domingo, 10 de junho de 2012

AVALIAÇÃO NOTA DEZ PARA REPROVAÇÃO ZERO.

Avaliação nota dez para reprovação zero


A cada ano as políticas públicas em educação tendem para o que se pode chamar de reprovação zero. Há quem diga que isto acontece para que o poder público possa alcançar índices numéricos positivos para mascarar certas deficiências, enganando-se e enganando a toda a sociedade com aprovações não necessariamente vinculadas ao sucesso do processo educativo. Efetivamente são opiniões válidas e que num ambiente democrático podem e devem ser respeitadas, porém passivas de discussões e crítica. O que mais encaminha à crítica é a forma como a reprovação é produzida: um sistema de ensino metodologicamente arcaico e uma avaliação unidirecional e punitiva. Ao se considerar o que ocorre na maioria das escolas públicas, com honradas exceções, percebe-se uma tendência e induzir às pessoas (educadores, gestores e educandos) a acreditarem que o conhecimento só existe e é possível passando pela escola. Sendo assim, a forma como esta o apresenta é a única aceita e, portanto avaliada positivamente. Eis umas das fontes da reprovação, quando o educando não se adapta ao “sistema”. Este passa a personificar algo quase místico, pois poucos lembram-se que o “sistema” é produzido e sustentado por pessoas (gestores, educadores). O processo educativo sistematizado nestes moldes não se percebe da mudança permanente em que os seres humanos e o conhecimento estão inseridos. Não se percebe de que é preciso “preparar” as pessoas para o contato com o conhecimento. Prepará-las para que saibam compreender a intencionalidade e a imparcialidade de cada novo conceito e suas conseqüências para a vida como um todo. Prepará-los para que saibam responder perguntas, resolver problemas e a questionar de forma crítica, os conceitos postos, visto que a ciência é por excelência um exercício de crítica e curiosidade. Vale dizer entretanto que os conhecimentos arcaicos são sumamente significativos se considerarmos a historicidade da ciência e do conhecimento, pois impulsionaram novas perguntas, problematizações e novos saberes. O arcaísmo condenável é a imitação engessada e insana de valores superados que conduzem a uma cultura escolar do desprazer, do sacrifício e do autoritarismo. A avaliação implícita neste contexto pressupõe uma certa arrogância da escola sobre os educandos, considerando-se detentora de um saber imprescindível o qual deve ser assimilada compulsivamente. Partindo disto surge o caráter unidirecional e punitivo da avaliação, especialmente aos que compreendem a escola como não sendo a depositária exclusiva dos saberes necessários ao futuro das pessoas. Aos que questionam ou discordam resta a ameaça da retenção (reprovação), por parte de quem pretende conservar um pseudo-poder sobre os educandos. O arcaísmo escolar deseja sustentar este poder, negando outras fontes de saberes e principalmente as novas demandas do processo educativo, que se fundamentam na necessidade de incitar a curiosidade, a criticidade e a potencialidade reflexiva de cada sujeito. Obviamente que para tanto é fundamental que cada educador se sinta suficientemente disponível à mudança e à constante transformação e construa sua autoridade pela confiança e pela potencialidade transformadora de seu trabalho na vida dos educandos. Quando este trabalho estiver ameaçado por questões disciplinares ou até de violência é preciso recorrer a outros instrumentos legais e institucionais. O primeiro passo nestes casos é exigir da família a sua participação no processo, que é intransferível no que diz respeito a construção de certos valores como respeito, ética e solidariedade. Esta distorção transcende inclusive às funções da própria instituição escolar a qual não responde por atitudes punitivas em relação a questões de caráter por exemplo. Impor respeito pelo “poder do medo” transforma a instituição escolar num espaço desprovido de atrativos e os educadores em caricaturas de um processo ultrapassado e sem sentido. Assim avaliar será um ato diagnóstico, revisor e crítico de um processo no qual está implicitamente inserida. Cabe-lhe a função de apresentar a compreensão de tal processo (o educativo) e estabelecer caminhos pelos quais será possível à instituição escola cumprir a sua. A mera solução pela retenção (reprovação) revela neste contexto, um fracasso evidente de diferentes atores do processo educativo: escola, família e poder público. Assim faz-se necessária uma inovação de posturas por parte da escola, novas condutas familiares e a promoção de novas políticas públicas educacionais por parte dos gestores públicos.

Postado por Nilton Bruno Tomelin às 08:47

Nenhum comentário: