segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Falta de hotéis para basquetebolistas em cadeiras de rodas seria o ponto de partida

GRITO DO SELECCIONADOR

Falta de hotéis para basquetebolistas em cadeiras de rodas seria o ponto de partida

Antes de tecer as suas considerações acerca da acessibilidade, o seleccionador Raul Adriano apelou às entidades de direito para se lembrarem do triste episódio ocorrido por ocasião do Campeonato Africano de Basquetebol em Cadeiras de Rodas, realizado em Angola, onde as selecções envolvidas não conseguiram encontrar, em nenhum dos hotéis de referência de Luanda, condições adaptadas aos jogadores portadores de deficiência física, ao ponto de se terem alojado no Centro de Reabilitação Física de Viana.
“É que nos compartimentos deve haver condições ajustáveis e casas de-banho, um varão apropriado para apoiá-los nas mais variadas necessidades”, reforçou.
Outro problema que não deixou de sublinhar teve que ver com os acessos aos meios de transportes públicos que, segundo ele, deviam ter pequenos elevadores ou rampas, a fim de facilitar a subida desses necessitados.
Por causa desses recentes sinais, o treinador sugere que o Executivo trabalhe, no sentido de contornar a situação, para se evitarem embaraços do género, nos próximos eventos.  
“Acredito que o Estado vai preocupar-se em fazer alguma coisa e, uma vez que o país está a sofrer transformações, no que tange à construção de infraestruturas, devia haver mais fiscalização para o ajustamento das mesmas às carências dessas pessoas”, alegou Raul Adriano, referindose, concretamente, à disposição de rampas e elevadores adequados a esta franja da sociedade.
 Sem poupar exemplos, contou que, muito recentemente em Cabinda, houve um atleta que pretendia chegar a uma residência localizada no sétimo andar de um edifício, mas não pôde fazê-lo, por falta de condições adequadas à sua natureza. Acrescentou que o prédio tinha elevador, pelo qual teve de subir, mas a sua cadeira tinha de ficar em baixo do imóvel.
Finalmente, falou acerca da falta de sinalização indicativa que facilitam a vida dos deficientes, nalguns parques públicos.

Ordem dos Aquitectos

Pede ajustamento das obras

Considerando urgente e indispensável o ajustamento das obras às necessidades das pessoas portadoras de deficiência física, Victor Leonel, bastonário da Ordem dos Arquitectos de Angola, disse que há uma tentativa de construção de rampas nos passeios e adiantou que as mesmas se ajustavam mais aos carros do que aos deficientes.
Embora tenha reconhecido, igualmente, o esforço do Executivo na construção de rampas nas passadeiras aéreas, lamentou o facto de as mesmas não serem adaptadas às pessoas portadoras de deficiência, devido à sua acentuada inclinação.
“Aí os deficientes em cadeiras de rodas podem até circular, mas empurrados por alguém capaz de suportar o impulso da inclinação”, disse.
Quanto aos edifícios, recordou que, nos anos 70, havia uma recomendação, segundo a qual os prédios com menos de quatro andares podiam não ter elevadores, uma política que, a julgar pelas necessidades do momento, o líder da Ordem dos Arquitectos Angolanos considera ultrapassada, ao ponto de recomendar que, por mais baixos que sejam os prédios, deviam ter elevadores com capacidade para transportar deficientes.
“Pode dar-se o caso de que não seja por um defeituoso, mas por um idoso cujas forças para subir e descer já não existam”, supôs, para contrapor a outra política, que defendia a residência dos deficientes no rés-do-chão.
À semelhança do treinador Raul Adriano, Víctor Leonel considerou que os transportes públicos não estão preparados para os deficientes. Neste capítulo, o número um da Ordem dos Arquitectos aconselha os responsáveis do sector a adquirirem autocarros adaptados. 
LARDEF por InclusãoA Direcção da Liga de Apoio e Reintegração dos Deficientes Físicos (LARDEF), situada ao lado do Colégio Jacimar, no bairro Militar, distrito urbano da Maianga, município de Luanda, defende, por via de um estudo, que as leis e projectos referentes ao apoio às necessidades de pessoas com direitos especiais devem ser feitos com a participação destas.
Na sua análise, em que o tratamento da acessibilidade por parte de alguns governantes é feita de uma forma limitada, por referenciar, normalmente, meios físicos e barreiras arquitectónicas, relevase o acesso à informação.
 O Edital do Governo da Província de Luanda (GPL), datado de 1 de Dezembro de 2009, que considerava urgente que se definissem condições técnicas que garantissem a efectiva realização dos direitos de cidadãos com deficiências, impondo acções concretas que visassem melhorias das necessidades de pessoas com mobilidade reduzida aos estabelecimentos que recebiam público, é mencionado no exame da LARDEF, constando, em anexo, o documento do GPL, assinado pela então governadora Francisca Fátima do Espírito Santo de Carvalho, nos termos do Nº 1 do artigo 5º do Decreto Executivo Nº 87/08 de Julho.
Aliás, é em função disso que o estudo recomenda uma fiscalização séria para as obras projectadas, de modo a reflectirem-se na prática, tal como são concebidas.
“Nós, que somos os prejudicados, estamos em melhores condições para mostrar o caminho que nos facilite a vida”, esclareceu.
O estudo reconhece o esforço do Governo no que concerne a alguns sinais considerados fortes, como a existência de um Conselho Nacional, mas recomenda as instituições do Estado a pautarem por uma abertura mais esclarecida para as pessoas com deficiência.
Enfim, o estudo alerta as pessoas para uma percepção justa dos deficientes, alegando que, para além de possuírem aptidões interessantes, têm outra sensibilidade especial, pelo facto de serem mesmo pessoas com deficiências.  

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