ter, 12/11/2013 - 06:00 - Atualizado em
12/11/2013 - 09:00
Ainda é um tabu, no país, discutir a atuação das
Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Mas sua atuação política
ultrapassou os limites do razoável, tornando-se uma organização de duas
caras.
O lado positivo é de estímulo à solidariedade dos
pais, o atendimento a deficientes. Mas ajuda a blindar o lado deletério: uma
politização absurda.
A campanha movida pela Federação das Apaes contra
a educação inclusiva é um dos capítulos mais vergonhosos da longa caminhada
civilizatória do país rumo à inclusão social.
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Há cerca de trinta anos, um grupo de pais de
crianças com deficiência constatou que o melhor ambiente para seu
desenvolvimento seria junto a não deficientes.
Seguiram uma tendência mundial. Em 2006, a
própria Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU (Organização
das Nações Unidas), consagrou esse princípio.
Em depoimento histórico, pouco antes de morrer a
própria fundadora da Apae, dona Jô Clemente disse que, se fosse hoje em dia, seu
filho estaria em uma escola inclusiva.
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Quando o MEC (Ministério da Educação) lançou a
política de educação inclusiva, em 2009, destinou papel especial para as
Apaes.
Poderiam ser as instituições a auxiliar no
preparo da rede escolar, a fiscalizar a adaptação das escolas denunciando
aquelas que relutassem em se preparar para a inclusão.
Para estimulá-las, criou a figura da segunda
matrícula no âmbito do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). Por cada aluno com
deficiência na rede escolar, o Fundeb paga 1,3 matricula. Se houver atendimento
especial, paga uma segunda matrícula, que poderia ser destinada à Apae.
A resposta das Apaes foi de dar engulhos no mais
empedernido politiqueiro: se a rede escolar convencional fosse preparada para a
inclusão, as Apaes perderiam a influência sobre os novos alunos com deficiência.
Passaram a combater a inclusão e a disputar não apenas a segunda matrícula, mas
as duas. Atrasaram em três anos a aprovação do PNE (Plano Nacional de
Educação).
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Nos últimos anos, as políticas de educação
inclusiva lograram preparar 39 mil instituições públicas para a inclusão, 800
mil matrículas, cerca de 5.000 municípios com salas multifuncionais, com toda
espécie de equipamento para pessoas com deficiência, 88 mil professores que se
declaram formados em educação especial.
No Paraná, o vice-governador e secretário da
Educação Flávio Arns anunciou, em agosto, um programa de R$ 420 milhões para
atendimentos aos deficientes. Não era para reforçar a rede estadual. Toda a
verba destina-se às Apaes, para impedir que possam ficar inferiorizadas perante
a rede escolar.
O jogo paroquial paranaense envolveu a
ministra-chefe da Casa Civil Gleise Hoffmann, que valeu-se de seu cargo para
pressionar parlamentares a atender às demandas da Apae. A ponto de provocar
reação do próprio ministro da Educação Aloizio Mercadante.
Que tentem explorar politicamente uma causa
nobre, é questão de pudor. Que coloquem seus interesses políticos acima dos
interesses das pessoas com deficiência, é um crime contra a cidadania.
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