quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Governo do Rio manda parar programa esportivo que atende 300 mil pessoas



Anunciado como o maior projeto de esportes da América Latina, o Esporte RJ está parado. E sem previsão para voltar às atividades. Lançado em outubro de 2013 como um legado olímpico para o Rio de Janeiro, o programa atende quase 300 mil pessoas, com atenção especial para as crianças e os idosos. São aulas de futebol, judô, capoeira, ginástica, dança de salão, hidroginástica, futsal, voleibol, natação, vôlei de praia, tênis, handebol, futebol de campo e muitos outros esportes, que pararam após uma determinação da Secretaria de Estado, Lazer e Juventude (SEELJE). A ordem para paralisação das atividades foi enviada para as duas Organizações Sociais (OS) que coordenam o programa no dia 13 de janeiro, apenas alguns dias depois da posse do novo secretario, Marco Antônio Cabral. E pegou de surpresa professores, alunos e coordenadores. Muitos foram para o Facebook para reclamar.

- Esse projeto não pode acabar, se acabar vai acabar com o nosso sonho de ser jogadores de futebol. Esse projeto só está nos fazendo bem, estamos com bom rendimento na escola, em casa, na rua... Esse projeto esta tirando milhares de crianças e jovens da rua, do tráfico, precisamos muito que ele continue, estamos recebendo um ótimo apoio e treinamento. Esse não é um pedido só meu, mas de todos os jovens e crianças do Brasil. Esse projeto não pode acabar, pelo amor de Deus – implorou o jovem Gabriel Lucas.

- Estou muito triste com o fim do projeto. Li os comentários de alguns jovens lamentando também, mas não vi nenhum comentário dos alunos da terceira idade. Estava na aula de hidroginástica por conta de problemas de saúde. E assim como eu, todos os colegas também estavam lá pelo mesmo motivo. Não consigo entender como pode um projeto tão bonito como este acabar. Se as pessoas estavam lá, é porque não podem pagar pra praticar esporte em local particular. Agora ficamos sem uma explicação que justifique os motivos que levaram ao término de um projeto que estava beneficiando tanta gente – reclamou Vera Lucia Nazareth.

Quem acompanha o blog lembra bem que em Agosto de 2013 publicamos com exclusividade o fim do projeto Rio 2016 (Clique aqui). Na época também houve uma troca no comando da Secretaria de Estado, Lazer e Juventude. O então novo comandante da pasta, André Lazaroni, decidiu pelo fim do projeto, criado na gestão anterior pela secretária Márcia Lins. O programa original na verdade foi lançado em 2007, com o nome Suderj Em Forma. As mudanças políticas afetam tanto o trabalho, que alguns alunos já esperam uma nova mudança.

- Infelizmente os projetos sociais são menosprezados nas prioridades dos governantes. Esperamos que não tenha o mesmo final de outros projetos. Muitas crianças e jovens da terceira idade irão ficar sem suas atividades – reclamou Lucas Castro.

- Triste por saber que um projeto que vem dando certo, está tirando crianças da marginalidade e reintegrado os idosos, muitos deles com problemas de saúde, vai parar. Isso porque vamos sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Cada vez me surpreendendo mais – disse Grasy Matos.


A paralisação do projeto é também um baque no já combalido processo de pacificação das comunidades. O Esporte RJ está presente em muitas favelas do Rio e sua interrupção vai levar de volta para os becos e vielas meninos e meninas de diversas idades, jovens que acreditaram no discurso do Governo do Estado, que sempre afirmou que junto com a polícia chegariam os projetos sociais. Deixam de ser atendidos os moradores das seguintes comunidades: Tuiuti, Maré, Alemão, Arará, Andaraí, Formiga, Mata Machado, Morro do Adeus, Batan, Vila Kenedy, Santa Marta, Rocinha, Barreira do Vasco, Pavão-Pavãozinho, Parque Esperança, Jacarezinho e Manguinhos.

Programa Zico 10 na organização

O projeto Esporte RJ é administrado por duas organizações: Associação Zico Fazendo a Diferença e a Associação do Conselho Gestor de Esportes e Lazer do Estado do Rio de Janeiro (Ascagel). São quase três mil funcionários envolvidos diretamente no projeto, que era tratado por todos como modelo. Com a paralisação das atividades, coordenadores e professores não sabem o que fazer. Muitos estão até sem coragem de falar para os alunos que precisam parar com as atividades. Para piorar a situação, o repasse de verbas está atrasado e alguns professores não recebem salários desde dezembro, incluindo aí o valor do 13o salário. E sem muita informação sobre a continuidade do projeto, professores estão preocupados.

- Não sei o que me deixa mais triste. Ficar sem receber o meu salário ou saber que o projeto pode nunca mais voltar. São crianças que precisam dessa atividade, que se envolveram com a gente, se entregaram ao esporte. O que eles vão fazer agora no tempo livre? - se perguntou um professor, que pediu para não ser identificado.



Em nota, enviada para as organizações, a Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude informou que todas as obrigações do programa serão cumpridas. Faltou apenas explicar o motivo para a paralisação e uma informação mais clara sobre a continuidade ou não do Esporte RJ: "A Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude (Seelje) vem, pela presente nota, comunicar a todos os interessados/envolvidos que, em  virtude de readequações orçamentárias, fica temporariamente suspensa a execução do programa ESPORTE RJ, para análise e reestruturação do projeto, visando, dentre outras coisas, a busca de novas parcerias. A Secretaria afirma que todas as obrigações decorrentes da execução do programa serão rigorosamente cumpridas", dizia a nota.

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