ter uma colocação noutra actividade, acabaria por se fechar em casa e ficar outra vez perdido".
Adianta que, "normalmente, eles dizem que após terem cegado ainda conseguem imaginar as coisas às cores. Mas depois passa a ser tudo a preto e branco".
Este centro, que pertence à Segurança Social, existe há 46 anos e tem capacidade para 22 internos, que vêm de fora de Lisboa e ali permanecem durante o processo de reabilitação. Tudo é gratuito, incluindo refeições e alojamento. Quem vive na capital frequenta as aulas em regime externo.
Os períodos de reabilitação "são normalmente de três meses para utentes com baixa visão e de cinco meses a um ano para casos de cegueira total", informou a directora.
Ali ensinam mobilidade de quatro níveis, como movimentarem-se no interior do centro, na zona envolvente, nos transportes públicos e na área de residência. No programa de actividades da vida diária, a equipa de reportagem do DN encontrou Maria Bárbara na cozinha a receber formação e a confeccionar um bolo de ananás. Residente em Vila Viçosa, vê abaixo dos 10%. "Desde os 17 anos que tenho baixa visão, mas há cinco anos, devido a uma depressão, o problema agravou-se muito", contou Bárbara, que trabalhava no Centro de Saúde de Vila Viçosa, mas desde há três anos está em casa.
"Os meus filhos já são crescidos e vão-me ajudando, mas não me sentia muito bem a cozinhar e às vezes atrapalhava-me, porque não conseguia ver as coisas. Por isso vim para aqui. Agora já consigo fazer quase tudo mais à vontade", relatou, com um sorriso de satisfação.
A directora do centro revela que também acompanham os utentes "ao teatro, ao cinema e a outros eventos para perceberem que podem continuar a ter vida social".
Foram ver o filme Ensaio sobre a Cegueira, na antestreia, com auscultadores que lhes transmitiam por voz o que passava nas legendas. Salienta que, "no final do filme, um cego recupera a visão. Ficaram com aquela mensagem de esperança que os cegos podem voltar a ver".
"Gostei muito do filme. Aquele retrato das pessoas que perdem a visão de repente é mesmo o estado em que elas nos chegam aqui ao centro: completamente perdidas", observou Conceição Luís.
DANIEL LAM
Fonte: http://dn.sapo.pt/2009/01/24/sociedade/processo_reabilitacao_comeca_depo...
sexta-feira, 29 de maio de 2009
ANDEF TEM NOVO PRESIDENTE
Guilherme Ramalho é o novo presidente da Andef
Por Gustavo Carvalho (gustavorcs80@hotmail.com)
Após ser convidada para assumir a Secretaria Muncipal de Acessibilidade e Cidadania de Niterói, Tânia Rodrigues deixou a presidência da Andef para comandar a pasta que foi recém-criada.
Em nova eleição realizada para o cargo, Guilherme Ramalho foi eleito como presidente da instituição. Ele foi uma das pessoas fundamentais na fundação da entidade em 1981 e acompanhou todo o crescimento da Andef.
Por Gustavo Carvalho (gustavorcs80@hotmail.com)
Após ser convidada para assumir a Secretaria Muncipal de Acessibilidade e Cidadania de Niterói, Tânia Rodrigues deixou a presidência da Andef para comandar a pasta que foi recém-criada.
Em nova eleição realizada para o cargo, Guilherme Ramalho foi eleito como presidente da instituição. Ele foi uma das pessoas fundamentais na fundação da entidade em 1981 e acompanhou todo o crescimento da Andef.
O que é Audição
http://www.dislexiadeleitura.com.br/artigos.php?codigo=41
Para conseguirmos ouvir necessitamos da integridade de todas as estruturas do no sistema auditivo. As estruturas envolvidas no processo da audição são didaticamente divididas em três grupos, o ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno.
1- O ouvido externo é composto pelo pavilhão auricular e o canal auditivo.
2- O ouvido médio é formado pela membrana timpânica e, a cadeia ossicular ( martelo, bigorna e estribo).
3- O ouvido interno é composto pela cóclea e os canais semicirculares.
Como ouvimos os sons?
O pavilhão auricular é responsável por captar os sons provenientes do ambiente, que são conduzidos pelo canal auditivo até chegar a membrana timpânica. O tímpano recebe então esta vibração vinda das ondas sonoras e, a transmite aos ossículos, movendo o martelo que faz vibrar a bigorna e por sua vez vibra o estribo. O estribo está anatomicamente ligado à cóclea pela janela oval (pequeno orifício), que lhe transmite o sinal elétrico. A cóclea está conectada ao nervo vestíbulo-coclear, VIII par craniano, que envia a este o impulso nervoso. O impulso nervoso é conduzido ao centro de audição do córtex cerebral, que é responsável por interpretar estes sinais nervosos.
O que é Processamento Auditivo Central (PAC)?
“Processamento auditivo se refere aos processos envolvidos na detecção, na análise e na interpretação de eventos sonoros. Estes processos acontecem no sistema auditivo periférico e no sistema auditivo central. É desenvolvido nos primeiros anos de vida, portanto é a partir da experienciação do mundo sonoro que aprendemos a ouvir.”
É o processo de decodificação das ondas sonoras desde a orelha externa até o córtex cerebral, ou seja, a capacidade de analisar, associar e interpretar as informações sonoras que nos chegam pelo sentido da audição.
Quais são as habilidades auditivas centrais testadas?
Como ainda não conseguimos identificar com detalhes como o sistema auditivo realiza o processamento auditivo, identificamos algumas habilidades que devem ser testadas:
Atenção seletiva: é a capacidade de selecionar estímulos, é avaliado através de estímulos verbais de escrita dicótica.
Detecção do som: é a capacidade de perceber, identificar a presença de um som , é avaliado através de audiometria , discriminação vocal , timpanometria e pesquisa de reflexo.
Sensação sonora: é quando um estímulo é recebido pelo sentido da audição , é quando o indivíduo tem a sensação se o som é alto ou baixo , forte ou fraco ,longo ou curto.
Discriminação: é o processo de detectar diferenças entre os estímulos sonoros.
Localização: é saber local da origem do som, é avaliado através da localização sonora em cinco direções.
Reconhecimento: requer aprendizado, é avaliado através de logoaudiometria pediátrica, para o reconhecimento de frases na presença de mensagem.
Compreensão: dar significado ao som escutado.
Memória: arquivar informações e recuperá-las quando houver necessidade , é avaliado através de memória seqüencial para sons verbais (pa ,ta, ca) e não verbais (guizo, coco, sino, agogô).
O que é um distúrbio do processamento Auditivo Central (DPAC)?
“É uma falha no desenvolvimento das habilidades perceptivas auditivas”; mesmo com audição normal, é totalmente diferente de perda auditiva. Em geral encontra-se associado a dificuldades de aprendizagem.
Crianças portadoras de distúrbio de aprendizagem tem dificuldades em vários aspectos do processamento auditivo lingüístico e apresentam falhas cognitivas .É possível que comprometimentos lingüísticos ou cognitivos possam ser resultantes de problemas perceptuais.
Sintomas do Distúrbio do processamento Central Auditivo (DPAC):
- Apresenta dificuldade em manter atenção aos sons;
- Dificuldade em escutar em ambientes ruidosos;
- Dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita;
- Dificuldade em compreender o que lê;
- Necessidade de ser chamado várias vezes ("parece" não escutar);
- Não entende o que foi dito;
- Solicita com freqüência a repetição das informações: Ah? O quê? Pode repetir?
- Dificuldade em entender expressões com duplo sentido ou piadas ou idéias abstratas;
- Dificuldade ao dar um recado ou contar uma história;
- Problemas de memória para nomes, datas, números e etc;
- Dificuldade em acompanhar uma conversa, aula ou palestra com outras pessoas falando ao mesmo tempo;
- Problemas de fala (troca /L/R/S/E/CH/), principalmente os sons /R/ e /L/;
- Alterações de pronúncia;
- Dificuldade em localizar a origem dos sons.
- Dificuldades com o significado das palavras;
- Inversões de letras;
-Dificuldade em associar letras do alfabeto com seus respectivos sons;
- Rendimento escolar Inferior em leitura, gramática, ortografia, matemática;
- Dificuldade em aprender uma língua estrangeira.
O que pode causar o DPAC?
- Genética, um grande número de casos é hereditário, pais e filhos apresentam características semelhantes;
- Otites freqüentes durante os 3 (três) primeiros anos de vida (Processos alérgicos respiratórios, tais como sinusites, rinites e até mesmo refluxo gastro-faríngeo estão comumente associados);
- Permanência em UTI-Neonatal por mais de 48 horas;
- Experiências auditivas insuficientes durante a 1ª infância.
Os sintomas comportamentais de crianças encaminhadas para a avaliação do PAC:
Crianças com alteração de comportamento, de atenção e dificuldades auditivas não orgânicas.
Crianças com suspeita de distúrbio de aprendizagem, cuja queixa é apresentada pelos pais ou professores.
Crianças encaminhadas por apresentarem distúrbio de comportamento social.
Laura Niquini de Faria Fonoaudióloga do Hospital de Olhos -CRFa. 6143/MG
Referências Bibliográficas:
1 CIASCA, S. M. (org.) Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, 220p.
2 MÖOJEN, S. M. P. Caracterizando os Transtornos de Aprendizagem. In: BASSOLS, A. M. S. e col. Saúde mental na escola: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003.
3 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
4 http://www.nimh.nih.gov/publicat/learndis.htm
INDICADORES MAIS COMUNS DE UMA DEFICIENCIA VISUAL
Indicadores mais comuns que podem sugerir uma investigação oftalmológica:
Irritações crônicas nos olhos, indicadas por olhos lacrimejantes, pálpebras avermelhadas, inchadas ou remelosas.
Náuseas, dupla visão ou névoas durante ou após a leitura.
Esfregar os olhos, franzir ou contrair o rosto quando se olham objetos distantes.
Excessiva cautela no andar, correr raramente e tropeçar sem razão aparente.
Desatenção anormal durante realização de trabalhos escolares.
Queixas de enevoamento visual e tentativas de afastar com as mãos os impedimentos visuais.
Inquietação, irritabilidade ou nervosismo excessivo depois de um prolongado e atento trabalho visual.
Pestanejar excessivamente, sobretudo durante a leitura.
Segurar habitualmente o livro muito perto, muito distante ou em outra posição enquanto se lê.
Inclinar a cabeça para um lado durante a leitura.
Capacidade de leitura por apenas um período curto de cada vez.
Fechar ou tampar um olho durante a leitura.
O deficiente visual pode ser educacionalmente cego ou com baixa visão.
É considerado cego aquele que apresenta desde ausência total de visão até a perda da percepção luminosa. Sua aprendizagem se dará através da integração dos sentidos remanescentes preservados. Terá como principal meio de leitura e escrita o sistema Braille. Deverá, no entanto, ser incentivado a usar seu resíduo visual nas atividades de vida diária sempre que possível.
É considerado com baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limite seu desempenho. Sua aprendizagem se dará através dos meios visuais, mesmo que sejam necessários recursos especiais.
As patologias que levam à deficiência visual incluem, principalmente, alterações das seguintes funções visuais: visão central, visão periférica e sensibilidade aos contrastes.
Regina Célia Gouvea Lázaro - Chefe da Divisão de Pesquisa, Documentação e Informação do Instituto Benjamin ConstantFim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
Irritações crônicas nos olhos, indicadas por olhos lacrimejantes, pálpebras avermelhadas, inchadas ou remelosas.
Náuseas, dupla visão ou névoas durante ou após a leitura.
Esfregar os olhos, franzir ou contrair o rosto quando se olham objetos distantes.
Excessiva cautela no andar, correr raramente e tropeçar sem razão aparente.
Desatenção anormal durante realização de trabalhos escolares.
Queixas de enevoamento visual e tentativas de afastar com as mãos os impedimentos visuais.
Inquietação, irritabilidade ou nervosismo excessivo depois de um prolongado e atento trabalho visual.
Pestanejar excessivamente, sobretudo durante a leitura.
Segurar habitualmente o livro muito perto, muito distante ou em outra posição enquanto se lê.
Inclinar a cabeça para um lado durante a leitura.
Capacidade de leitura por apenas um período curto de cada vez.
Fechar ou tampar um olho durante a leitura.
O deficiente visual pode ser educacionalmente cego ou com baixa visão.
É considerado cego aquele que apresenta desde ausência total de visão até a perda da percepção luminosa. Sua aprendizagem se dará através da integração dos sentidos remanescentes preservados. Terá como principal meio de leitura e escrita o sistema Braille. Deverá, no entanto, ser incentivado a usar seu resíduo visual nas atividades de vida diária sempre que possível.
É considerado com baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limite seu desempenho. Sua aprendizagem se dará através dos meios visuais, mesmo que sejam necessários recursos especiais.
As patologias que levam à deficiência visual incluem, principalmente, alterações das seguintes funções visuais: visão central, visão periférica e sensibilidade aos contrastes.
Regina Célia Gouvea Lázaro - Chefe da Divisão de Pesquisa, Documentação e Informação do Instituto Benjamin ConstantFim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
ORIENTAÇÕES NO RELACIONAMENTO COM PESSOAS CEGAS
As pessoas que estabelecem contato com portadores de deficiência visual, seja de forma ocasional ou regular, revelam-se de um modo geral inseguras sobre como agir diante das diferentes situações que possam ocorrer.
É importante, antes de tudo considerar que a convivência em qualquer nível ou dimensão, constitui tarefa complexa. Implica em negociações, concessões, acordos e ajustes. Não por outro motivo, todas as sociedades humanas, em qualquer tempo histórico, trataram de elaborar e implementar códigos de etiqueta, encarregados de dirigir harmoniosamente as relações, amenizando o confronto das diferenças, desafio constante na invenção do cotidiano.
Nos casos onde a diferenciação social se dá através de marcas inscritas no corpo, tais estigmas podem tornar-se emblemáticas, enviesando todo processo de interação. Em tais circunstâncias, desinformação, falta de esclarecimentos, estereótipos e as fantasias que daí derivam, dificultam ainda mais o convívio com portadores de deficiência.
A lista que reproduzimos a seguir, sobre o título "Cuidados no relacionamento com pessoas cegas", é uma espécie de código de etiqueta no qual a relação com as pessoas portadoras de deficiência visual, recebe uma orientação básica, desenhada pelo negativo. Dizendo o que não se deve fazer no contato com o deficiente visual, define-se, em linhas gerais, um modo de tratamento adequado às interações das quais ele participa. As possibilidades de interação humana são muito amplas e as soluções encontradas pelos grupos para o convívio social harmônico sem dúvida ultrapassam em muito as situações contempladas na listagem de Robert Atkinson, diretor do Braille Institute of America - California. Esta porém, sem dúvida proporciona orientações essenciais para um primeiro e, eventualmente, duradouro contato, virtude suficiente para, após adaptá-la à realidade cultural brasileira, republicá-las neste espaço.
01 - Não trate as pessoas cegas como seres diferentes somente porque não podem ver. Saiba que elas estão sempre interessadas no que você gosta de ver, de ler, de ouvir e falar.
02 - Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça de que a natureza dotou a todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas e de que os preconceitos se originam na generalização de qualidades, positivas ou negativas, consideradas particularmente.
03 - Procure não limitar a pessoa cega mais do que a própria cegueira o faz, impedindo-a de realizar o que sabe, pode e deve fazer sozinha.
04 - Não se dirija a uma pessoa cega chamando-a de "cego" ou "ceguinho"; é falta elementar de educação, podendo mesmo constituir ofensa, chamar alguém pela palavra designativa de sua deficiência sensorial, física, moral ou intelectual.
05 - Não fale com a pessoa cega como se fosse surda; o fato de não ver não significa que não ouça bem.
06 - Não se refira à cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo após a perda da visão, mas, a orientação adequada consegue reduzi-la a deficiência superável, como acontece em muitos casos.
07 - Não diga que tem pena de pessoa cega, nem lhe mostre exagerada solidariedade. O que ela quer é ser tratada com igualdade.
08 - Não exclame "maravilhoso"... "extraordinário"... ao ver a pessoa cega consultar o relógio, discar o telefone ou assinar o nome.
09 - Não fale de "sexto sentido" nem de "compensação da natureza" - isso perpetua conceitos errôneo. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de recursos mentais latentes em todas as criaturas.
10 - Não modifique a linguagem para evitar a palavra ver e substituí-la por ouvir. Conversando sobre a cegueira com quem não vê, use a palavra cego sem rodeios.
11 - Não deixe de oferecer auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou tomar condução. Ainda que seu oferecimento seja recusado ou mesmo mal recebido por algumas delas, esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o gesto.
12 - Não suponha que a pessoa cega possa localizar a porta onde deseja entrar ou o lugar aonde queira ir, contando os passos.
13 - Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou aceitar gentilezas por parte de alguma pessoa cega. Tenha sempre em mente que a solidariedade humana deve ser praticada por todos e que ninguém é tão incapaz que não tenha algo para dar.
14 - Não se dirija à pessoa cega através de seu guia ou companheiro, admitindo assim que ela não tenha condição de compreendê-lo e de expressar-se.
15 - Não guie a pessoa cega empurando-a ou puxando-a pelo braço. Basta deixá-la segurar seu braço, que o movimento de seu corpo lhe dará a orientação de que precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-a segui-lo, mesmo com a mão em seu ombro.
16 - Quando passear com a pessoa cega que já estiver acompanhada, não a pegue pelo outro braço, nem lhe fique dando avisos. Deixe-a ser orientada só por quem a estiver guiando.
17 - Não carregue a pessoa cega ao ajudá-la a atravessar a rua, tomar condução, subir ou descer escadas. Basta guiá-la, pôr-lhe a mão no corrimão.
18 - Não pegue a pessoa cega pelos braços rodando com ela para pô-la na posição de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta pôr-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isso lhe indicará sua posição.
19 - Não guie a pessoa cega em diagonal ao atravessar em cruzamento. Isso pode fazê-la perder a orientação.
20 - Não diga apenas "à direita", "à esquerda", ao procurar orientar uma pessoa cega à distância. Muitos se enganam ao tomarem como referência a própria posição e não a da pessoa cega que caminha em sentido contrário ao seu.
21 - Não deixe portas e janelas entreabertas onde haja alguma pessoa cega. Conserve-as sempre fechadas ou bem encostadas à parede, quando abertas. A portas e janelas meio abertas costituem obstáculos muito perigosos para ela.
22 - Não deixe objetos no caminho por onde uma pessoa cega costuma passar.
23 - Não bata a porta do automóvel onde haja uma pessoa cega sem ter a certeza de que não lhe vai prender os dedos.
24 - Não deixe de se anunciar ao entrar no recinto onde haja pessoas cegas, isso auxilia a sua identificação.
25 - Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega, principalmente se houver algo que a impeça de perceber seu afastamento. Ela pode dirigir-lhe a palavra e ver-se na situação desagradável de falar sozinha.
26 - Não deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou ao despedir-se dela. O aperto de mão substitui para ela o sorriso amável.
27 - Não perca seu tempo nem o da pessoa cega perguntando-lhe: "Sabe quem sou eu?"... "Veja se adivinha quem sou?". Identifique-se ao chegar.
28 - Não deixe de apresentar o seu visitante cego a todas as pessoas presentes, assim procedendo, você facilitará a integração dele ao grupo.
29 - Ao conduzir uma pessoa cega a um ambiente que lhe é desconhecido, oriente-a de modo que possa locomover-se sozinha.
30 - Não se constranja em alertar a pessoa cega quanto a qualquer incorreção no seu vestuário.
31 - Informe a pessoa cega com relação à posição dos alimentos colocados em seu prato.
32 - Não encha a xícara ou o copo da pessoa cega até a beirada. Neste caso ela terá dificuldades em mantê-los equilibrados.
33 - O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele desenvolve meios e modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os passos. Antes de sair de casa, ele faz o que toda gente deveria fazer: procura informar-se bem sobre o caminho a seguir para chegar ao seu destino. Na primeira caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará. Saliências, depressões, ruídos e odores característicos, ele observa para sua maior orientação.
Robert Atkinson (Diretor do Braille Institute of America, California) - Adaptação feita pela equipe técnica da Divisão de Documentação e Informação do Departamento Técnico-Especializado e da Divisão de Reabilitação do Departamento de Atendimento Médico, Nutricional e de Reabilitação do Instituto Benjamin Constant, contanto com a participação da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais -Fim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
É importante, antes de tudo considerar que a convivência em qualquer nível ou dimensão, constitui tarefa complexa. Implica em negociações, concessões, acordos e ajustes. Não por outro motivo, todas as sociedades humanas, em qualquer tempo histórico, trataram de elaborar e implementar códigos de etiqueta, encarregados de dirigir harmoniosamente as relações, amenizando o confronto das diferenças, desafio constante na invenção do cotidiano.
Nos casos onde a diferenciação social se dá através de marcas inscritas no corpo, tais estigmas podem tornar-se emblemáticas, enviesando todo processo de interação. Em tais circunstâncias, desinformação, falta de esclarecimentos, estereótipos e as fantasias que daí derivam, dificultam ainda mais o convívio com portadores de deficiência.
A lista que reproduzimos a seguir, sobre o título "Cuidados no relacionamento com pessoas cegas", é uma espécie de código de etiqueta no qual a relação com as pessoas portadoras de deficiência visual, recebe uma orientação básica, desenhada pelo negativo. Dizendo o que não se deve fazer no contato com o deficiente visual, define-se, em linhas gerais, um modo de tratamento adequado às interações das quais ele participa. As possibilidades de interação humana são muito amplas e as soluções encontradas pelos grupos para o convívio social harmônico sem dúvida ultrapassam em muito as situações contempladas na listagem de Robert Atkinson, diretor do Braille Institute of America - California. Esta porém, sem dúvida proporciona orientações essenciais para um primeiro e, eventualmente, duradouro contato, virtude suficiente para, após adaptá-la à realidade cultural brasileira, republicá-las neste espaço.
01 - Não trate as pessoas cegas como seres diferentes somente porque não podem ver. Saiba que elas estão sempre interessadas no que você gosta de ver, de ler, de ouvir e falar.
02 - Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça de que a natureza dotou a todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas e de que os preconceitos se originam na generalização de qualidades, positivas ou negativas, consideradas particularmente.
03 - Procure não limitar a pessoa cega mais do que a própria cegueira o faz, impedindo-a de realizar o que sabe, pode e deve fazer sozinha.
04 - Não se dirija a uma pessoa cega chamando-a de "cego" ou "ceguinho"; é falta elementar de educação, podendo mesmo constituir ofensa, chamar alguém pela palavra designativa de sua deficiência sensorial, física, moral ou intelectual.
05 - Não fale com a pessoa cega como se fosse surda; o fato de não ver não significa que não ouça bem.
06 - Não se refira à cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo após a perda da visão, mas, a orientação adequada consegue reduzi-la a deficiência superável, como acontece em muitos casos.
07 - Não diga que tem pena de pessoa cega, nem lhe mostre exagerada solidariedade. O que ela quer é ser tratada com igualdade.
08 - Não exclame "maravilhoso"... "extraordinário"... ao ver a pessoa cega consultar o relógio, discar o telefone ou assinar o nome.
09 - Não fale de "sexto sentido" nem de "compensação da natureza" - isso perpetua conceitos errôneo. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de recursos mentais latentes em todas as criaturas.
10 - Não modifique a linguagem para evitar a palavra ver e substituí-la por ouvir. Conversando sobre a cegueira com quem não vê, use a palavra cego sem rodeios.
11 - Não deixe de oferecer auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou tomar condução. Ainda que seu oferecimento seja recusado ou mesmo mal recebido por algumas delas, esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o gesto.
12 - Não suponha que a pessoa cega possa localizar a porta onde deseja entrar ou o lugar aonde queira ir, contando os passos.
13 - Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou aceitar gentilezas por parte de alguma pessoa cega. Tenha sempre em mente que a solidariedade humana deve ser praticada por todos e que ninguém é tão incapaz que não tenha algo para dar.
14 - Não se dirija à pessoa cega através de seu guia ou companheiro, admitindo assim que ela não tenha condição de compreendê-lo e de expressar-se.
15 - Não guie a pessoa cega empurando-a ou puxando-a pelo braço. Basta deixá-la segurar seu braço, que o movimento de seu corpo lhe dará a orientação de que precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-a segui-lo, mesmo com a mão em seu ombro.
16 - Quando passear com a pessoa cega que já estiver acompanhada, não a pegue pelo outro braço, nem lhe fique dando avisos. Deixe-a ser orientada só por quem a estiver guiando.
17 - Não carregue a pessoa cega ao ajudá-la a atravessar a rua, tomar condução, subir ou descer escadas. Basta guiá-la, pôr-lhe a mão no corrimão.
18 - Não pegue a pessoa cega pelos braços rodando com ela para pô-la na posição de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta pôr-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isso lhe indicará sua posição.
19 - Não guie a pessoa cega em diagonal ao atravessar em cruzamento. Isso pode fazê-la perder a orientação.
20 - Não diga apenas "à direita", "à esquerda", ao procurar orientar uma pessoa cega à distância. Muitos se enganam ao tomarem como referência a própria posição e não a da pessoa cega que caminha em sentido contrário ao seu.
21 - Não deixe portas e janelas entreabertas onde haja alguma pessoa cega. Conserve-as sempre fechadas ou bem encostadas à parede, quando abertas. A portas e janelas meio abertas costituem obstáculos muito perigosos para ela.
22 - Não deixe objetos no caminho por onde uma pessoa cega costuma passar.
23 - Não bata a porta do automóvel onde haja uma pessoa cega sem ter a certeza de que não lhe vai prender os dedos.
24 - Não deixe de se anunciar ao entrar no recinto onde haja pessoas cegas, isso auxilia a sua identificação.
25 - Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega, principalmente se houver algo que a impeça de perceber seu afastamento. Ela pode dirigir-lhe a palavra e ver-se na situação desagradável de falar sozinha.
26 - Não deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou ao despedir-se dela. O aperto de mão substitui para ela o sorriso amável.
27 - Não perca seu tempo nem o da pessoa cega perguntando-lhe: "Sabe quem sou eu?"... "Veja se adivinha quem sou?". Identifique-se ao chegar.
28 - Não deixe de apresentar o seu visitante cego a todas as pessoas presentes, assim procedendo, você facilitará a integração dele ao grupo.
29 - Ao conduzir uma pessoa cega a um ambiente que lhe é desconhecido, oriente-a de modo que possa locomover-se sozinha.
30 - Não se constranja em alertar a pessoa cega quanto a qualquer incorreção no seu vestuário.
31 - Informe a pessoa cega com relação à posição dos alimentos colocados em seu prato.
32 - Não encha a xícara ou o copo da pessoa cega até a beirada. Neste caso ela terá dificuldades em mantê-los equilibrados.
33 - O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele desenvolve meios e modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os passos. Antes de sair de casa, ele faz o que toda gente deveria fazer: procura informar-se bem sobre o caminho a seguir para chegar ao seu destino. Na primeira caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará. Saliências, depressões, ruídos e odores característicos, ele observa para sua maior orientação.
Robert Atkinson (Diretor do Braille Institute of America, California) - Adaptação feita pela equipe técnica da Divisão de Documentação e Informação do Departamento Técnico-Especializado e da Divisão de Reabilitação do Departamento de Atendimento Médico, Nutricional e de Reabilitação do Instituto Benjamin Constant, contanto com a participação da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais -Fim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA VISUAL E SEUS PAIS
Você acabou de saber que seu filho é cego ou possui visão subnormal. Ele é um portador de deficiência visual. Nesse momento, ainda não sabe, precisamente, o que tal coisa quer dizer; não tem certeza do que isso significará para o crescimento e o desenvolvimento da criança e a que corresponderá quando ela for para o colégio. Você está cheio de dúvidas, inquietações, perguntas e quer algumas respostas agora.
Esses sentimentos são normais. Você tem todo o direito de sentir-se assim por algum tempo. Porém, achamos que gostaria de saber um pouco mais sobre crianças cegas ou com visão subnormal. Outros pais de crianças deficientes da visão fizeram muitas dessas mesmas perguntas. As respostas que você ler aqui poderão ajudá-lo, levantar outras questões, ou fazê-lo sentir que seu filho não se ajusta a qualquer das perguntas ou respostas. Mas, pelo menos o texto lhe dará o primeiro impulso. Vai dar certo. Talvez não hoje, nem amanhã ou mesmo no próximo mês – mas vai dar certo.
O que devo esperar?
Primeiro, espere que seu filho seja como todas as outras crianças. Não importa a idade que tenha, ou o quanto é deficiente – seu filho tem as mesmas necessidades que outras crianças:
amor;
afeto;
carinho;
nutrição;
disciplina;
educação;
brincadeira;
compreensão;
paciência.
Seu filho talvez faça algumas coisas de maneira diferente das outras crianças – como olhar um livro muito de perto – e pode aprender algumas coisas mais rapidamente que outros – como memorizar enigmas e canções; lembre-se, apenas, que seu filho é um indivíduo. Você não conseguirá predizer como seu filho será, assim como seus pais tampouco puderam fazê-lo em relação a você.
Pôr-se no lugar da criança e imaginar como é ser deficiente visual, poderá ajudá-lo. Feche seus olhos e escute por alguns minutos. Se você estiver lendo isto na cama, talvez tudo que ouça seja o silêncio – talvez ouça seu bebê respirando, o tic-tac do relógio, ou um cachorro latindo lá fora. Mas, provavelmente, sabe de onde os sons estão vindo. Se estiver lendo isto num lugar muito barulhento – a televisão ligada, as crianças gritando lá fora, a chaleira assobiando, os cachorros latindo – não só é mais difícil ouvir o bebê respirar e o relógio fazer tic-tac, mas, também, dizer de onde esses sons estão vindo.
Seu filho deficiente visual aprenderá sobre sons à medida que crescer, mas precisará de ajuda para identificá-los e entender quais são importantes ouvir (tráfego, vozes, noticiários radiofônicos), e os que podem ser ignorados (o zumbir das luzes vindas da luminária, o sopro do vento).
Depois, tente imaginar como você aprenderia um esporte novo ou jogo se não enxergasse bem: não poderia imitar uma braçada, se não pudesse vê-la. Mas alguém poderia lhe ensinar a fazê-lo, movendo seus braços para você.
Crianças deficientes da visão usam sua audição, seu olfato, suas próprias mãos e todo seu corpo para aprender sobre o mundo. Assim, espere que seu filho:
seja curioso;
faça perguntas;
escute;
goste de brincar;
fique perto de objetos;
pegue-os;
precise que se mostre como fazer coisas;
não saiba do que não se aproximar, a menos que você lhe diga;
não perceba que é deficiente visual, ou compreenda o que isso significa, até que você ou outra pessoa lhe diga.
Lembre-se que a criança que nasceu cega não sabe o que é enxergar, tampouco tem consciência que outras pessoas enxergam.
O que meu filho vê?
Essa é uma pergunta realmente difícil de responder. Ninguém saberá o que seu filho vê até que ele possa falar. Seu médico – oftalmologista, optometrista ou pediatra – pode lhe explicar a condição do olho de seu filho, os sintomas e as características de cada tipo de patologia. Peça a seu médico um relatório, por escrito, de cada exame ocular de seu filho (caso você não o compreenda, peça ao médico que escreva numa linguagem mais acessível). Guarde esses relatórios para consultá-los de vez em quando. Eles também serão de grande utilidade para auxiliar o professor de seu filho, quando ele for para o colégio ou entrar num programa para crianças.
Quanto ao que seu filho realmente vê, terá que esperar que ele lhe diga. E, provavelmente, ele o fará muito antes que possa falar. Qualquer um destes comportamentos lhe dirá algo sobre o que e quanto vê:
piscar ou fechar os olhos em luz solar ou perto de uma luminária;
piscar ou fechar os olhos quando sair para o ar livre, ou vice-versa;
aproximar comida ou outros objetos para perto dos olhos ou de um só olho;
virar a cabeça em direção a uma fonte luminosa ou virar seu rosto buscando afastar-se de uma luz forte;
inclinar sempre a cabeça de certo modo;
tentar alcançar coisas de um só lado, somente a certa distância ou apenas as que estejam diretamente à sua frente;
esbarrar com coisas (altas ou baixas);
seguir objetos móveis com os olhos ou com a cabeça;
procurar objetos com os olhos ou com as mãos.
Não perca de vista estas coisas, se seu filho as fizer, e tente observar se ele as faz todo o tempo, às vezes, ou só em determinadas situações (como quando as luzes estiverem obscurecidas, ou quando você o estiver ajudando). À medida que ele for ficando mais velho, você descobrirá um pouco mais sobre sua visão pelo manuseio que faz de livros, pinturas, lápis e papel. De início é impossível prever quanta visão ele terá, ou se será um leitor de Braille ou de letras impressas. É esperar e ver.
É importante lembrar que, na maior parte dos casos, as crianças com visão subnormal usam melhor sua visão à medida que ficam mais velhas porque ficam mais sagazes, experientes e dedutivas, tendo um expressivo ganho, pelo uso, em sua visão funcional.
E se meu filho for cego?
Muitas crianças e adultos são totalmente cegos – e eles se saem bem. As pessoas cegas vivem, aprendem, amam, trabalham e fazem tudo o que as pessoas videntes fazem. Quando você vir uma pessoa cega, lembre-se: provavelmente, uma vez ela foi uma criança cega. O adolescente ou adulto que seu filho vier a ser, dependerá, em grande parte, do que vocês, como seus pais, fizerem agora. Se você não lhe ensinar a ter responsabilidade, ele não a terá. Se não espera que tenha sucesso, ele também não o esperará. Se sempre faz as coisas para ele, enquanto criança, alguém terá de fazê-las para ele, quando adulto.
Certamente, crescer sem visão torna-se um pouco mais difícil aprender sobre o mundo e mover-se nele. Mas seu filho cego não sabe que o seu modo de aprender é diferente do das outras pessoas. Na prática, a cegueira na infância quer dizer que:
Os acontecimentos usuais, comuns e cotidianos, podem precisar de explicação. Faça seu filho saber, por exemplo, que ovos mexidos, fritos e cozidos sempre começam como ovos crus.
Alguns eventos ficam fora da experiência direta de seu filho. Conte-lhe sobre os pássaros voando e dê-lhe a chance de tocar e segurar um. Fale das nuvens, do céu, do sol, da lua.
Seu filho pode precisar de ajuda para reunir partes e formar um todo. Seu filho não pode tocar um cachorro inteiro de uma vez só, mas ele pode sentir-lhe o nariz, orelhas, corpo, pernas, patas e rabo, separadamente. Você pode ajudá-lo, então, a entender que estas partes separadas, quando juntadas adequadamente, fazem um cachorro inteiro.
A imitação gestual é mais difícil. Seu filho precisará que se lhe mostre como utilizar a expressão gestual: é grande assim – bem pequeno – lá longe – ali daquele lado – lá em cima, são algumas das expressões que, quando usadas, geralmente são anexadas às suas expressões gestuais correspondentes. Seu filho não fará isso por imitação. Pegue em seus braços e ensine a ele.
A aprendizagem não vem naturalmente por imitação. Você não pode ter certeza de que seu filho se levantará e caminhará um dia, se ele nunca tiver visto alguém caminhar antes. Tampouco espere que roube um biscoito da lata se ele não souber onde a lata está.
Experiências reais têm mais valor do que as descrições das mesmas. Você pode contar a seu filho sobre ovos mexidos, fritos, cozidos e crus, mas significará mais se ele puder rachar, quebrar e cozinhar os ovos por si mesmo.
Seu filho não pode esperar que o mundo venha a ele. Você tem, inicialmente, que levar o mundo a seu filho – com palavras, movimentos, sentimentos, interpretações e oportunidades para aprendizagem.
Sua contribuição é necessária, porque seu filho desconhece até onde foi bem. Se ele tentar alcançar algo e não conseguir da primeira vez, como saberá o que precisará fazer da próxima, a menos que alguém lhe diga “quase”, “um pouco mais à direita”, ou “ei, você conseguiu!”?
E se meu filho tiver outra deficiência (deficiência múltipla)?
Crianças deficientes visuais podem ter uma outra deficiência associada. Se isso se der com seu filho, as mesmas regras de aprendizagem se aplicam:
providencie experiências reais;
ajude partes a se ajustarem ao todo;
crie oportunidades de aprendizagem;
dê sua cooperação;
demonstre como fazer as coisas.
Dependendo da deficiência de seu filho, algumas coisas que você faz com ele talvez tenham que ser repensadas. Por exemplo, se seu filho tiver paralisia cerebral ou uma outra deficiência motora, você necessitará aprender as melhores maneiras para posicioná-lo e carregá-lo. Se tiver deficiência auditiva, você precisará aprender mais sobre os modos de comunicar-se com ele. Há pessoas especializadas que poderão lhe dar “dicas” para criar seu filho.
Por que meu filho parece mais lento que outras crianças?
Todas as crianças, deficientes ou não, são diferentes entre si, isso é próprio da natureza humana, assim como também o é comparar seu filho com outras crianças. Mas como seu filho é deficiente visual ele tem um modo diferente de aprender e de fazer as coisas. Na verdade, não sabemos se as crianças deficientes da visão, no geral, aprendem mais lentamente que as outras, mas sabemos que suas chances e oportunidades para aprendizado são menores, em razão da deficiência. Ela limita o que a criança pode imitar ou apreender sozinha, mas não significa que não consiga aprender. Significa, ao contrário, que ela terá que depender de você e de outros para ensinar-lhe e mostrar-lhe o que, inicialmente, não pode aprender de modo natural.
Por que meu bebê parece tão quieto?
Um dos primeiros comentários que muitos pais fazem sobre seus filhos cegos ou de visão subnormal é que são quietos – que parecem imóveis em seus berços. Outros, dizem que seus bebês não gostam de ser tirados de lá – toda vez que o são, arqueiam as costas, se retesam, ou ainda, parecem querer se afastar. Isto acontece, de fato, com muitos bebês, mas por uma boa razão.
Quando você enxerga bem, vê, o tempo todo, o que acontece a seu redor. Se quiser, pode fechar seus olhos no momento que desejar e não ver. Com a visão, você tem o controle de tudo.
Entretanto, quando não vê bem, a história é diferente: pode ver de modo indistinto ou, talvez, só claridade e vultos. Dependerá de sua audição, olfato e tato para saber o que acontece a seu redor. Ao mexer-se em sua cama, não escutará muito, exceto o som de seu próprio movimento. Os bebês cegos e deficientes da visão ficam quietos e imóveis, por muito tempo, porque ficam escutando o que acontece à sua volta. Além disso, não podem fechar seus ouvidos para deixar de ouvir – têm que aprender o que cada som significa e por que eles são importantes.
A reação, ao ser apanhado, está relacionada com a aguda atenção que o bebê presta ao mundo. Se ele estiver atento ouvindo, sentindo-se seguro deitado na cama e, de repente, perceber que o estão movimentando, jogando para o ar – claro que vai se assustar e ficar transtornado. E seu modo natural de reagir é gritar, querer se afastar e voltar para onde estava.
Isto não quer dizer que não deva perturbar seu filho ou apanhá-lo. Significa que você deve pôr-se no lugar dele e imaginar como gostaria de brincar e ser apanhado. Desejaria algum aviso, de ter idéia do que está se passando. Isso também é verdadeiro para seu filho deficiente da visão. Diga-lhe o que faz, dê-lhe uma chance para responder e conte-lhe o que está fazendo, enquanto o fizer.
Embora pareça convidativo deixar seu filho aprender sobre o mundo em suas próprias condições, nem sempre essa é a melhor idéia. Experiências de movimento – ser conduzido ou mover-se sozinho – ensinam muito sobre o corpo: onde está situado no espaço e a maneira de usá-lo. Considerando que a visão é uma das maneiras que aprendemos sobre movimento, as crianças que têm pouca visão podem não se movimentar tanto quanto devem, justamente porque não tiveram chance de compreender por que o movimento é divertido.
Assim, faça com seu filho cego, deficiente da visão ou portador de deficiência múltipla o mesmo que você faria com seus outros filhos – apanhe-o, embale-o, faça-lhe cócegas, carinhos, carregue-o nas costas, brinque com ele. Se seu filho possuir mais de uma deficiência, faça as mesmas coisas, mas consulte um médico ou fisioterapeuta para descobrir se há modos especiais que você deva utilizar.
Por que meu filho não se movimenta muito?
Crianças aprendem a engatinhar e a andar porque vêem algo no quarto que desejam, ou porque assistem às pessoas a seu redor se movendo. Se seu filho não consegue ver um objeto, o qual, por sua vez, não faz qualquer ruído, provavelmente não sabe que o objeto lá está – e assim, não tem nenhuma razão para ir alcançá-lo.
É natural que você tente criar experiências tais para seu filho, que acabe levando com demasiada freqüência, o mundo para ele. Não poderá fazer isso sempre. O que realmente deseja fazer é encorajar seu filho para que “vá à luta” – que seja curioso, que explore, que descubra que existe outro mundo além da ponta de seus dedos. Você pode encorajá-lo a isso, ajudando-o a:
juntar dois e dois (“Está ouvindo? É o cronômetro na cozinha. Vamos ver se os biscoitos estão prontos... Vou tirá-los do forno... Deixemos que esfriem um pouco... Pegue um para você!” Fale sempre muito com seu filho);
ir buscar o que quer (Papai está aqui. Venha me pegar!” “Olhe a bola aqui, venha pegá-la!” – Usem os verbos olhar e ver de maneira natural, não os troquem por outros);
brincar de jogar bola e de esconder.
Tudo isso ensinará a seu filho que pessoas e objetos existem, até mesmo quando ele não os estiver tocando, ouvindo ou provando.
Seu filho não vê outras crianças engatinhando, caminhando, correndo ou saltando. É uma boa idéia mostrar-lhe como e ajudá-lo a fazê-lo.
Por que meu filho não se diverte muito com brinquedos?
Até que seu filho saiba o que um brinquedo é e como usá-lo, não terá uma noção correta de como brincar com ele. Escolhemos muitos dos brinquedos que damos a nossos filhos porque nós gostamos das cores – não porque o som seja particularmente atraente à criança, porque seja agradável, ou porque a criança pode fazer algo com ele. Os móbiles de berço que adquirimos são um notável exemplo disso. Eles parecem muito graciosos de onde estamos, mas do berço, onde o bebê está deitado, não têm qualquer interesse, a menos que se movimentem ou que façam barulho.
Não sabemos muito sobre a razão pela qual alguns brinquedos são mais interessantes que outros para crianças cegas e deficientes da visão. No entanto, sabemos que elas não conseguem brincar se não souberem que os brinquedos estão lá. Você pode ajudar seus filhos a achar os brinquedos à frente e atrás deles, pelo quarto, nas gavetas, em armários. E pode fazer disso uma diversão, brincando com seu filho e dando-lhe informações de como está indo: “Muito bem! Você pôs o bloco redondo no buraco redondo!”, “Veja como essas argolas de empilhar se ajustaram; uma em cima da outra?” e “Você sabe acelerar seu gravador? Está tentando achar sua canção favorita?”
Quando você comprar brinquedos para seu filho, procure os que têm as seguintes características:
inquebráveis;
não pontiagudos;
de cores luminosas (vermelho, amarelo, laranja, cor-de-rosa forte);
com grandes contrastes (amarelo e preto, preto e branco);
com partes móveis;
sonoros;
agradáveis ao toque;
com texturas diferentes.
Crianças cegas e de visão subnormal não brincam com muitos dos animais de pelúcia, fantoches e bonecas que compramos até que tenham o poder de abstrair do modelo para o real. Um cachorro com enchimento não parece, cheira ou soa como um cachorro e o rosto duro de plástico de uma boneca não se assemelha ao rosto de um bebê de verdade. Isso não quer dizer que você não deva dar a seu filho bonecas e animais de pelúcia; significa que você precisará brincar com ele e mostrar-lhe como ele pode usar sua imaginação, deixando que as abstrações se façam na idade certa.
Por que meu filho faz algumas coisas repetidamente (maneirismos)?
Crianças cegas, de visão subnormal ou portadoras de deficiência múltipla às vezes desenvolvem hábitos, como balançar-se, cutucar o olho ou mexer os dedos e os braços. Isso pode exasperá-lo, envergonhá-lo ou frustá-lo como pai. É tentador pôr a culpa dessas coisas na deficiência de seu filho. Mas, na verdade, todo mundo tem alguns hábitos irritantes – enrolar o cabelo, enrugar o nariz, ou coçar. A diferença é que as pessoas com visão podem ver os outros fazendo essas coisas ou olhar-se em um espelho e resolver, baseando-se no que vêem, se querem continuar a fazê-las. A criança cega freqüentemente conserva esses maneirismos, porque não sabe com o que se parecem.
Há muitas teorias sobre por que crianças cegas desenvolvem de maneira tão forte esses maneirismos. Algumas pessoas dizem que é porque bebês deficientes da visão ou portadores de deficiência múltipla não são suficientemente ativos; outros, que não tiveram bastante estimulação vestibular e cinestésica – isto é, não se movimentaram o bastante para sentir seus corpos em diferentes posições no espaço. Outros ainda acham que os bebês deficientes da visão apertam os olhos porque isso faz flashes de luz (fará para você, também). Os maneirismos podem parecer particularmente fortes em tempos de estresse – quando seu filho estiver tendo dificuldade para fazer algo ou estiver assustado. Claro que seu filho deficiente da visão ou com deficiência múltipla também pode, simplesmente, achar isso bom.
Mas, na verdade, não importa por que seu filho faz o que faz. Esses comportamentos podem ser, no futuro, um fator dificultador no seu processo de convívio e de participação social. É importante modificar o padrão de comportamento – corrigindo-o, lembrando-o sobre o que está fazendo ou desviando sua atenção para outra atividade. Um professor pode ser de grande ajuda, se decidir que quer mudar o comportamento de seu filho. Mas você tem que se lembrar de ser constante – não pode corrigir uma vez sem fazê-lo na próxima, porque isso dará a seu filho uma mensagem confusa. Talvez você queira dizer isso, talvez não. Ele continuará a testá-lo inúmeras vezes, até um de vocês dois cansar (geralmente você!).
Por que meu filho repete tudo o que digo?
Ecolalia – repetir ou ecoar o que as outras pessoas dizem – é uma fase pela qual todas as crianças passam. É um modo de treinar a fala e aprender sobre a linguagem e a comunicação. Às vezes, nas crianças cegas e de visão subnormal essa fase parece durar muito tempo. A linguagem é abstrata. As palavras representam pessoas, conceitos ou coisas. Enquanto a criança não compreender isso, será incapaz de juntar as palavras para fazer seu próprio discurso. Repetir o que outros dizem é mais fácil.
Se tentou, algum dia, aprender um idioma estrangeiro, poderá avaliar o que seu filho está tentando fazer: você repetiu palavras e frases antes que soubesse usá-las de maneira conexa e coerente. Só quando soube o que as palavras estrangeiras significavam, pôde colocá-las numa frase feita por você mesmo. E é assim para seu filho. Entretanto, é um pouquinho mais complicado para a criança que não pode ver aquilo sobre o que está falando. Pode demorar um pouco mais até que dê o salto da fala imitativa para a comunicação.
Você pode ajudar seu filho deficiente visual ou portador de deficiência múltipla fazendo-se algumas perguntas:
Estarei apenas nomeando as coisas para meu filho, ou as estou descrevendo, falando sobre elas, relacionando-as a outros acontecimentos de sua vida?
Estarei apenas repetindo as palavras que meu filho diz ou estou lhe dando, a cada vez, um pouco mais de informação?
Estarei lhe fazendo perguntas demais?
Estarei lhe dando uma chance de responder às perguntas que faço?
Antecipo o que deseja ou espero que me diga (através de palavras ou ações) o que quer?
Se for cuidadoso com a maneira como usa a linguagem, você poderá ajudar seu filho a passar da ecolalia para a linguagem real.
Como meu filho saberá onde está?
Se você não é deficiente da visão ou portador de deficiência múltipla, pode-lhe ser difícil imaginar como seu filho aprenderá a identificar onde está e se localizar nesse espaço. Você se baseia em sua visão para saber onde está. Seu filho se baseará em sua audição, tato e olfato para sabê-lo.
Em sua casa, cada quarto dá pistas diferentes, através dos materiais que forram o chão e as paredes, e para que objetivo o quarto é usado. Por exemplo, a cozinha pode ter um chão de cerâmica e cheirar a comida; o banheiro cheira a umidade e até se pode sentir as paredes ligeiramente úmidas; a sala de estar pode ter um tapete no chão e um relógio fazendo tic-tac alto; o quarto pode soar “macio”, porque a cama absorve todos os sons. A janela da cozinha é grande, por lá entra sol e vento. À medida que seu filho cresce, ele começa a usar outros marcos para ajudá-lo a saber onde está.
Se ensinar, logo cedo, seu filho a prestar atenção nessas coisas, não lhe será difícil aprender. Faça com que ele forme o mapa mental do ambiente de sua casa – onde fica o banheiro em relação ao seu quarto, enfim, qual a localização de todos os cômodos e a relação espacial entre eles.
Quando meu filho precisará de uma bengala?
Essa também é uma decisão individual, que depende de seu filho e de você. Bengalas oferecem proteção à criança ou ao adulto, principalmente, porque dão informação sobre o que está à frente, antes de colidir. Por isso, seu filho pode não precisar de uma bengala até estar pronto a agir sozinho – como completar uma incumbência para você ou ir sozinho para a escola.
Entretanto, muitas pessoas acham que as crianças deveriam ter bengalas o mais cedo possível – até mesmo logo que começam a caminhar. Já outras dizem que a bengala só deve ser adotada a partir dos treze ou quatorze anos de idade. Você deve pedir as opiniões de professores e instrutores de Orientação e Mobilidade antes de tomar sua decisão. Algumas das perguntas seguintes talvez o ajudem:
Meu filho precisa de bengala? Para que a usaria?
Meu filho consegue caminhar direito?
Meu filho usa suas mãos para conseguir informação ou se agarra a objetos sem realmente explorá-los?
Como a bengala afetaria seu equilíbrio ao andar?
Como a bengala afetaria suas brincadeiras com as crianças vizinhas?
Ele precisa da bengala o tempo todo?
A bengala para ele seria um instrumento de segurança e locomoção ou apenas um brinquedo?
Ele com a bengala deixa de absorver e utilizar as informações táteis, auditivas e olfativas do ambiente?
Com ela parece estar sem orientação espaço-temporal?
Todos terão uma opinião sobre bengalas, mas a sua opinião e a de seu filho, principalmente, é que contam.
Quando meu filho aprenderá o Sistema Braille?
Seu filho cego, portador de visão subnormal ou de deficiência múltipla aprenderá o Sistema Braille quando estiver pronto para começar a aprender a ler, e o fará do mesmo modo que as crianças videntes aprendem a ler em tinta. Um professor de crianças deficientes da visão pode fazer algumas etiquetas plásticas em Braille para você pôr pela casa em portas, cadeiras, pias, etc., o que exporá seu filho à palavra escrita. Também pode adquirir histórias de crianças em sistema comum, com páginas plásticas em Braille, assim, enquanto você ler, ele poderá “segui-la em Braille”, mesmo sem saber ler ainda. Agora, já se consegue comprar vários livros de criança em fita cassete.
É importante que a criança cega tenha o contato com a palavra escrita em Braille o mais cedo possível. A criança de visão normal vê as palavras em tudo – TV, revistas, livros, cartazes. Seu primeiro contato com a palavra escrita se dá muito cedo. Já a criança cega, na maior parte da vezes, tem o primeiro contato com a palavra escrita no momento de sua alfabetização.
Todas as crianças deficientes da visão podem aprender o Braille, independente de conseguirem ou não ler em tinta. Contudo, hoje, as crianças com condições favoráveis, são encorajadas a ler impressos, e com os vários auxílios eletrônicos e ópticos disponíveis, muitos deficientes da visão, portadores de visão subnormal, podem usar livros de estudo em tipos comuns. Embora lhe pareça que a escolha entre o Braille ou a impressão está longe, quando o tempo chegar, você, como pai, deveria:
discutir o assunto com um professor de deficientes visuais;
lembre-se de que a prontidão para o Braille depende da habilidade da criança em conseguir informação através de seus dedos, e esse processo começa na primeira infância;
procure o ponto de rendimento insuficiente. Se seu filho lutar cada vez mais com a impressão, talvez faça sentido ensinar-lhe Braille – ou ensinar-lhe a leitura do Braille e da tinta ao mesmo tempo, e permitir-lhe que faça a escolha.
Claro que a vantagem de ler a tinta é que todos os livros e jornais são em tinta, enquanto que livros em Braille nem sempre estão disponíveis. Mas com os novos dispositivos de leitura eletrônicos – computadores que falam e o Braille sem papel, por exemplo – talvez isto não seja um problema, no futuro.
Eu tenho que aprender o Braille?
Isso, realmente, depende de você. A maioria do material de Braille que seu filho precisa para a escola já está disponível; se não, é da responsabilidade da escola e do professor dos deficientes da visão providenciá-lo. Entretanto, se você souber Braille, e ler, visualmente, as palavras (em Braille) será mais fácil ajudar seu filho nas lições. Como adulto que já lê, você não terá que gastar muito tempo aprendendo; assim, não pense em sair correndo, enquanto seu filho for pequeno, para fazer um curso de Braille. Há tempo para pensar sobre isso.
Onde posso procurar ajuda?
Algumas escolas e centros de atendimento públicos e particulares têm programas especiais para crianças e pré-escolares cegos e portadores de visão subnormal. Para descobrir o que há disponível em sua comunidade, confira primeiro com o serviço de saúde de sua comunidade e peça a recomendação de um programa de estimulação precoce para seu filho.
Lembre-se que essa etapa lhe é absolutamente fundamental e imprescindível. Não deixe de buscar um serviço de estimulação para seu filho deficiente visual.
Faça valer o direito de acesso de seu filho portador de deficiência visual aos serviços de saúde, estimulação, educação, reabilitação, recreação, lazer, prática de atividades físicas, cultura e a todos os outros disponíveis em sua comunidade.
O que acontecerá quando meu filho for para o colégio?
Toda criança cega, de visão subnormal ou portadora de deficiência múltipla tem direito à educação apropriada. Isso significa que o tipo de educação que recebe, e onde recebe, depende de suas necessidades, a qualquer momento. Como pai, você tem o direito de participar das decisões.
Crianças deficientes da visão e portadoras de deficiência múltipla podem freqüentar a escola em qualquer dos seguintes modelos:
Sala de aula regular: (ensino inclusivo) aqui seu filho assiste à aula que assistiria se não fosse deficiente, trabalhando diretamente com seus colegas videntes. Um professor itinerante vai à escola para instruir seu filho em habilidades especiais.
Sala de recursos: aqui seu filho ainda está na sala de aula regular, mas fica mais tempo em outra sala, projetada especificamente para a instrução especial. Normalmente, há várias crianças que trabalham nessa sala de recursos, em diferentes momentos do dia.
Sala de aula especial: aqui seu filho trabalha a maior parte do dia numa sala de aula com outras crianças deficientes, entretanto, não necessariamente deficientes da visão. A sala de aula fica numa escola regular, e seu filho, normalmente, passa tempo com crianças não-deficientes no intervalo, na hora do almoço e talvez durante as aulas de música e de arte.
Escola especial: nesse lugar, seu filho freqüenta uma classe e escola que só tem crianças deficientes, nem todas deficientes da visão. O professor de seu filho pode ou não ser registrado no ensino de cegos e deficientes da visão, mas se não for, seu filho receberá os serviços de um professor itinerante de deficientes visuais.
Escola especializada: aqui, seu filho fica numa escola especializada para crianças cegas e de visão subnormal com a presença de professores e outros especialistas treinados para trabalhar com elas. Seu filho pode viver na escola a semana inteira ou se você morar bastante perto, pode ir e voltar da escola, diariamente.
Seu filho pode entrar e sair de quaisquer desses lugares, dependendo de suas necessidades educacionais, a qualquer momento específico. Por exemplo, ele pode precisar de ajuda extra quando for pela primeira vez ao colégio, mas depois, poderia freqüentar sua escola de bairro. Ou vice-versa. O importante é que sejam dados toda a educação e os serviços especiais de que seu filho precisa, e que os receba no ambiente o mais adequado possível.
Provavelmente, é difícil imaginar como seu filho se sairá na escola, já que pode ter dificuldade para ver o quadro-negro ou usar o livro de exercícios.
Professores de deficientes da visão têm muitas maneiras de adaptar materiais para seu filho utilizar. Se estiver interessado em aprender sobre alguns, leia o artigo “Quando você tem uma criança deficiente da visão em sua sala de aula: sugestões para professores”, publicado na revista Benjamin Constant, número 8.
O que os outros pais fazem?
Muitos pais acham útil conversar com pais de outras crianças cegas ou de visão subnormal. Pais de crianças mais velhas podem contar suas experiências e dar uma idéia do que acontecerá a seguir. Com pais de crianças da mesma idade que seu filho, você pode compartilhar alegrias, sucessos e trabalhar os problemas em conjunto. Ninguém tem, exatamente, os mesmos sentimentos que você, mas outros pais chegam muito próximo deles.
Kay Alicyn Ferrel
Tradução: Vicky Adler Amádio (adaptação livre de Antonio Menescal)Fim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
Esses sentimentos são normais. Você tem todo o direito de sentir-se assim por algum tempo. Porém, achamos que gostaria de saber um pouco mais sobre crianças cegas ou com visão subnormal. Outros pais de crianças deficientes da visão fizeram muitas dessas mesmas perguntas. As respostas que você ler aqui poderão ajudá-lo, levantar outras questões, ou fazê-lo sentir que seu filho não se ajusta a qualquer das perguntas ou respostas. Mas, pelo menos o texto lhe dará o primeiro impulso. Vai dar certo. Talvez não hoje, nem amanhã ou mesmo no próximo mês – mas vai dar certo.
O que devo esperar?
Primeiro, espere que seu filho seja como todas as outras crianças. Não importa a idade que tenha, ou o quanto é deficiente – seu filho tem as mesmas necessidades que outras crianças:
amor;
afeto;
carinho;
nutrição;
disciplina;
educação;
brincadeira;
compreensão;
paciência.
Seu filho talvez faça algumas coisas de maneira diferente das outras crianças – como olhar um livro muito de perto – e pode aprender algumas coisas mais rapidamente que outros – como memorizar enigmas e canções; lembre-se, apenas, que seu filho é um indivíduo. Você não conseguirá predizer como seu filho será, assim como seus pais tampouco puderam fazê-lo em relação a você.
Pôr-se no lugar da criança e imaginar como é ser deficiente visual, poderá ajudá-lo. Feche seus olhos e escute por alguns minutos. Se você estiver lendo isto na cama, talvez tudo que ouça seja o silêncio – talvez ouça seu bebê respirando, o tic-tac do relógio, ou um cachorro latindo lá fora. Mas, provavelmente, sabe de onde os sons estão vindo. Se estiver lendo isto num lugar muito barulhento – a televisão ligada, as crianças gritando lá fora, a chaleira assobiando, os cachorros latindo – não só é mais difícil ouvir o bebê respirar e o relógio fazer tic-tac, mas, também, dizer de onde esses sons estão vindo.
Seu filho deficiente visual aprenderá sobre sons à medida que crescer, mas precisará de ajuda para identificá-los e entender quais são importantes ouvir (tráfego, vozes, noticiários radiofônicos), e os que podem ser ignorados (o zumbir das luzes vindas da luminária, o sopro do vento).
Depois, tente imaginar como você aprenderia um esporte novo ou jogo se não enxergasse bem: não poderia imitar uma braçada, se não pudesse vê-la. Mas alguém poderia lhe ensinar a fazê-lo, movendo seus braços para você.
Crianças deficientes da visão usam sua audição, seu olfato, suas próprias mãos e todo seu corpo para aprender sobre o mundo. Assim, espere que seu filho:
seja curioso;
faça perguntas;
escute;
goste de brincar;
fique perto de objetos;
pegue-os;
precise que se mostre como fazer coisas;
não saiba do que não se aproximar, a menos que você lhe diga;
não perceba que é deficiente visual, ou compreenda o que isso significa, até que você ou outra pessoa lhe diga.
Lembre-se que a criança que nasceu cega não sabe o que é enxergar, tampouco tem consciência que outras pessoas enxergam.
O que meu filho vê?
Essa é uma pergunta realmente difícil de responder. Ninguém saberá o que seu filho vê até que ele possa falar. Seu médico – oftalmologista, optometrista ou pediatra – pode lhe explicar a condição do olho de seu filho, os sintomas e as características de cada tipo de patologia. Peça a seu médico um relatório, por escrito, de cada exame ocular de seu filho (caso você não o compreenda, peça ao médico que escreva numa linguagem mais acessível). Guarde esses relatórios para consultá-los de vez em quando. Eles também serão de grande utilidade para auxiliar o professor de seu filho, quando ele for para o colégio ou entrar num programa para crianças.
Quanto ao que seu filho realmente vê, terá que esperar que ele lhe diga. E, provavelmente, ele o fará muito antes que possa falar. Qualquer um destes comportamentos lhe dirá algo sobre o que e quanto vê:
piscar ou fechar os olhos em luz solar ou perto de uma luminária;
piscar ou fechar os olhos quando sair para o ar livre, ou vice-versa;
aproximar comida ou outros objetos para perto dos olhos ou de um só olho;
virar a cabeça em direção a uma fonte luminosa ou virar seu rosto buscando afastar-se de uma luz forte;
inclinar sempre a cabeça de certo modo;
tentar alcançar coisas de um só lado, somente a certa distância ou apenas as que estejam diretamente à sua frente;
esbarrar com coisas (altas ou baixas);
seguir objetos móveis com os olhos ou com a cabeça;
procurar objetos com os olhos ou com as mãos.
Não perca de vista estas coisas, se seu filho as fizer, e tente observar se ele as faz todo o tempo, às vezes, ou só em determinadas situações (como quando as luzes estiverem obscurecidas, ou quando você o estiver ajudando). À medida que ele for ficando mais velho, você descobrirá um pouco mais sobre sua visão pelo manuseio que faz de livros, pinturas, lápis e papel. De início é impossível prever quanta visão ele terá, ou se será um leitor de Braille ou de letras impressas. É esperar e ver.
É importante lembrar que, na maior parte dos casos, as crianças com visão subnormal usam melhor sua visão à medida que ficam mais velhas porque ficam mais sagazes, experientes e dedutivas, tendo um expressivo ganho, pelo uso, em sua visão funcional.
E se meu filho for cego?
Muitas crianças e adultos são totalmente cegos – e eles se saem bem. As pessoas cegas vivem, aprendem, amam, trabalham e fazem tudo o que as pessoas videntes fazem. Quando você vir uma pessoa cega, lembre-se: provavelmente, uma vez ela foi uma criança cega. O adolescente ou adulto que seu filho vier a ser, dependerá, em grande parte, do que vocês, como seus pais, fizerem agora. Se você não lhe ensinar a ter responsabilidade, ele não a terá. Se não espera que tenha sucesso, ele também não o esperará. Se sempre faz as coisas para ele, enquanto criança, alguém terá de fazê-las para ele, quando adulto.
Certamente, crescer sem visão torna-se um pouco mais difícil aprender sobre o mundo e mover-se nele. Mas seu filho cego não sabe que o seu modo de aprender é diferente do das outras pessoas. Na prática, a cegueira na infância quer dizer que:
Os acontecimentos usuais, comuns e cotidianos, podem precisar de explicação. Faça seu filho saber, por exemplo, que ovos mexidos, fritos e cozidos sempre começam como ovos crus.
Alguns eventos ficam fora da experiência direta de seu filho. Conte-lhe sobre os pássaros voando e dê-lhe a chance de tocar e segurar um. Fale das nuvens, do céu, do sol, da lua.
Seu filho pode precisar de ajuda para reunir partes e formar um todo. Seu filho não pode tocar um cachorro inteiro de uma vez só, mas ele pode sentir-lhe o nariz, orelhas, corpo, pernas, patas e rabo, separadamente. Você pode ajudá-lo, então, a entender que estas partes separadas, quando juntadas adequadamente, fazem um cachorro inteiro.
A imitação gestual é mais difícil. Seu filho precisará que se lhe mostre como utilizar a expressão gestual: é grande assim – bem pequeno – lá longe – ali daquele lado – lá em cima, são algumas das expressões que, quando usadas, geralmente são anexadas às suas expressões gestuais correspondentes. Seu filho não fará isso por imitação. Pegue em seus braços e ensine a ele.
A aprendizagem não vem naturalmente por imitação. Você não pode ter certeza de que seu filho se levantará e caminhará um dia, se ele nunca tiver visto alguém caminhar antes. Tampouco espere que roube um biscoito da lata se ele não souber onde a lata está.
Experiências reais têm mais valor do que as descrições das mesmas. Você pode contar a seu filho sobre ovos mexidos, fritos, cozidos e crus, mas significará mais se ele puder rachar, quebrar e cozinhar os ovos por si mesmo.
Seu filho não pode esperar que o mundo venha a ele. Você tem, inicialmente, que levar o mundo a seu filho – com palavras, movimentos, sentimentos, interpretações e oportunidades para aprendizagem.
Sua contribuição é necessária, porque seu filho desconhece até onde foi bem. Se ele tentar alcançar algo e não conseguir da primeira vez, como saberá o que precisará fazer da próxima, a menos que alguém lhe diga “quase”, “um pouco mais à direita”, ou “ei, você conseguiu!”?
E se meu filho tiver outra deficiência (deficiência múltipla)?
Crianças deficientes visuais podem ter uma outra deficiência associada. Se isso se der com seu filho, as mesmas regras de aprendizagem se aplicam:
providencie experiências reais;
ajude partes a se ajustarem ao todo;
crie oportunidades de aprendizagem;
dê sua cooperação;
demonstre como fazer as coisas.
Dependendo da deficiência de seu filho, algumas coisas que você faz com ele talvez tenham que ser repensadas. Por exemplo, se seu filho tiver paralisia cerebral ou uma outra deficiência motora, você necessitará aprender as melhores maneiras para posicioná-lo e carregá-lo. Se tiver deficiência auditiva, você precisará aprender mais sobre os modos de comunicar-se com ele. Há pessoas especializadas que poderão lhe dar “dicas” para criar seu filho.
Por que meu filho parece mais lento que outras crianças?
Todas as crianças, deficientes ou não, são diferentes entre si, isso é próprio da natureza humana, assim como também o é comparar seu filho com outras crianças. Mas como seu filho é deficiente visual ele tem um modo diferente de aprender e de fazer as coisas. Na verdade, não sabemos se as crianças deficientes da visão, no geral, aprendem mais lentamente que as outras, mas sabemos que suas chances e oportunidades para aprendizado são menores, em razão da deficiência. Ela limita o que a criança pode imitar ou apreender sozinha, mas não significa que não consiga aprender. Significa, ao contrário, que ela terá que depender de você e de outros para ensinar-lhe e mostrar-lhe o que, inicialmente, não pode aprender de modo natural.
Por que meu bebê parece tão quieto?
Um dos primeiros comentários que muitos pais fazem sobre seus filhos cegos ou de visão subnormal é que são quietos – que parecem imóveis em seus berços. Outros, dizem que seus bebês não gostam de ser tirados de lá – toda vez que o são, arqueiam as costas, se retesam, ou ainda, parecem querer se afastar. Isto acontece, de fato, com muitos bebês, mas por uma boa razão.
Quando você enxerga bem, vê, o tempo todo, o que acontece a seu redor. Se quiser, pode fechar seus olhos no momento que desejar e não ver. Com a visão, você tem o controle de tudo.
Entretanto, quando não vê bem, a história é diferente: pode ver de modo indistinto ou, talvez, só claridade e vultos. Dependerá de sua audição, olfato e tato para saber o que acontece a seu redor. Ao mexer-se em sua cama, não escutará muito, exceto o som de seu próprio movimento. Os bebês cegos e deficientes da visão ficam quietos e imóveis, por muito tempo, porque ficam escutando o que acontece à sua volta. Além disso, não podem fechar seus ouvidos para deixar de ouvir – têm que aprender o que cada som significa e por que eles são importantes.
A reação, ao ser apanhado, está relacionada com a aguda atenção que o bebê presta ao mundo. Se ele estiver atento ouvindo, sentindo-se seguro deitado na cama e, de repente, perceber que o estão movimentando, jogando para o ar – claro que vai se assustar e ficar transtornado. E seu modo natural de reagir é gritar, querer se afastar e voltar para onde estava.
Isto não quer dizer que não deva perturbar seu filho ou apanhá-lo. Significa que você deve pôr-se no lugar dele e imaginar como gostaria de brincar e ser apanhado. Desejaria algum aviso, de ter idéia do que está se passando. Isso também é verdadeiro para seu filho deficiente da visão. Diga-lhe o que faz, dê-lhe uma chance para responder e conte-lhe o que está fazendo, enquanto o fizer.
Embora pareça convidativo deixar seu filho aprender sobre o mundo em suas próprias condições, nem sempre essa é a melhor idéia. Experiências de movimento – ser conduzido ou mover-se sozinho – ensinam muito sobre o corpo: onde está situado no espaço e a maneira de usá-lo. Considerando que a visão é uma das maneiras que aprendemos sobre movimento, as crianças que têm pouca visão podem não se movimentar tanto quanto devem, justamente porque não tiveram chance de compreender por que o movimento é divertido.
Assim, faça com seu filho cego, deficiente da visão ou portador de deficiência múltipla o mesmo que você faria com seus outros filhos – apanhe-o, embale-o, faça-lhe cócegas, carinhos, carregue-o nas costas, brinque com ele. Se seu filho possuir mais de uma deficiência, faça as mesmas coisas, mas consulte um médico ou fisioterapeuta para descobrir se há modos especiais que você deva utilizar.
Por que meu filho não se movimenta muito?
Crianças aprendem a engatinhar e a andar porque vêem algo no quarto que desejam, ou porque assistem às pessoas a seu redor se movendo. Se seu filho não consegue ver um objeto, o qual, por sua vez, não faz qualquer ruído, provavelmente não sabe que o objeto lá está – e assim, não tem nenhuma razão para ir alcançá-lo.
É natural que você tente criar experiências tais para seu filho, que acabe levando com demasiada freqüência, o mundo para ele. Não poderá fazer isso sempre. O que realmente deseja fazer é encorajar seu filho para que “vá à luta” – que seja curioso, que explore, que descubra que existe outro mundo além da ponta de seus dedos. Você pode encorajá-lo a isso, ajudando-o a:
juntar dois e dois (“Está ouvindo? É o cronômetro na cozinha. Vamos ver se os biscoitos estão prontos... Vou tirá-los do forno... Deixemos que esfriem um pouco... Pegue um para você!” Fale sempre muito com seu filho);
ir buscar o que quer (Papai está aqui. Venha me pegar!” “Olhe a bola aqui, venha pegá-la!” – Usem os verbos olhar e ver de maneira natural, não os troquem por outros);
brincar de jogar bola e de esconder.
Tudo isso ensinará a seu filho que pessoas e objetos existem, até mesmo quando ele não os estiver tocando, ouvindo ou provando.
Seu filho não vê outras crianças engatinhando, caminhando, correndo ou saltando. É uma boa idéia mostrar-lhe como e ajudá-lo a fazê-lo.
Por que meu filho não se diverte muito com brinquedos?
Até que seu filho saiba o que um brinquedo é e como usá-lo, não terá uma noção correta de como brincar com ele. Escolhemos muitos dos brinquedos que damos a nossos filhos porque nós gostamos das cores – não porque o som seja particularmente atraente à criança, porque seja agradável, ou porque a criança pode fazer algo com ele. Os móbiles de berço que adquirimos são um notável exemplo disso. Eles parecem muito graciosos de onde estamos, mas do berço, onde o bebê está deitado, não têm qualquer interesse, a menos que se movimentem ou que façam barulho.
Não sabemos muito sobre a razão pela qual alguns brinquedos são mais interessantes que outros para crianças cegas e deficientes da visão. No entanto, sabemos que elas não conseguem brincar se não souberem que os brinquedos estão lá. Você pode ajudar seus filhos a achar os brinquedos à frente e atrás deles, pelo quarto, nas gavetas, em armários. E pode fazer disso uma diversão, brincando com seu filho e dando-lhe informações de como está indo: “Muito bem! Você pôs o bloco redondo no buraco redondo!”, “Veja como essas argolas de empilhar se ajustaram; uma em cima da outra?” e “Você sabe acelerar seu gravador? Está tentando achar sua canção favorita?”
Quando você comprar brinquedos para seu filho, procure os que têm as seguintes características:
inquebráveis;
não pontiagudos;
de cores luminosas (vermelho, amarelo, laranja, cor-de-rosa forte);
com grandes contrastes (amarelo e preto, preto e branco);
com partes móveis;
sonoros;
agradáveis ao toque;
com texturas diferentes.
Crianças cegas e de visão subnormal não brincam com muitos dos animais de pelúcia, fantoches e bonecas que compramos até que tenham o poder de abstrair do modelo para o real. Um cachorro com enchimento não parece, cheira ou soa como um cachorro e o rosto duro de plástico de uma boneca não se assemelha ao rosto de um bebê de verdade. Isso não quer dizer que você não deva dar a seu filho bonecas e animais de pelúcia; significa que você precisará brincar com ele e mostrar-lhe como ele pode usar sua imaginação, deixando que as abstrações se façam na idade certa.
Por que meu filho faz algumas coisas repetidamente (maneirismos)?
Crianças cegas, de visão subnormal ou portadoras de deficiência múltipla às vezes desenvolvem hábitos, como balançar-se, cutucar o olho ou mexer os dedos e os braços. Isso pode exasperá-lo, envergonhá-lo ou frustá-lo como pai. É tentador pôr a culpa dessas coisas na deficiência de seu filho. Mas, na verdade, todo mundo tem alguns hábitos irritantes – enrolar o cabelo, enrugar o nariz, ou coçar. A diferença é que as pessoas com visão podem ver os outros fazendo essas coisas ou olhar-se em um espelho e resolver, baseando-se no que vêem, se querem continuar a fazê-las. A criança cega freqüentemente conserva esses maneirismos, porque não sabe com o que se parecem.
Há muitas teorias sobre por que crianças cegas desenvolvem de maneira tão forte esses maneirismos. Algumas pessoas dizem que é porque bebês deficientes da visão ou portadores de deficiência múltipla não são suficientemente ativos; outros, que não tiveram bastante estimulação vestibular e cinestésica – isto é, não se movimentaram o bastante para sentir seus corpos em diferentes posições no espaço. Outros ainda acham que os bebês deficientes da visão apertam os olhos porque isso faz flashes de luz (fará para você, também). Os maneirismos podem parecer particularmente fortes em tempos de estresse – quando seu filho estiver tendo dificuldade para fazer algo ou estiver assustado. Claro que seu filho deficiente da visão ou com deficiência múltipla também pode, simplesmente, achar isso bom.
Mas, na verdade, não importa por que seu filho faz o que faz. Esses comportamentos podem ser, no futuro, um fator dificultador no seu processo de convívio e de participação social. É importante modificar o padrão de comportamento – corrigindo-o, lembrando-o sobre o que está fazendo ou desviando sua atenção para outra atividade. Um professor pode ser de grande ajuda, se decidir que quer mudar o comportamento de seu filho. Mas você tem que se lembrar de ser constante – não pode corrigir uma vez sem fazê-lo na próxima, porque isso dará a seu filho uma mensagem confusa. Talvez você queira dizer isso, talvez não. Ele continuará a testá-lo inúmeras vezes, até um de vocês dois cansar (geralmente você!).
Por que meu filho repete tudo o que digo?
Ecolalia – repetir ou ecoar o que as outras pessoas dizem – é uma fase pela qual todas as crianças passam. É um modo de treinar a fala e aprender sobre a linguagem e a comunicação. Às vezes, nas crianças cegas e de visão subnormal essa fase parece durar muito tempo. A linguagem é abstrata. As palavras representam pessoas, conceitos ou coisas. Enquanto a criança não compreender isso, será incapaz de juntar as palavras para fazer seu próprio discurso. Repetir o que outros dizem é mais fácil.
Se tentou, algum dia, aprender um idioma estrangeiro, poderá avaliar o que seu filho está tentando fazer: você repetiu palavras e frases antes que soubesse usá-las de maneira conexa e coerente. Só quando soube o que as palavras estrangeiras significavam, pôde colocá-las numa frase feita por você mesmo. E é assim para seu filho. Entretanto, é um pouquinho mais complicado para a criança que não pode ver aquilo sobre o que está falando. Pode demorar um pouco mais até que dê o salto da fala imitativa para a comunicação.
Você pode ajudar seu filho deficiente visual ou portador de deficiência múltipla fazendo-se algumas perguntas:
Estarei apenas nomeando as coisas para meu filho, ou as estou descrevendo, falando sobre elas, relacionando-as a outros acontecimentos de sua vida?
Estarei apenas repetindo as palavras que meu filho diz ou estou lhe dando, a cada vez, um pouco mais de informação?
Estarei lhe fazendo perguntas demais?
Estarei lhe dando uma chance de responder às perguntas que faço?
Antecipo o que deseja ou espero que me diga (através de palavras ou ações) o que quer?
Se for cuidadoso com a maneira como usa a linguagem, você poderá ajudar seu filho a passar da ecolalia para a linguagem real.
Como meu filho saberá onde está?
Se você não é deficiente da visão ou portador de deficiência múltipla, pode-lhe ser difícil imaginar como seu filho aprenderá a identificar onde está e se localizar nesse espaço. Você se baseia em sua visão para saber onde está. Seu filho se baseará em sua audição, tato e olfato para sabê-lo.
Em sua casa, cada quarto dá pistas diferentes, através dos materiais que forram o chão e as paredes, e para que objetivo o quarto é usado. Por exemplo, a cozinha pode ter um chão de cerâmica e cheirar a comida; o banheiro cheira a umidade e até se pode sentir as paredes ligeiramente úmidas; a sala de estar pode ter um tapete no chão e um relógio fazendo tic-tac alto; o quarto pode soar “macio”, porque a cama absorve todos os sons. A janela da cozinha é grande, por lá entra sol e vento. À medida que seu filho cresce, ele começa a usar outros marcos para ajudá-lo a saber onde está.
Se ensinar, logo cedo, seu filho a prestar atenção nessas coisas, não lhe será difícil aprender. Faça com que ele forme o mapa mental do ambiente de sua casa – onde fica o banheiro em relação ao seu quarto, enfim, qual a localização de todos os cômodos e a relação espacial entre eles.
Quando meu filho precisará de uma bengala?
Essa também é uma decisão individual, que depende de seu filho e de você. Bengalas oferecem proteção à criança ou ao adulto, principalmente, porque dão informação sobre o que está à frente, antes de colidir. Por isso, seu filho pode não precisar de uma bengala até estar pronto a agir sozinho – como completar uma incumbência para você ou ir sozinho para a escola.
Entretanto, muitas pessoas acham que as crianças deveriam ter bengalas o mais cedo possível – até mesmo logo que começam a caminhar. Já outras dizem que a bengala só deve ser adotada a partir dos treze ou quatorze anos de idade. Você deve pedir as opiniões de professores e instrutores de Orientação e Mobilidade antes de tomar sua decisão. Algumas das perguntas seguintes talvez o ajudem:
Meu filho precisa de bengala? Para que a usaria?
Meu filho consegue caminhar direito?
Meu filho usa suas mãos para conseguir informação ou se agarra a objetos sem realmente explorá-los?
Como a bengala afetaria seu equilíbrio ao andar?
Como a bengala afetaria suas brincadeiras com as crianças vizinhas?
Ele precisa da bengala o tempo todo?
A bengala para ele seria um instrumento de segurança e locomoção ou apenas um brinquedo?
Ele com a bengala deixa de absorver e utilizar as informações táteis, auditivas e olfativas do ambiente?
Com ela parece estar sem orientação espaço-temporal?
Todos terão uma opinião sobre bengalas, mas a sua opinião e a de seu filho, principalmente, é que contam.
Quando meu filho aprenderá o Sistema Braille?
Seu filho cego, portador de visão subnormal ou de deficiência múltipla aprenderá o Sistema Braille quando estiver pronto para começar a aprender a ler, e o fará do mesmo modo que as crianças videntes aprendem a ler em tinta. Um professor de crianças deficientes da visão pode fazer algumas etiquetas plásticas em Braille para você pôr pela casa em portas, cadeiras, pias, etc., o que exporá seu filho à palavra escrita. Também pode adquirir histórias de crianças em sistema comum, com páginas plásticas em Braille, assim, enquanto você ler, ele poderá “segui-la em Braille”, mesmo sem saber ler ainda. Agora, já se consegue comprar vários livros de criança em fita cassete.
É importante que a criança cega tenha o contato com a palavra escrita em Braille o mais cedo possível. A criança de visão normal vê as palavras em tudo – TV, revistas, livros, cartazes. Seu primeiro contato com a palavra escrita se dá muito cedo. Já a criança cega, na maior parte da vezes, tem o primeiro contato com a palavra escrita no momento de sua alfabetização.
Todas as crianças deficientes da visão podem aprender o Braille, independente de conseguirem ou não ler em tinta. Contudo, hoje, as crianças com condições favoráveis, são encorajadas a ler impressos, e com os vários auxílios eletrônicos e ópticos disponíveis, muitos deficientes da visão, portadores de visão subnormal, podem usar livros de estudo em tipos comuns. Embora lhe pareça que a escolha entre o Braille ou a impressão está longe, quando o tempo chegar, você, como pai, deveria:
discutir o assunto com um professor de deficientes visuais;
lembre-se de que a prontidão para o Braille depende da habilidade da criança em conseguir informação através de seus dedos, e esse processo começa na primeira infância;
procure o ponto de rendimento insuficiente. Se seu filho lutar cada vez mais com a impressão, talvez faça sentido ensinar-lhe Braille – ou ensinar-lhe a leitura do Braille e da tinta ao mesmo tempo, e permitir-lhe que faça a escolha.
Claro que a vantagem de ler a tinta é que todos os livros e jornais são em tinta, enquanto que livros em Braille nem sempre estão disponíveis. Mas com os novos dispositivos de leitura eletrônicos – computadores que falam e o Braille sem papel, por exemplo – talvez isto não seja um problema, no futuro.
Eu tenho que aprender o Braille?
Isso, realmente, depende de você. A maioria do material de Braille que seu filho precisa para a escola já está disponível; se não, é da responsabilidade da escola e do professor dos deficientes da visão providenciá-lo. Entretanto, se você souber Braille, e ler, visualmente, as palavras (em Braille) será mais fácil ajudar seu filho nas lições. Como adulto que já lê, você não terá que gastar muito tempo aprendendo; assim, não pense em sair correndo, enquanto seu filho for pequeno, para fazer um curso de Braille. Há tempo para pensar sobre isso.
Onde posso procurar ajuda?
Algumas escolas e centros de atendimento públicos e particulares têm programas especiais para crianças e pré-escolares cegos e portadores de visão subnormal. Para descobrir o que há disponível em sua comunidade, confira primeiro com o serviço de saúde de sua comunidade e peça a recomendação de um programa de estimulação precoce para seu filho.
Lembre-se que essa etapa lhe é absolutamente fundamental e imprescindível. Não deixe de buscar um serviço de estimulação para seu filho deficiente visual.
Faça valer o direito de acesso de seu filho portador de deficiência visual aos serviços de saúde, estimulação, educação, reabilitação, recreação, lazer, prática de atividades físicas, cultura e a todos os outros disponíveis em sua comunidade.
O que acontecerá quando meu filho for para o colégio?
Toda criança cega, de visão subnormal ou portadora de deficiência múltipla tem direito à educação apropriada. Isso significa que o tipo de educação que recebe, e onde recebe, depende de suas necessidades, a qualquer momento. Como pai, você tem o direito de participar das decisões.
Crianças deficientes da visão e portadoras de deficiência múltipla podem freqüentar a escola em qualquer dos seguintes modelos:
Sala de aula regular: (ensino inclusivo) aqui seu filho assiste à aula que assistiria se não fosse deficiente, trabalhando diretamente com seus colegas videntes. Um professor itinerante vai à escola para instruir seu filho em habilidades especiais.
Sala de recursos: aqui seu filho ainda está na sala de aula regular, mas fica mais tempo em outra sala, projetada especificamente para a instrução especial. Normalmente, há várias crianças que trabalham nessa sala de recursos, em diferentes momentos do dia.
Sala de aula especial: aqui seu filho trabalha a maior parte do dia numa sala de aula com outras crianças deficientes, entretanto, não necessariamente deficientes da visão. A sala de aula fica numa escola regular, e seu filho, normalmente, passa tempo com crianças não-deficientes no intervalo, na hora do almoço e talvez durante as aulas de música e de arte.
Escola especial: nesse lugar, seu filho freqüenta uma classe e escola que só tem crianças deficientes, nem todas deficientes da visão. O professor de seu filho pode ou não ser registrado no ensino de cegos e deficientes da visão, mas se não for, seu filho receberá os serviços de um professor itinerante de deficientes visuais.
Escola especializada: aqui, seu filho fica numa escola especializada para crianças cegas e de visão subnormal com a presença de professores e outros especialistas treinados para trabalhar com elas. Seu filho pode viver na escola a semana inteira ou se você morar bastante perto, pode ir e voltar da escola, diariamente.
Seu filho pode entrar e sair de quaisquer desses lugares, dependendo de suas necessidades educacionais, a qualquer momento específico. Por exemplo, ele pode precisar de ajuda extra quando for pela primeira vez ao colégio, mas depois, poderia freqüentar sua escola de bairro. Ou vice-versa. O importante é que sejam dados toda a educação e os serviços especiais de que seu filho precisa, e que os receba no ambiente o mais adequado possível.
Provavelmente, é difícil imaginar como seu filho se sairá na escola, já que pode ter dificuldade para ver o quadro-negro ou usar o livro de exercícios.
Professores de deficientes da visão têm muitas maneiras de adaptar materiais para seu filho utilizar. Se estiver interessado em aprender sobre alguns, leia o artigo “Quando você tem uma criança deficiente da visão em sua sala de aula: sugestões para professores”, publicado na revista Benjamin Constant, número 8.
O que os outros pais fazem?
Muitos pais acham útil conversar com pais de outras crianças cegas ou de visão subnormal. Pais de crianças mais velhas podem contar suas experiências e dar uma idéia do que acontecerá a seguir. Com pais de crianças da mesma idade que seu filho, você pode compartilhar alegrias, sucessos e trabalhar os problemas em conjunto. Ninguém tem, exatamente, os mesmos sentimentos que você, mas outros pais chegam muito próximo deles.
Kay Alicyn Ferrel
Tradução: Vicky Adler Amádio (adaptação livre de Antonio Menescal)Fim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
REAÇÕES PSICOLÓGICAS À PERDA DA VISÃO
Introdução
Este trabalho teve início no Instituto Benjamin Constant (IBC) a partir do meu contato com pacientes cegos e com perda parcial da visão, onde tive a oportunidade de trabalhar como psicóloga por dois anos (1983/85).
O meu trabalho é direcionado para a prevenção da perda da visão, pois mesmo em casos reduzidos, o paciente tem grande participação “inconsciente” no retardo do diagnóstico e na dificuldade de reabilitação, contando ainda com vários outros fatores dentro do processo.
Apesar dos recursos com que se pode contar atualmente para evitar a perda da visão, a cada dia muitas pessoas ficam cegas por doença, acidente ou velhice. Para uma pessoa com visão normal, a perda repentina de seu mais precioso sentido é muito difícil. Principalmente se considerarmos que em nosso mundo cada vez mais orientado visualmente, ninguém conta com a possibilidade de ficar cego.
Do ponto de vista psicológico, mesmo o indivíduo mais saudável mentalmente utilizará mecanismos importantes para a sua adaptação à cegueira.
Embora a Psicanálise e a Psiquiatria estejam familiarizadas em lidar com perdas, raramente têm a oportunidade de observar passo a passo as reações e o funcionamento da catástrofe que sofre o paciente com a perda total da visão.
A necessidade de uma profunda reorganização psicológica destes pacientes requer um amparo urgente para que eles possam lidar com esta perda que influi em todos os aspectos de suas vidas.
Religião, mitologia e cegueira
Nos templos bíblicos, a cegueira era um mal comum. Esta condição era freqüentemente encarada como uma punição por algum ato maligno ou como um traço do destino, só podendo ser revertida por Deus. Nos tempos bíblicos, os cegos estavam forçosamente condenados a uma vida de dificuldades e pobreza.
Alguns exemplos bíblicos de cegueira auto-infligida são os casos de Santa Luzia, padroeira dos cegos e doentes dos olhos, e S. Triduana e S. Medana, padroeiros da oftalmologia.
Seguem-se casos históricos, como o relatado por Marco Pólo, no séc. XIII. Ao chegar em Bagdá, soube da história de um sapateiro que destruíra o olho direito com uma sovela, sentindo-se culpado pelos pensamentos pecaminosos que teve ao ver exposta uma parte da perna de uma jovem mulher.
No século passado, o conhecimento da mitologia grega era essencial para qualquer pessoa poder considerar-se educada.
A mitologia também considera a cegueira como punição aos pecados. Provavelmente, os primeiros casos de cegueira auto-infligida foram relatados nas mitologias grega e nórdica. A história de Édipo nos é bem conhecida. Na literatura nórdica, diz-se que Odin deu um de seus olhos em troca do direito de beber um único gole na fonte de Mimir, cujas águas continham o dom da sabedoria e do entendimento.
A bela lenda de Lady Godiva nos conta que todos os habitantes da cidade esconderam-se por trás de suas venezianas fechadas a fim de tornar mais fácil a tarefa da senhora de cavalgar nua pelas ruas em pleno dia. O único homem que espiou através das venezianas o seu belo corpo desnudo foi punido com a cegueira.
Embora alguns estigmas da cegueira mencionados acima sejam parte do passado, também na sociedade moderna as pessoas cegas são evitadas, ignoradas ou superprotegidas.
Reações à perda da visão
Segundo Adams (1980), um dos primeiros trabalhos da literatura psiquiátrica que falava sobre as reações à cegueira intitula-se “The Mental State of the Blind” (1908), de autoria de William Dunton, e foi publicado no American Journal of Insanity.
Adams mostra que Luiz Cholden também contribuiu com considerações sobre os problemas psiquiátricos observados em seu atendimento em reabilitação de cegos na Menninger Clinic. Segundo o autor, a primeira fase que aparece com o choque da cegueira é o estado de imobilidade psicológica, descrito como “proteção emocional anestésica”. Seria impossível colocar um limite de tempo nesta fase, mas ele sentiu que quanto mais longa fosse a fase do choque, mais prolongado e difícil seria o processo de reabilitação.
Seguindo-se à fase do choque, surge a depressão reativa envolvendo sentimentos e desejos de autopiedade, necessidade de confidências, pensamentos suicidas e retardamento psicomotor.
Para Cholden, a depressão seria o luto pelos “dead eyes”, pela perda de visão. Percebeu que o paciente tinha que morrer como pessoa que enxerga para renascer como pessoa cega.
Observou que o choque e a depressão são necessários à progressão, para se lidar melhor com a cegueira no próximo estágio.
Observou três reações “permanentes” na cegueira, que ele considera como representantes psicopatológicos. A primeira era o prolongamento da fase depressiva para a depressão masoquista. A segunda, o desenvolvimento das desordens características, que poderia ser um exagero de fatos preexistentes, como por exemplo, uma dependência crônica. E por último, descreveu um fenômeno no qual alguns pacientes cegos formavam um grupo representando uma minoria contra aquilo que eles consideravam “um mundo hostil, estúpido e sem consideração, das pessoas com visão normal”.
Ainda segundo Adams, em 1970 Fitzgerald estudou as reações à cegueira de forma moderna, sistemática e científica e descreve quatro fases distintas de reações. Primeiro a descrença, quando os pacientes tendem a negar sua cegueira. Depois, a fase de protesto, quando eles vão procurar uma segunda opinião ou recusam-se a usar a bengala branca. Em terceiro lugar ocorre a depressão, com os sintomas clássicos de perda de peso, mudança de apetite, idéias suicidas e ansiedades paranóides. E por fim acontece a recuperação, quando os pacientes aceitam a cegueira num estágio em que não se percebe qualquer distúrbio psiquiátrico. Fitzgerald estimava um período de dez meses para que o paciente percorresse essas quatro etapas.
O processo de luto é visto como uma fase importante que muitas vezes nem se realiza. Nesses casos, o paciente assume o caráter de uma negação maníaca, ocasionando reações neuróticas moderadas ou severas.
As características mais freqüentemente observadas nestas reações são:
dependência acentuada em relação aos adultos ou negação da mesma;
recusa à competição ou constante preocupação em comparar-se e competir;
repressão da agressividade com excessiva amabilidade ou grande agressividade;
hipersensibilidade a críticas;
dificuldade de relacionamento com outros deficientes visuais e entre eles os “videntes”;
insegurança a respeito de si mesmo;
desconfiança acentuada em relação a outras pessoas e suas intenções;
manifestações de ressentimentos pela sensação de não ser querido e aceito pelo mundo, pois julga que ser diferente é ser inferior;
predominância de pensamento mágico e misticismo;
sentimentos de inveja;
descontentamento e uma crítica severa em relação aos demais;
desconfiança acentuada sobre sua capacidade sexual (cegueira = castração);
busca de um parceiro que também seja deficiente visual;
isolamento, evitando situações sociais;
acentuada necessidade de aprovação e afeto.
No trabalho com pacientes com perda da visão é observado um predomínio de traços paranóides que não devem ser avaliados somente como fantasia, pois existe um rechaço real da sociedade em relação ao deficiente visual.
Nos autores pesquisados, há concordância quanto às quatro fases que acontecem quase universalmente nos primeiros estágios da cegueira.
Segundo Fitzgerald são elas: descrença, protesto, depressão e finalmente recuperação. Blank e Cholden descrevem uma fase inicial de despersonalização, elevando a uma depressão reativa ou agitada, eventualmente seguida da recuperação. Blank afirma ainda que o paciente fica um pouco perturbado com a perda de visão como mau sinal, e sugere como conseqüência uma grave necessidade neurótica de punição.
O sofrimento é a reação real à perda de um objeto, enquanto a angústia é a reação ao perigo que essa perda acarreta.
Quando existe a dor física, ocorre em elevado grau aquilo que poderia ser definido como investimento narcísico do local. A transição da dor física para a dor mental corresponde a uma mudança do investimento narcísico para o investimento do objeto. O luto ocorre sob a influência do teste da realidade, pois esta última função exige categoricamente que o paciente se separe do objeto que não mais existe.
Outras perdas somam-se à perda da visão:
Perda da integridade física (o indivíduo sente-se mutilado, está diferente do que era anteriormente e diferente dos que o cercam);
Perda dos sentidos remanescentes (há uma desorientação inicial, causando diminuição do tato, olfato, memória, capacidade motora etc.);
Perda do contato real com o meio ambiente (como se morresse para o mundo das coisas, perdendo assim um importante vínculo com a realidade);
Perda do “campo visual” (olha para algo que não se encontra mais ali – silêncio visual);
Perda das habilidades básicas (capacidade de andar; estando só é observado, e estando com outras pessoas sente-se isolado);
Perda das técnicas da vida diária (passa por repetidos fracassos nessas atividades que nunca o deixam esquecer que está cego. Ex: comer, beber, funções intestinais, conservar-se limpo e arrumado, despir-se à noite e vestir-se pela manhã, barbear-se, maquiar-se, higiene pessoal, distinguir a pasta de dente do creme de barbear, controlar as contas, preencher cheques, contar dinheiro, localizar objetos que derrubava, comer em restaurante etc.) Tais perdas obrigam o deficiente visual a depender, em maior grau, das outras pessoas, restringindo severamente sua autonomia;
Perda da facilidade de comunicação escrita (livros, jornais, fotografias, não pode ler a própria correspondência, perdendo a reserva pessoal, e impossibilitado também de assinar o próprio nome);
Perda da facilidade da comunicação corporal (postura, gestos, mímica e expressões faciais, não pode ver as reações da pessoa com quem fala);
Perda da visão dos rostos familiares, artes etc;
Restrições em sua recreação (que poderia ajudá-lo na superação da crise);
Perda da obscuridade (não passa mais despercebido na sua rua, por isso muitas vezes rejeita a bengala e qualquer objeto que possa identificá-lo como cego);
Perda da profissão (perde a capacidade de produzir e de sentir-se útil). Perdendo muitas vezes sua segurança financeira, numa fase em que necessita gastar mais com sua reabilitação;
Sendo inúmeras as limitações, uma série de frustrações acompanha uma desorganização na personalidade e na perda da auto-estima.
Mudança do setting
O trabalho com o paciente cego em um relacionamento psicoterapêutico exige que o terapeuta se conscientize de algumas interações especiais, que podem surgir durante o processo, incluindo questões de transferência e contra-transferência. Antes do início da terapia, deve o psicoterapeuta tentar examinar o seu próprio setting quanto ao que ele acredita ser a sua própria atitude diante da cegueira, o que a cegueira significaria para ele, e – especialmente – que experiências ele teve com cegos no passado.
Para Adams (1980), desde o início deve o terapeuta estar disposto a assumir um papel mais ativo. No primeiro contato, na sala de espera, o terapeuta deve anunciar a sua presença em voz alta, e deve estar pronto para tocar o paciente e permitir que este o toque, deixando que ele segure em seu braço com firmeza até ambos estarem sentados no consultório. O terapeuta deve saber que comportamentos como gesticular, ou expressão facial podem estar ausentes ou destorcidos no paciente cego. Ainda: algumas das pistas visuais normalmente utilizadas em terapia podem ter que ser sacrificadas. O terapeuta não pode esperar que o paciente cego reaja a um olhar. Portanto, ele deve aprender a traduzir em palavras estas emoções visuais. O paciente cego pode ter dificuldades com “contato visual” e aparentar não estar vinculado ao terapeuta (quando, na realidade, ele está claramente em harmonia com a sessão). Por outro lado, alguns pacientes mantêm um contato visual tão bom, que o terapeuta pode esquecer que o paciente não possui visão.
Uma parte necessária para a terapia com pessoas cegas é a disposição de se explicar detalhadamente o ambiente. Pode ser, porém, que o terapeuta queira primeiro explorar a fantasia que o paciente tem a respeito do mesmo.
O terapeuta deve lembrar-se que a sua própria curiosidade pode levá-lo a seguir um detalhe que seja de seu interesse, em vez de ser o foco da terapia. (Por exemplo, o paciente deprimido pode descrever como lhe é difícil vestir-se de manhã. O terapeuta pode interessar-se por outros aspectos, e não pela falta de energia ou interesse do paciente). Estas distrações podem ser informativas, mas também prolongam o curso da terapia. De um modo geral, o terapeuta demorar a estabelecer um relacionamento terapêutico com o paciente cego, demora que pode ser reduzida mediante conhecimentos prévios sobre o comportamento dos cegos.
A importância da psicoterapia com estes pacientes torna-se ainda maior se pensarmos no tratamento que a sociedade dava aos cegos no passado. O conhecimento de algumas reações psicológicas, bem como do processo de aceitação da cegueira, é fundamental para que se estabeleça uma relação de sintomas específicos associados ao problema.
O trabalho psicoterapêutico com o deficiente visual pode ser acelerado se o terapeuta estiver disposto a explorar suas próprias reações diante do paciente. Assim estabelecem-se os alicerces para um processo psicoterapêutico ativo que podem facilitar e aprofundar o tratamento.
Apesar da psicoterapia ter que focalizar principalmente os problemas psicológicos do paciente, o psicoterapeuta também deve estar disposto a auxiliá-lo a encontrar um papel mais satisfatório na sociedade, estando atento a habilidades e interesses mencionados pelo paciente antes da perda de visão.
Interação analista x paciente
Conduta no tratamento
A psicanálise em geral acha-se pouco preparada para encarar terapeuticamente soluções de emergência. Alguns profissionais preferem chamá-las de “Psicoterapia de Apoio”. No momento de crise, quando o paciente é levado pela família – pois dificilmente procura espontaneamente o consultório – é inútil para ele outra atitude que não seja encarar o fato atual como o mais importante. Alguma conduta imediata tem que ser adotada.
O estado atual é reflexo de acontecimentos penosos vividos ou fantasiados na infância e que devem ser localizados pelo analista. A fase aguda do momento estaria relacionada a um fato atual, um fator desencadeante de grande intensidade ou a somatização de microtraumas constantes.
Sob o ponto de vista das “instâncias psíquicas” nos encontramos em uma situação em que o id frustrado por um superego rígido, punitivo e ameaçador, pressiona um ego fraco ou enfraquecido cheio de culpabilidade e masoquismo que poderá reagir pondo a agressividade para fora contra o outro ou contra si mesmo até a destruição do self.
Em situações comuns, as “falas” dessas instâncias podem ser encontradas nas emergências, apresentando as tempestades de afetos, com o paciente gritando e amedrontando ao mesmo tempo em que se apresenta como vítima. Ou então o paciente fala ponderadamente, apresentando-se como frio e vazio de afeto, pois está isolado.
A reação do paciente à urgência é imprevisível, e as repressões muito profundas indicam risco de suicídio.
O psicanalista está acostumado a interpretar, mostrar, compreender, etc. Mas no momento da crise, o que pode ser interpretado? O “como”, o “porquê”, o “para quê” ou o “o quê?” Mostrar compreensão sem compreender? Ser dadivoso?
Na verdade há pouco a ser feito, mas também não podemos ficar sem fazer nada. Podemos tentar alguma coisa. Uma delas seria entrar em contato com algum resíduo de Ego sadio mostrando que há finalidade naquela conduta.
Outra possibilidade seria procurar descobrir a situação desencadeante ou frustradora – ou ambas combinadas – e procurar substituir o superego perseguidor por um menos rígido, assumindo conscientemente o papel de um superego auxiliar, mais compreensivo e menos perseguidor.
Dados que devem ser vistos como importantes:
a) É mais fácil entrar em relacionamento com o cliente que pede ajuda espontaneamente;
b) o setting hospitalar pode ser favorecedor.
Já o atendimento em residência ou o fornecimento de dados pela família são fatores muito negativos. Se o cliente não quer falar, ele tem alguma razão para isto, e é melhor que ele não fale do que ouvirmos o que a família tem a dizer sobre ele. Pois o doente pode ser depositório dos aspectos doentes da família que o mantém cronicamente doente.
Há também o sentimento de culpa deslocado e a família pode receber o analista com hostilidade, acusando-o de não ter feito nada.
Basicamente, a intuição é o elemento fundamental da ajuda que o terapeuta pode oferecer na emergência.
Teoricamente :
1. Abrir sua sensibilidade, intuição, identificar-se com o cliente, e se tornar um corpo de ressonância para o inconsciente dele.
2. Usar a inteligência para entender conscientemente o que o inconsciente sentiu; sentir o que liga e o que separa; analisar e sintetizar; diferenciar o essencial do secundário; e tentar compreender e sentir a pessoa dentro da doença.
O terapeuta deve oscilar entre o esquecer e lembrar, a reação intuitiva e o discriminar intelectual, ser um instrumento passivo/ativo sensível e ao mesmo tempo um ouvinte crítico e racional.
Estas condições não podem ser ensinadas. Elas são inerentes a certos tipos de pessoas, e ainda assim, podem não funcionar em determinados momentos.
A personalidade do psicanalista, junto com o conhecimento que ele adquiriu em sua formação, aumenta sua possibilidade de empatia e identificação com o cliente.
Existe emergência e o bom manejo dela depende principalmente de uma capacidade especial do terapeuta que intui a gravidade da situação, tendo apenas como conhecimento que, via de regra, o elemento predominante da emergência é o ódio, a destruição e a vingança.
No início do tratamento, as interpretações são irrelevantes ou podem até mesmo se transformar num insulto. Talvez mais importante do que o conteúdo, em todo caso, sejam os processos dinâmicos que ocorreram tanto em níveis conscientes quanto inconscientes.
Freud, em Psicanálise Silvestre, fala da idéia de que o paciente sofre de uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue tirá-lo desse estado dando-lhe informação (sobre a conexão causal da doença com a sua vida etc.) ele deve recuperar-se. O fator patológico não é esse ignorar propriamente, mas está no fundamento dessa ignorância, em suas resistências internas; foram elas que primeiro produziram o ignorar, e são elas que ainda o conservam. A tarefa do tratamento está no combate a essas resistências.
Informar ao paciente aquilo que ele não sabe porque reprimiu é apenas uma das preliminares necessárias ao tratamento. Se o conhecimento acerca do inconsciente fosse tão importante para o paciente como as pessoas sem experiência em psicanálise imaginam, ouvir conferências ou ler livros seria suficiente para curá-los.
Uma vez que a psicanálise não pode abster-se de dar essa informação, Freud prescreve que isto não poderá ser feito antes que duas condições tenham sido satisfeitas: “Primeiro, o paciente deve, através de preparação, ter alcançado ele próprio a proximidade daquilo que ele reprimiu; e, segundo, ele deve ter formado uma ligação (transferência) com o analista para que o seu relacionamento emocional com este possibilite uma nova fuga.
Somente quando essas condições são satisfeitas torna-se possível reconhecer e dominar as resistências que conduziram à repressão e à ignorância. A intervenção psicanalítica, portanto, requer de maneira absoluta um período bastante longo de contato com o paciente.
Destaca também o valor da ignorância, ainda que não sejamos ignorantes. Uma “ignorância cultivada” é a necessidade de se lançar um olhar novo para a situação, de se deixarem de lado modos habituais de olhar para as coisas, de cegar-se para o óbvio e de pensar mais uma vez.
É importante convidar o paciente a falar livremente de seu sentimento, de seu sofrimento, enfim, convidá-lo à associação livre.
A importância de um apoio central, a família, a presença de alguém que possa dar força e suporte para continuar o processo de desenvolvimento na ajuda não das mudanças sonhadas, desejadas, mas possíveis.
Uma atenção cuidadosa à contra-transferência também é necessária.
Nosso envolvimento pode tornar mais difícil a observação cuidadosa. A supervisão pode ser muito útil na ajuda de interferências no relacionamento.
Estudo de caso
De um modo geral, em psicanálise, só recebemos encaminhamento para tratar de pessoas que de alguma forma não conseguiram se adaptar às tensões em suas vidas. Não pretendo apresentar estudo detalhado de casos, mas uma interação entre a teoria e a observação de dois casos bem distintos.
Diferentemente dos casos que estudei, onde o acompanhamento psicológico ocorre simultaneamente ao clínico (como medida preventiva), recebi os pacientes encaminhados pelo Instituto Benjamin Constant (IBC) somente após terem sido esgotadas outras alternativas de ajuda.
Como medida de proteção aos pacientes, pouparei dados pessoais que poderiam identificá-los.
CASO 1
Tratamento: três anos. Beatriz, 59 anos, desquitada, vivendo com companheiro há vários anos, foi encaminhada ao IBC para aprendizado de trabalhos manuais. Só depois de várias faltas às consultas marcadas, convidei-a ao consultório. Então ela pôde comparecer, deixando clara a rejeição ao contato com outros deficientes visuais.
Durante a fase inicial do tratamento, confesso que passei por conflitos, questionando o que eu teria para oferecer àquela paciente que se encontrava em estado de desamparo, desesperança e depressão, com todas as perdas por que passam os pacientes que se tornaram cegos.
Penso que o fundamental para mim foi perceber que ela estava no consultório, falando, escutando e pensando; logo, havia socorro para ela.
A cada frase Beatriz chorava, tossia, se engasgava, sufocava. Eu me via diante de um bebê.
A primeira providência foi a mudança de setting e de horário. Coloquei-a num horário em que me sentisse mais livre se precisasse ultrapassar o tempo da sessão.
Um copo de água mineral fez parte do setting durante aproximadamente dois meses, até que minha colega de consultório observou que a paciente não bebia mais a água.
Aos poucos fui localizando-a no setting, e ela movimentava-se na sala de espera, no banheiro, e ia buscar água. Mas para entrar na minha sala ela apoiava-se em meu braço, alegando que “a passagem tinha muitas portas que ela não sabia abrir sozinha e tinha medo de se machucar”.
A esta altura, o tratamento começou a funcionar, pois a paciente já se encontrava em nível superior de auto-afirmação de suas atividades diárias. A depressão estava controlada com medicação, o que se recusara a usar até então, e também podia se alimentar sozinha.
Durante a depressão, Beatriz passava os dias na cama “embaixo do cobertor”, completamente isolada. Percebi que a depressão estava não só ligada à perda de visão somada a outras perdas, mas também servia para conter a cólera no estreito foco da dificuldade conjugal. Havia o desejo de manter o atual “marido” aposentado como seu enfermeiro, pois dessa forma estaria punindo-o e controlando-o ao mesmo tempo. Sua relação com o marido diferenciava-se das demais (filho, nora, netos) por uma gratificação masoquista. Beatriz estava convencida de que a relação com o marido estaria garantida se continuasse no comando, mesmo “embaixo do cobertor”.
Ao entrar em contato com as perdas, enfrentando o que poderia e o que não poderia ser modificado, passou a funcionar num nível de escolha até então desconhecido. Já podia escolher o caminho para o consultório, quando antes achava que não fazia diferença vir pelo túnel ou pela praia já que “não enxergava nada mesmo”. Também começou a freqüentar o supermercado com uma auxiliar e a escolher a marca dos produtos que queria usar.
Foram muitos momentos difíceis, pois a paciente vivia a esperança de voltar a enxergar. Sem mais possibilidades no Brasil, surge uma esperança nos Estados Unidos. Confesso que nesse momento entrei em estado de mania com a paciente, pois era muito agradável sonhar.
A paciente voltou de viagem sem enxergar. O transplante foi mantido, pois até então havia sempre rejeição, mas o nervo ótico estava completamente lesado.
A tarefa era ajudar no insight, auxiliando a paciente a livrar-se de métodos inúteis de conduta, facilitando a evolução de idéias no sentido de mudança e ajudando-a a suportar a ansiedade e a incerteza do processo de mudanças, não das sonhadas e desejadas, e sim das possíveis.
Sua capacidade de reconhecer um sentido na vida, considerando as atuais limitações, veio através dos netos.
As perdas não foram preenchidas, e a depressão não podia ter desaparecido. Mas acredito que ela tenha encontrado uma forma de “conviver” com elas.Neste caso, “trabalhos manuais” são importantes para quem se interessou por eles em algum momento, mas não teve a oportunidade de realizá-los. Não deve ser uma tarefa imposta, algo que tenha sobrado ao paciente. Hoje, no IBC, há várias opções oferecidas, de informática a marcenaria, mas a escolha é respeitada.
Muitos foram os momentos difíceis que enfrentei, onde ficava clara a angústia. Eu a identificava, mas a interpretação seria de pouco ganho.
São inúmeras as situações de regressão às quais os pacientes graves chegam, onde o analista tem que ter criatividade, pois não cabe, na hora, interpretação. Acredito que o meu trabalho com crianças portadoras de necessidades especiais muito me ajudou nestas situações.
A situação edípica da paciente era bastante comprometida. Expressava um ódio mortal pela mãe, pois dizia que esta só foi mulher para o pai, nunca se importou com os filhos, e acreditava que ela não queria filha mulher. O pai, apesar de ter sua admiração na infância, era sentido por ela como fraco.
Beatriz acabou sofrendo sucessivas cirurgias durante períodos que se prolongaram até 20 meses, sem resultados satisfatórios.
Bem mais tarde esta paciente me foi encaminhada, para desenvolver trabalhos manuais no Instituto Benjamim Constant. Diminuindo as defesas, ela toma conhecimento de quanto contribuiu para o agravamento da doença, e quão pouco cooperou com o tratamento e a equipe médica:
1. Continuou usando as lentes.
2. Misturava ou esquecia a medicação por estar muito ocupada, trabalhando.
3. Não voltou ao médico na data marcada, e fazia peregrinação para confirmar diagnóstico e medicação.
(Este foi o único ponto de igualdade com o caso que apresentarei a seguir, obviamente com diagnóstico diferente.)
Em 1978, a paciente havia sofrido cirurgia para retirada dos ovários (seu primeiro órgão de choque), chegando a fazer quimioterapia. Alegou ter resistido muito bem, pois o câncer não a impediu de trabalhar, e a sua presença era disfarçada. A perda da visão, por outro lado, lhe era impeditiva, imobilizando-a em vários aspectos conforme descrito anteriormente (ver “Reações à perda de visão”).
A paciente segue seu caminho com ajuda, um nível razoável de independência, os ganhos obtidos em relação ao comportamento inicial ao tratamento foram muitos, não resolvendo a perda de visão, mas uma melhor forma para visualizar soluções de seus problemas na reabilitação.
CASO 2
Tratamento: aproximadamente seis meses. Fernando, 43 anos, casado, chegou ao consultório também, acompanhado da esposa, porém com boa mobilidade e perfeito domínio da bengala. Ele já tinha passado pelo IBC e veio encaminhado por profissional da Instituição.
O paciente perdeu a visão num desastre de automóvel em que dirigia completamente alcoolizado, já tendo sofrido outros acidentes pelo mesmo motivo. Tinha consciência de seu alcoolismo e freqüentava o AA, contando com a participação da família nas reuniões.
Longe da depressão e da perda, encontrava-se em quadro que considero “maníaco”, juntamente com todos os que se propuseram a ajudá-lo, pois havia uma total negação por parte do paciente e da família.
A ajuda que recebia da família era comovente em muitas situações, mas em outras era desastrosa, pois o mantinha em grande dependência.
O paciente tinha boa situação financeira, prestígio e era responsável pelo sustento da família, mas após o acidente de carro foi despedido pela empresa. A esposa, que não trabalhava fora, passou a ter o controle das despesas, e o paciente assumiu a função “materna” com os filhos.
As oportunidades de trabalho eram de pouca eficácia e o colocavam sempre em situações que o expunham.
Fernando não falava de suas perdas, limitando as sessões ao desejo de vencer a barreira financeira. Entendia a dificuldade que sentia na perda do seu papel de provedor ativo para passivo, e a competição com a esposa. No nosso contrato combinamos que não o receberia alcoolizado, pois ele pouco poderia aproveitar do tratamento. Respeitava, em tese, mas quando bebia usava a secretária eletrônica ou telefonava para a minha casa em horários impróprios.
Eu nunca soube detalhes do acidente, pois ele começava a contar várias vezes, mas mudava de assunto. Tentei mostrar que a situação deveria ter sido muito difícil, pois parecia que ele tinha medo de falar, como se fosse vivê-la novamente.
O paciente ficou pouco tempo e não senti nenhuma mudança. Interrompeu o tratamento alegando que as filhas e a mulher estavam precisando de tratamento dentário, que ortodontia era muito caro mas que elas precisavam da correção.
Tentei mostrar que ele acreditava que para as filhas havia correção, mas era como se ele imaginasse que eu não poderia fazer mais nada para melhorar o seu estado. A esposa também veio falar sobre o pagamento, não podendo experimentar uma nova visão da vida, pois havia uma dificuldade maior dele se tratar. Embora para esses casos eu tenha uma disposição para o pagamento simbólico.
Nos dois casos apresentados, acredito que se esses pacientes tivessem sido encaminhados para tratamento psicológico, quando o quadro clínico começou a complicar, talvez pudessem ter se conscientizado de uma maior cooperação no diagnóstico e no tratamento.
Assim como Beatriz, Fernando não perdeu a visão de imediato; havia um quadro de tratamento. Imagino que estas perdas devem acontecer não só com a visão, mas com outros órgãos, com grande participação do paciente. Sempre existe uma outra ocorrência grave como pano de fundo, onde a doença sempre traz um ganho, ainda que secundário.
Fatores importantes para a reabilitação
Os autores pesquisados falam que uma boa reabilitação do paciente e que a ausência de maiores distúrbios afetivos podem ser atribuídos ao cuidado recebido no início da ocorrência e no hospital, ao apoio da família, à sua personalidade saudável e, principalmente, à sua visão otimista da vida.
Pacientes abertos a mudanças e envolvimentos e que encaram a mudança como um desafio e não como uma ameaça também apresentam boa recuperação.
Há pessoa ajustada, adaptada a “verdade” segundo as necessidades da situação, enquanto que o desajustado mantém-se no “erro” inicial mesmo quando este já não lhe oferece nenhum ganho.
A capacidade de reconhecer um sentido na vida considerando as atuais limitações ajuda na reabilitação a obter uma satisfação interna que é impossível diante de um questionamento intelectual.
A reabilitação dependerá de vários fatores:
da estrutura do ego;
do nível de frustração que o paciente é capaz de suportar;
da quantidade de limitações que a cegueira lhe impõe (ex. grau de necessidade de visão em sua vida profissional);
da reação do grupo familiar;
do tipo predominante de caráter: marcado pela dependência ou sado-masoquista, que se satisfaz com a cegueira;
das realizações do paciente em sua vida até o momento da perda;
da sua estabilidade emocional;
das responsabilidades antes da perda de visão;
da faixa etária do paciente.
Pontos negativos para a reabilitação:- Sabe-se que a falsa esperança não só atrasa como impede a reabilitação. A ajuda da família com relacionamento “excessivo” e “desmedido” provoca um comportamento regressivo, permanecendo a dependência do paciente.
Conclusão
Embora a psicanálise esteja hoje bem difundida na mídia e no âmbito cultural, encontra-se ainda muito isolada e distante do trabalho da equipe médica.Este trabalho reflete minha convicção de que muito pode ser feito na área oftalmológica, e o meu desejo por uma psicanálise dinâmica, aplicada, que se aventure ou que volte (como o fez Freud em 1885, quando ao pesquisar perturbações histéricas da visão, estagiou durante três meses em oftalmologia em Viena) para a área institucional numa atuação multidisciplinar. São vários os níveis em que a psicanálise pode atuar: preventivo, terapêutico, de reabilitação e profissionalizante, sempre auxiliando o indivíduo e a instituição a funcionarem melhor.
Não pretendo esgotar o tema, pois estou apenas iniciando o estudo e pretendo continuar refletindo, já que sinto que ele é muito rico e não se aplica apenas a pacientes com perda de visão.
Concluo o trabalho consciente da minha “cegueira” para muitos aspectos desconhecidos da teoria e da prática. Espero, no entanto, continuar com o desejo e a curiosidade para sempre considerar um ângulo novo nas coisas que não conheço, aprofundar minha intuição em busca da compreensão e fugir da tentação e do perigo de aprender a ver, ficando assim impossibilitada de ver o novo.
Maria Cristina de Castro Barczinski - Membro associado da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e trabalha como psicóloga voluntária no Instituto Benjamin Constant.Fim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
Este trabalho teve início no Instituto Benjamin Constant (IBC) a partir do meu contato com pacientes cegos e com perda parcial da visão, onde tive a oportunidade de trabalhar como psicóloga por dois anos (1983/85).
O meu trabalho é direcionado para a prevenção da perda da visão, pois mesmo em casos reduzidos, o paciente tem grande participação “inconsciente” no retardo do diagnóstico e na dificuldade de reabilitação, contando ainda com vários outros fatores dentro do processo.
Apesar dos recursos com que se pode contar atualmente para evitar a perda da visão, a cada dia muitas pessoas ficam cegas por doença, acidente ou velhice. Para uma pessoa com visão normal, a perda repentina de seu mais precioso sentido é muito difícil. Principalmente se considerarmos que em nosso mundo cada vez mais orientado visualmente, ninguém conta com a possibilidade de ficar cego.
Do ponto de vista psicológico, mesmo o indivíduo mais saudável mentalmente utilizará mecanismos importantes para a sua adaptação à cegueira.
Embora a Psicanálise e a Psiquiatria estejam familiarizadas em lidar com perdas, raramente têm a oportunidade de observar passo a passo as reações e o funcionamento da catástrofe que sofre o paciente com a perda total da visão.
A necessidade de uma profunda reorganização psicológica destes pacientes requer um amparo urgente para que eles possam lidar com esta perda que influi em todos os aspectos de suas vidas.
Religião, mitologia e cegueira
Nos templos bíblicos, a cegueira era um mal comum. Esta condição era freqüentemente encarada como uma punição por algum ato maligno ou como um traço do destino, só podendo ser revertida por Deus. Nos tempos bíblicos, os cegos estavam forçosamente condenados a uma vida de dificuldades e pobreza.
Alguns exemplos bíblicos de cegueira auto-infligida são os casos de Santa Luzia, padroeira dos cegos e doentes dos olhos, e S. Triduana e S. Medana, padroeiros da oftalmologia.
Seguem-se casos históricos, como o relatado por Marco Pólo, no séc. XIII. Ao chegar em Bagdá, soube da história de um sapateiro que destruíra o olho direito com uma sovela, sentindo-se culpado pelos pensamentos pecaminosos que teve ao ver exposta uma parte da perna de uma jovem mulher.
No século passado, o conhecimento da mitologia grega era essencial para qualquer pessoa poder considerar-se educada.
A mitologia também considera a cegueira como punição aos pecados. Provavelmente, os primeiros casos de cegueira auto-infligida foram relatados nas mitologias grega e nórdica. A história de Édipo nos é bem conhecida. Na literatura nórdica, diz-se que Odin deu um de seus olhos em troca do direito de beber um único gole na fonte de Mimir, cujas águas continham o dom da sabedoria e do entendimento.
A bela lenda de Lady Godiva nos conta que todos os habitantes da cidade esconderam-se por trás de suas venezianas fechadas a fim de tornar mais fácil a tarefa da senhora de cavalgar nua pelas ruas em pleno dia. O único homem que espiou através das venezianas o seu belo corpo desnudo foi punido com a cegueira.
Embora alguns estigmas da cegueira mencionados acima sejam parte do passado, também na sociedade moderna as pessoas cegas são evitadas, ignoradas ou superprotegidas.
Reações à perda da visão
Segundo Adams (1980), um dos primeiros trabalhos da literatura psiquiátrica que falava sobre as reações à cegueira intitula-se “The Mental State of the Blind” (1908), de autoria de William Dunton, e foi publicado no American Journal of Insanity.
Adams mostra que Luiz Cholden também contribuiu com considerações sobre os problemas psiquiátricos observados em seu atendimento em reabilitação de cegos na Menninger Clinic. Segundo o autor, a primeira fase que aparece com o choque da cegueira é o estado de imobilidade psicológica, descrito como “proteção emocional anestésica”. Seria impossível colocar um limite de tempo nesta fase, mas ele sentiu que quanto mais longa fosse a fase do choque, mais prolongado e difícil seria o processo de reabilitação.
Seguindo-se à fase do choque, surge a depressão reativa envolvendo sentimentos e desejos de autopiedade, necessidade de confidências, pensamentos suicidas e retardamento psicomotor.
Para Cholden, a depressão seria o luto pelos “dead eyes”, pela perda de visão. Percebeu que o paciente tinha que morrer como pessoa que enxerga para renascer como pessoa cega.
Observou que o choque e a depressão são necessários à progressão, para se lidar melhor com a cegueira no próximo estágio.
Observou três reações “permanentes” na cegueira, que ele considera como representantes psicopatológicos. A primeira era o prolongamento da fase depressiva para a depressão masoquista. A segunda, o desenvolvimento das desordens características, que poderia ser um exagero de fatos preexistentes, como por exemplo, uma dependência crônica. E por último, descreveu um fenômeno no qual alguns pacientes cegos formavam um grupo representando uma minoria contra aquilo que eles consideravam “um mundo hostil, estúpido e sem consideração, das pessoas com visão normal”.
Ainda segundo Adams, em 1970 Fitzgerald estudou as reações à cegueira de forma moderna, sistemática e científica e descreve quatro fases distintas de reações. Primeiro a descrença, quando os pacientes tendem a negar sua cegueira. Depois, a fase de protesto, quando eles vão procurar uma segunda opinião ou recusam-se a usar a bengala branca. Em terceiro lugar ocorre a depressão, com os sintomas clássicos de perda de peso, mudança de apetite, idéias suicidas e ansiedades paranóides. E por fim acontece a recuperação, quando os pacientes aceitam a cegueira num estágio em que não se percebe qualquer distúrbio psiquiátrico. Fitzgerald estimava um período de dez meses para que o paciente percorresse essas quatro etapas.
O processo de luto é visto como uma fase importante que muitas vezes nem se realiza. Nesses casos, o paciente assume o caráter de uma negação maníaca, ocasionando reações neuróticas moderadas ou severas.
As características mais freqüentemente observadas nestas reações são:
dependência acentuada em relação aos adultos ou negação da mesma;
recusa à competição ou constante preocupação em comparar-se e competir;
repressão da agressividade com excessiva amabilidade ou grande agressividade;
hipersensibilidade a críticas;
dificuldade de relacionamento com outros deficientes visuais e entre eles os “videntes”;
insegurança a respeito de si mesmo;
desconfiança acentuada em relação a outras pessoas e suas intenções;
manifestações de ressentimentos pela sensação de não ser querido e aceito pelo mundo, pois julga que ser diferente é ser inferior;
predominância de pensamento mágico e misticismo;
sentimentos de inveja;
descontentamento e uma crítica severa em relação aos demais;
desconfiança acentuada sobre sua capacidade sexual (cegueira = castração);
busca de um parceiro que também seja deficiente visual;
isolamento, evitando situações sociais;
acentuada necessidade de aprovação e afeto.
No trabalho com pacientes com perda da visão é observado um predomínio de traços paranóides que não devem ser avaliados somente como fantasia, pois existe um rechaço real da sociedade em relação ao deficiente visual.
Nos autores pesquisados, há concordância quanto às quatro fases que acontecem quase universalmente nos primeiros estágios da cegueira.
Segundo Fitzgerald são elas: descrença, protesto, depressão e finalmente recuperação. Blank e Cholden descrevem uma fase inicial de despersonalização, elevando a uma depressão reativa ou agitada, eventualmente seguida da recuperação. Blank afirma ainda que o paciente fica um pouco perturbado com a perda de visão como mau sinal, e sugere como conseqüência uma grave necessidade neurótica de punição.
O sofrimento é a reação real à perda de um objeto, enquanto a angústia é a reação ao perigo que essa perda acarreta.
Quando existe a dor física, ocorre em elevado grau aquilo que poderia ser definido como investimento narcísico do local. A transição da dor física para a dor mental corresponde a uma mudança do investimento narcísico para o investimento do objeto. O luto ocorre sob a influência do teste da realidade, pois esta última função exige categoricamente que o paciente se separe do objeto que não mais existe.
Outras perdas somam-se à perda da visão:
Perda da integridade física (o indivíduo sente-se mutilado, está diferente do que era anteriormente e diferente dos que o cercam);
Perda dos sentidos remanescentes (há uma desorientação inicial, causando diminuição do tato, olfato, memória, capacidade motora etc.);
Perda do contato real com o meio ambiente (como se morresse para o mundo das coisas, perdendo assim um importante vínculo com a realidade);
Perda do “campo visual” (olha para algo que não se encontra mais ali – silêncio visual);
Perda das habilidades básicas (capacidade de andar; estando só é observado, e estando com outras pessoas sente-se isolado);
Perda das técnicas da vida diária (passa por repetidos fracassos nessas atividades que nunca o deixam esquecer que está cego. Ex: comer, beber, funções intestinais, conservar-se limpo e arrumado, despir-se à noite e vestir-se pela manhã, barbear-se, maquiar-se, higiene pessoal, distinguir a pasta de dente do creme de barbear, controlar as contas, preencher cheques, contar dinheiro, localizar objetos que derrubava, comer em restaurante etc.) Tais perdas obrigam o deficiente visual a depender, em maior grau, das outras pessoas, restringindo severamente sua autonomia;
Perda da facilidade de comunicação escrita (livros, jornais, fotografias, não pode ler a própria correspondência, perdendo a reserva pessoal, e impossibilitado também de assinar o próprio nome);
Perda da facilidade da comunicação corporal (postura, gestos, mímica e expressões faciais, não pode ver as reações da pessoa com quem fala);
Perda da visão dos rostos familiares, artes etc;
Restrições em sua recreação (que poderia ajudá-lo na superação da crise);
Perda da obscuridade (não passa mais despercebido na sua rua, por isso muitas vezes rejeita a bengala e qualquer objeto que possa identificá-lo como cego);
Perda da profissão (perde a capacidade de produzir e de sentir-se útil). Perdendo muitas vezes sua segurança financeira, numa fase em que necessita gastar mais com sua reabilitação;
Sendo inúmeras as limitações, uma série de frustrações acompanha uma desorganização na personalidade e na perda da auto-estima.
Mudança do setting
O trabalho com o paciente cego em um relacionamento psicoterapêutico exige que o terapeuta se conscientize de algumas interações especiais, que podem surgir durante o processo, incluindo questões de transferência e contra-transferência. Antes do início da terapia, deve o psicoterapeuta tentar examinar o seu próprio setting quanto ao que ele acredita ser a sua própria atitude diante da cegueira, o que a cegueira significaria para ele, e – especialmente – que experiências ele teve com cegos no passado.
Para Adams (1980), desde o início deve o terapeuta estar disposto a assumir um papel mais ativo. No primeiro contato, na sala de espera, o terapeuta deve anunciar a sua presença em voz alta, e deve estar pronto para tocar o paciente e permitir que este o toque, deixando que ele segure em seu braço com firmeza até ambos estarem sentados no consultório. O terapeuta deve saber que comportamentos como gesticular, ou expressão facial podem estar ausentes ou destorcidos no paciente cego. Ainda: algumas das pistas visuais normalmente utilizadas em terapia podem ter que ser sacrificadas. O terapeuta não pode esperar que o paciente cego reaja a um olhar. Portanto, ele deve aprender a traduzir em palavras estas emoções visuais. O paciente cego pode ter dificuldades com “contato visual” e aparentar não estar vinculado ao terapeuta (quando, na realidade, ele está claramente em harmonia com a sessão). Por outro lado, alguns pacientes mantêm um contato visual tão bom, que o terapeuta pode esquecer que o paciente não possui visão.
Uma parte necessária para a terapia com pessoas cegas é a disposição de se explicar detalhadamente o ambiente. Pode ser, porém, que o terapeuta queira primeiro explorar a fantasia que o paciente tem a respeito do mesmo.
O terapeuta deve lembrar-se que a sua própria curiosidade pode levá-lo a seguir um detalhe que seja de seu interesse, em vez de ser o foco da terapia. (Por exemplo, o paciente deprimido pode descrever como lhe é difícil vestir-se de manhã. O terapeuta pode interessar-se por outros aspectos, e não pela falta de energia ou interesse do paciente). Estas distrações podem ser informativas, mas também prolongam o curso da terapia. De um modo geral, o terapeuta demorar a estabelecer um relacionamento terapêutico com o paciente cego, demora que pode ser reduzida mediante conhecimentos prévios sobre o comportamento dos cegos.
A importância da psicoterapia com estes pacientes torna-se ainda maior se pensarmos no tratamento que a sociedade dava aos cegos no passado. O conhecimento de algumas reações psicológicas, bem como do processo de aceitação da cegueira, é fundamental para que se estabeleça uma relação de sintomas específicos associados ao problema.
O trabalho psicoterapêutico com o deficiente visual pode ser acelerado se o terapeuta estiver disposto a explorar suas próprias reações diante do paciente. Assim estabelecem-se os alicerces para um processo psicoterapêutico ativo que podem facilitar e aprofundar o tratamento.
Apesar da psicoterapia ter que focalizar principalmente os problemas psicológicos do paciente, o psicoterapeuta também deve estar disposto a auxiliá-lo a encontrar um papel mais satisfatório na sociedade, estando atento a habilidades e interesses mencionados pelo paciente antes da perda de visão.
Interação analista x paciente
Conduta no tratamento
A psicanálise em geral acha-se pouco preparada para encarar terapeuticamente soluções de emergência. Alguns profissionais preferem chamá-las de “Psicoterapia de Apoio”. No momento de crise, quando o paciente é levado pela família – pois dificilmente procura espontaneamente o consultório – é inútil para ele outra atitude que não seja encarar o fato atual como o mais importante. Alguma conduta imediata tem que ser adotada.
O estado atual é reflexo de acontecimentos penosos vividos ou fantasiados na infância e que devem ser localizados pelo analista. A fase aguda do momento estaria relacionada a um fato atual, um fator desencadeante de grande intensidade ou a somatização de microtraumas constantes.
Sob o ponto de vista das “instâncias psíquicas” nos encontramos em uma situação em que o id frustrado por um superego rígido, punitivo e ameaçador, pressiona um ego fraco ou enfraquecido cheio de culpabilidade e masoquismo que poderá reagir pondo a agressividade para fora contra o outro ou contra si mesmo até a destruição do self.
Em situações comuns, as “falas” dessas instâncias podem ser encontradas nas emergências, apresentando as tempestades de afetos, com o paciente gritando e amedrontando ao mesmo tempo em que se apresenta como vítima. Ou então o paciente fala ponderadamente, apresentando-se como frio e vazio de afeto, pois está isolado.
A reação do paciente à urgência é imprevisível, e as repressões muito profundas indicam risco de suicídio.
O psicanalista está acostumado a interpretar, mostrar, compreender, etc. Mas no momento da crise, o que pode ser interpretado? O “como”, o “porquê”, o “para quê” ou o “o quê?” Mostrar compreensão sem compreender? Ser dadivoso?
Na verdade há pouco a ser feito, mas também não podemos ficar sem fazer nada. Podemos tentar alguma coisa. Uma delas seria entrar em contato com algum resíduo de Ego sadio mostrando que há finalidade naquela conduta.
Outra possibilidade seria procurar descobrir a situação desencadeante ou frustradora – ou ambas combinadas – e procurar substituir o superego perseguidor por um menos rígido, assumindo conscientemente o papel de um superego auxiliar, mais compreensivo e menos perseguidor.
Dados que devem ser vistos como importantes:
a) É mais fácil entrar em relacionamento com o cliente que pede ajuda espontaneamente;
b) o setting hospitalar pode ser favorecedor.
Já o atendimento em residência ou o fornecimento de dados pela família são fatores muito negativos. Se o cliente não quer falar, ele tem alguma razão para isto, e é melhor que ele não fale do que ouvirmos o que a família tem a dizer sobre ele. Pois o doente pode ser depositório dos aspectos doentes da família que o mantém cronicamente doente.
Há também o sentimento de culpa deslocado e a família pode receber o analista com hostilidade, acusando-o de não ter feito nada.
Basicamente, a intuição é o elemento fundamental da ajuda que o terapeuta pode oferecer na emergência.
Teoricamente :
1. Abrir sua sensibilidade, intuição, identificar-se com o cliente, e se tornar um corpo de ressonância para o inconsciente dele.
2. Usar a inteligência para entender conscientemente o que o inconsciente sentiu; sentir o que liga e o que separa; analisar e sintetizar; diferenciar o essencial do secundário; e tentar compreender e sentir a pessoa dentro da doença.
O terapeuta deve oscilar entre o esquecer e lembrar, a reação intuitiva e o discriminar intelectual, ser um instrumento passivo/ativo sensível e ao mesmo tempo um ouvinte crítico e racional.
Estas condições não podem ser ensinadas. Elas são inerentes a certos tipos de pessoas, e ainda assim, podem não funcionar em determinados momentos.
A personalidade do psicanalista, junto com o conhecimento que ele adquiriu em sua formação, aumenta sua possibilidade de empatia e identificação com o cliente.
Existe emergência e o bom manejo dela depende principalmente de uma capacidade especial do terapeuta que intui a gravidade da situação, tendo apenas como conhecimento que, via de regra, o elemento predominante da emergência é o ódio, a destruição e a vingança.
No início do tratamento, as interpretações são irrelevantes ou podem até mesmo se transformar num insulto. Talvez mais importante do que o conteúdo, em todo caso, sejam os processos dinâmicos que ocorreram tanto em níveis conscientes quanto inconscientes.
Freud, em Psicanálise Silvestre, fala da idéia de que o paciente sofre de uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue tirá-lo desse estado dando-lhe informação (sobre a conexão causal da doença com a sua vida etc.) ele deve recuperar-se. O fator patológico não é esse ignorar propriamente, mas está no fundamento dessa ignorância, em suas resistências internas; foram elas que primeiro produziram o ignorar, e são elas que ainda o conservam. A tarefa do tratamento está no combate a essas resistências.
Informar ao paciente aquilo que ele não sabe porque reprimiu é apenas uma das preliminares necessárias ao tratamento. Se o conhecimento acerca do inconsciente fosse tão importante para o paciente como as pessoas sem experiência em psicanálise imaginam, ouvir conferências ou ler livros seria suficiente para curá-los.
Uma vez que a psicanálise não pode abster-se de dar essa informação, Freud prescreve que isto não poderá ser feito antes que duas condições tenham sido satisfeitas: “Primeiro, o paciente deve, através de preparação, ter alcançado ele próprio a proximidade daquilo que ele reprimiu; e, segundo, ele deve ter formado uma ligação (transferência) com o analista para que o seu relacionamento emocional com este possibilite uma nova fuga.
Somente quando essas condições são satisfeitas torna-se possível reconhecer e dominar as resistências que conduziram à repressão e à ignorância. A intervenção psicanalítica, portanto, requer de maneira absoluta um período bastante longo de contato com o paciente.
Destaca também o valor da ignorância, ainda que não sejamos ignorantes. Uma “ignorância cultivada” é a necessidade de se lançar um olhar novo para a situação, de se deixarem de lado modos habituais de olhar para as coisas, de cegar-se para o óbvio e de pensar mais uma vez.
É importante convidar o paciente a falar livremente de seu sentimento, de seu sofrimento, enfim, convidá-lo à associação livre.
A importância de um apoio central, a família, a presença de alguém que possa dar força e suporte para continuar o processo de desenvolvimento na ajuda não das mudanças sonhadas, desejadas, mas possíveis.
Uma atenção cuidadosa à contra-transferência também é necessária.
Nosso envolvimento pode tornar mais difícil a observação cuidadosa. A supervisão pode ser muito útil na ajuda de interferências no relacionamento.
Estudo de caso
De um modo geral, em psicanálise, só recebemos encaminhamento para tratar de pessoas que de alguma forma não conseguiram se adaptar às tensões em suas vidas. Não pretendo apresentar estudo detalhado de casos, mas uma interação entre a teoria e a observação de dois casos bem distintos.
Diferentemente dos casos que estudei, onde o acompanhamento psicológico ocorre simultaneamente ao clínico (como medida preventiva), recebi os pacientes encaminhados pelo Instituto Benjamin Constant (IBC) somente após terem sido esgotadas outras alternativas de ajuda.
Como medida de proteção aos pacientes, pouparei dados pessoais que poderiam identificá-los.
CASO 1
Tratamento: três anos. Beatriz, 59 anos, desquitada, vivendo com companheiro há vários anos, foi encaminhada ao IBC para aprendizado de trabalhos manuais. Só depois de várias faltas às consultas marcadas, convidei-a ao consultório. Então ela pôde comparecer, deixando clara a rejeição ao contato com outros deficientes visuais.
Durante a fase inicial do tratamento, confesso que passei por conflitos, questionando o que eu teria para oferecer àquela paciente que se encontrava em estado de desamparo, desesperança e depressão, com todas as perdas por que passam os pacientes que se tornaram cegos.
Penso que o fundamental para mim foi perceber que ela estava no consultório, falando, escutando e pensando; logo, havia socorro para ela.
A cada frase Beatriz chorava, tossia, se engasgava, sufocava. Eu me via diante de um bebê.
A primeira providência foi a mudança de setting e de horário. Coloquei-a num horário em que me sentisse mais livre se precisasse ultrapassar o tempo da sessão.
Um copo de água mineral fez parte do setting durante aproximadamente dois meses, até que minha colega de consultório observou que a paciente não bebia mais a água.
Aos poucos fui localizando-a no setting, e ela movimentava-se na sala de espera, no banheiro, e ia buscar água. Mas para entrar na minha sala ela apoiava-se em meu braço, alegando que “a passagem tinha muitas portas que ela não sabia abrir sozinha e tinha medo de se machucar”.
A esta altura, o tratamento começou a funcionar, pois a paciente já se encontrava em nível superior de auto-afirmação de suas atividades diárias. A depressão estava controlada com medicação, o que se recusara a usar até então, e também podia se alimentar sozinha.
Durante a depressão, Beatriz passava os dias na cama “embaixo do cobertor”, completamente isolada. Percebi que a depressão estava não só ligada à perda de visão somada a outras perdas, mas também servia para conter a cólera no estreito foco da dificuldade conjugal. Havia o desejo de manter o atual “marido” aposentado como seu enfermeiro, pois dessa forma estaria punindo-o e controlando-o ao mesmo tempo. Sua relação com o marido diferenciava-se das demais (filho, nora, netos) por uma gratificação masoquista. Beatriz estava convencida de que a relação com o marido estaria garantida se continuasse no comando, mesmo “embaixo do cobertor”.
Ao entrar em contato com as perdas, enfrentando o que poderia e o que não poderia ser modificado, passou a funcionar num nível de escolha até então desconhecido. Já podia escolher o caminho para o consultório, quando antes achava que não fazia diferença vir pelo túnel ou pela praia já que “não enxergava nada mesmo”. Também começou a freqüentar o supermercado com uma auxiliar e a escolher a marca dos produtos que queria usar.
Foram muitos momentos difíceis, pois a paciente vivia a esperança de voltar a enxergar. Sem mais possibilidades no Brasil, surge uma esperança nos Estados Unidos. Confesso que nesse momento entrei em estado de mania com a paciente, pois era muito agradável sonhar.
A paciente voltou de viagem sem enxergar. O transplante foi mantido, pois até então havia sempre rejeição, mas o nervo ótico estava completamente lesado.
A tarefa era ajudar no insight, auxiliando a paciente a livrar-se de métodos inúteis de conduta, facilitando a evolução de idéias no sentido de mudança e ajudando-a a suportar a ansiedade e a incerteza do processo de mudanças, não das sonhadas e desejadas, e sim das possíveis.
Sua capacidade de reconhecer um sentido na vida, considerando as atuais limitações, veio através dos netos.
As perdas não foram preenchidas, e a depressão não podia ter desaparecido. Mas acredito que ela tenha encontrado uma forma de “conviver” com elas.Neste caso, “trabalhos manuais” são importantes para quem se interessou por eles em algum momento, mas não teve a oportunidade de realizá-los. Não deve ser uma tarefa imposta, algo que tenha sobrado ao paciente. Hoje, no IBC, há várias opções oferecidas, de informática a marcenaria, mas a escolha é respeitada.
Muitos foram os momentos difíceis que enfrentei, onde ficava clara a angústia. Eu a identificava, mas a interpretação seria de pouco ganho.
São inúmeras as situações de regressão às quais os pacientes graves chegam, onde o analista tem que ter criatividade, pois não cabe, na hora, interpretação. Acredito que o meu trabalho com crianças portadoras de necessidades especiais muito me ajudou nestas situações.
A situação edípica da paciente era bastante comprometida. Expressava um ódio mortal pela mãe, pois dizia que esta só foi mulher para o pai, nunca se importou com os filhos, e acreditava que ela não queria filha mulher. O pai, apesar de ter sua admiração na infância, era sentido por ela como fraco.
Beatriz acabou sofrendo sucessivas cirurgias durante períodos que se prolongaram até 20 meses, sem resultados satisfatórios.
Bem mais tarde esta paciente me foi encaminhada, para desenvolver trabalhos manuais no Instituto Benjamim Constant. Diminuindo as defesas, ela toma conhecimento de quanto contribuiu para o agravamento da doença, e quão pouco cooperou com o tratamento e a equipe médica:
1. Continuou usando as lentes.
2. Misturava ou esquecia a medicação por estar muito ocupada, trabalhando.
3. Não voltou ao médico na data marcada, e fazia peregrinação para confirmar diagnóstico e medicação.
(Este foi o único ponto de igualdade com o caso que apresentarei a seguir, obviamente com diagnóstico diferente.)
Em 1978, a paciente havia sofrido cirurgia para retirada dos ovários (seu primeiro órgão de choque), chegando a fazer quimioterapia. Alegou ter resistido muito bem, pois o câncer não a impediu de trabalhar, e a sua presença era disfarçada. A perda da visão, por outro lado, lhe era impeditiva, imobilizando-a em vários aspectos conforme descrito anteriormente (ver “Reações à perda de visão”).
A paciente segue seu caminho com ajuda, um nível razoável de independência, os ganhos obtidos em relação ao comportamento inicial ao tratamento foram muitos, não resolvendo a perda de visão, mas uma melhor forma para visualizar soluções de seus problemas na reabilitação.
CASO 2
Tratamento: aproximadamente seis meses. Fernando, 43 anos, casado, chegou ao consultório também, acompanhado da esposa, porém com boa mobilidade e perfeito domínio da bengala. Ele já tinha passado pelo IBC e veio encaminhado por profissional da Instituição.
O paciente perdeu a visão num desastre de automóvel em que dirigia completamente alcoolizado, já tendo sofrido outros acidentes pelo mesmo motivo. Tinha consciência de seu alcoolismo e freqüentava o AA, contando com a participação da família nas reuniões.
Longe da depressão e da perda, encontrava-se em quadro que considero “maníaco”, juntamente com todos os que se propuseram a ajudá-lo, pois havia uma total negação por parte do paciente e da família.
A ajuda que recebia da família era comovente em muitas situações, mas em outras era desastrosa, pois o mantinha em grande dependência.
O paciente tinha boa situação financeira, prestígio e era responsável pelo sustento da família, mas após o acidente de carro foi despedido pela empresa. A esposa, que não trabalhava fora, passou a ter o controle das despesas, e o paciente assumiu a função “materna” com os filhos.
As oportunidades de trabalho eram de pouca eficácia e o colocavam sempre em situações que o expunham.
Fernando não falava de suas perdas, limitando as sessões ao desejo de vencer a barreira financeira. Entendia a dificuldade que sentia na perda do seu papel de provedor ativo para passivo, e a competição com a esposa. No nosso contrato combinamos que não o receberia alcoolizado, pois ele pouco poderia aproveitar do tratamento. Respeitava, em tese, mas quando bebia usava a secretária eletrônica ou telefonava para a minha casa em horários impróprios.
Eu nunca soube detalhes do acidente, pois ele começava a contar várias vezes, mas mudava de assunto. Tentei mostrar que a situação deveria ter sido muito difícil, pois parecia que ele tinha medo de falar, como se fosse vivê-la novamente.
O paciente ficou pouco tempo e não senti nenhuma mudança. Interrompeu o tratamento alegando que as filhas e a mulher estavam precisando de tratamento dentário, que ortodontia era muito caro mas que elas precisavam da correção.
Tentei mostrar que ele acreditava que para as filhas havia correção, mas era como se ele imaginasse que eu não poderia fazer mais nada para melhorar o seu estado. A esposa também veio falar sobre o pagamento, não podendo experimentar uma nova visão da vida, pois havia uma dificuldade maior dele se tratar. Embora para esses casos eu tenha uma disposição para o pagamento simbólico.
Nos dois casos apresentados, acredito que se esses pacientes tivessem sido encaminhados para tratamento psicológico, quando o quadro clínico começou a complicar, talvez pudessem ter se conscientizado de uma maior cooperação no diagnóstico e no tratamento.
Assim como Beatriz, Fernando não perdeu a visão de imediato; havia um quadro de tratamento. Imagino que estas perdas devem acontecer não só com a visão, mas com outros órgãos, com grande participação do paciente. Sempre existe uma outra ocorrência grave como pano de fundo, onde a doença sempre traz um ganho, ainda que secundário.
Fatores importantes para a reabilitação
Os autores pesquisados falam que uma boa reabilitação do paciente e que a ausência de maiores distúrbios afetivos podem ser atribuídos ao cuidado recebido no início da ocorrência e no hospital, ao apoio da família, à sua personalidade saudável e, principalmente, à sua visão otimista da vida.
Pacientes abertos a mudanças e envolvimentos e que encaram a mudança como um desafio e não como uma ameaça também apresentam boa recuperação.
Há pessoa ajustada, adaptada a “verdade” segundo as necessidades da situação, enquanto que o desajustado mantém-se no “erro” inicial mesmo quando este já não lhe oferece nenhum ganho.
A capacidade de reconhecer um sentido na vida considerando as atuais limitações ajuda na reabilitação a obter uma satisfação interna que é impossível diante de um questionamento intelectual.
A reabilitação dependerá de vários fatores:
da estrutura do ego;
do nível de frustração que o paciente é capaz de suportar;
da quantidade de limitações que a cegueira lhe impõe (ex. grau de necessidade de visão em sua vida profissional);
da reação do grupo familiar;
do tipo predominante de caráter: marcado pela dependência ou sado-masoquista, que se satisfaz com a cegueira;
das realizações do paciente em sua vida até o momento da perda;
da sua estabilidade emocional;
das responsabilidades antes da perda de visão;
da faixa etária do paciente.
Pontos negativos para a reabilitação:- Sabe-se que a falsa esperança não só atrasa como impede a reabilitação. A ajuda da família com relacionamento “excessivo” e “desmedido” provoca um comportamento regressivo, permanecendo a dependência do paciente.
Conclusão
Embora a psicanálise esteja hoje bem difundida na mídia e no âmbito cultural, encontra-se ainda muito isolada e distante do trabalho da equipe médica.Este trabalho reflete minha convicção de que muito pode ser feito na área oftalmológica, e o meu desejo por uma psicanálise dinâmica, aplicada, que se aventure ou que volte (como o fez Freud em 1885, quando ao pesquisar perturbações histéricas da visão, estagiou durante três meses em oftalmologia em Viena) para a área institucional numa atuação multidisciplinar. São vários os níveis em que a psicanálise pode atuar: preventivo, terapêutico, de reabilitação e profissionalizante, sempre auxiliando o indivíduo e a instituição a funcionarem melhor.
Não pretendo esgotar o tema, pois estou apenas iniciando o estudo e pretendo continuar refletindo, já que sinto que ele é muito rico e não se aplica apenas a pacientes com perda de visão.
Concluo o trabalho consciente da minha “cegueira” para muitos aspectos desconhecidos da teoria e da prática. Espero, no entanto, continuar com o desejo e a curiosidade para sempre considerar um ângulo novo nas coisas que não conheço, aprofundar minha intuição em busca da compreensão e fugir da tentação e do perigo de aprender a ver, ficando assim impossibilitada de ver o novo.
Maria Cristina de Castro Barczinski - Membro associado da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e trabalha como psicóloga voluntária no Instituto Benjamin Constant.Fim da Página Site Desenvolvido pela Acessibilidade Brasil 2005 | www.acessobrasil.org.brAtalhos de Navegação Início da Página (alt+i)Busca no Site (alt+b)Onde Estou? (alt+o)Menu Principal (alt+m)Conteúdo do Site (alt+c)
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