Tudo começou na Grécia. Com homens endinheirados liderados por um barão francês e empolgados com a recente redescoberta das ruínas da cidade de Olympia. As Olimpíadas estavam de volta
De uma reunião de aristocratas, é difícil esperar algo proveitoso. A combinação nobreza + conhaque + idéias tem a reputação histórica de parir aumentos de impostos e golpes de Estado; não festivais atlético-culturais.
Mas o maior evento esportivo do planeta nasceu assim: de encontros entre homens endinheirados e provavelmente algo desocupados, liderados pelo francês Pierre de Frédy, mais famoso como Barão de Coubertin, por sua vez mais famoso como “o cara que inventou as Olimpíadas”.
Foi uma conjuntura de moda retrô e marketing esportivo incipiente: na segunda metade do século 19, uma onda revival dos antigos Jogos Olímpicos gregos tomou conta da Europa, mais ainda depois da descoberta das ruínas da cidade de Olympia. Durante anos, diferentes empreendedores tentaram uma reedição da festa histórica, até que em 1894 o Barão e sua turma resolveram pôr ordem no coreto e organizaram o primeiro Congresso Olímpico, em Paris. Decidiu-se que a edição inaugural seria em Atenas e criou-se o Comitê Olímpico Internacional.
A competição maioral nascia, mas ainda faltava o mundo se dar conta. Foram disputados apenas atletismo, ciclismo, esgrima, ginástica, levantamento de peso, luta, natação, tênis e tiro, por 241 atletas - todos homens, como nos Jogos antigos. Muitos disputavam mais de um esporte, e alguns torneios tinham sujeitos de nacionalidades diferentes competindo juntos.
Os melhores atletas amadores do mundo sequer estavam em Atenas, o que provavelmente motivou a célebre frase que fez do Barão de Coubertin o primeiro grande mentiroso da história do esporte: “na Olimpíada, o importante não é ganhar, mas competir”.
NA PIRA! | 10 FATOS QUE MARCARAM AQUELES JOGOS
01 - James Connolly (EUA) largou a universidade de Harvard e foi para Atenas tornar-se o primeiro campeão olímpico da história: venceu o salto triplo na abertura dos Jogos e ainda ficou em 2o no salto em altura e 3o em distância.
02 - Para os gregos, vencer a prova da maratona era questão de honra, o que fez de Spiridon Louis o grande herói daquela Olimpíada. O pastor de ovelhas de 24 anos recebeu dúzias de homenagens e presentes, dos quais aceitou dois: um cavalo e uma carroça.
03 - Falando em maratona e carroça, foi outro grego chamado Spiridon, o Belokas, o primeiro trapaceiro olímpico: ele chegou em 3o na maratona, inteirão, depois de ter realizado parte do percurso de carona numa charrete. Foi descoberto e desclassificado.
04 - A natação era disputada em mar aberto, com a água a uma média de 13o C. O húngaro Alfred Hajos, vencedor dos 100m e dos 1200m, explicou o segredo: “Vontade de vencer nada. O que eu mais pensava naquela hora era em sobreviver!”
05 - Na era mais plena do amadorismo, o alemão Carl Schuhmann, pau para toda obra, se deu bem: ganhou três medalhas de ouro na ginástica mais uma na luta greco-romana e ainda teve tempo de disputar levantamento de peso e 3 provas do atletismo.
06 - Nos 100m rasos, Tom Burke chamou a atenção porque foi o único a se posicionar com o joelho no chão na hora da largada. Depois de muita discussão, resolveram autorizá-lo, e o norte-americano justificou o uso da tatica: venceu aquela prova e também os 400m.
07 - No levantamento de peso, teve tapetão insólito. Dois atletas empataram e, como ninguém sabia o que fazer nesse caso, o Príncipe George da Grécia, um subjetivo, decidiu dar o ouro ao dinamarquês Jensen por ter conseguido a marca “com mais estilo”.
08 - O feminismo ainda nem bem existia, mas a grega Stamatha Reviti já era militante. Queria correr a maratona e, como protesto pela proibição às mulheres nos Jogos, fez o percurso no dia seguinte à prova oficial.
09 - Em 1896, não tinha essa de ouro, prata e bronze. O campeão levava uma medalha de prata e um ramo de oliveira; o 2º colocado, uma medalha de cobre e um ramo de louro. Daí para baixo, nem um misto quente e uma Fanta.
10 - A Olimpíada ainda mudaria muito nos anos seguintes, mas um elemento de 1896 seguiu vivo: a canção-tema do evento, composta por Spyros.
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