domingo, 18 de março de 2012

Cadeirante bauruense cria histórias no TwitterLeandro Giroldo escreve para manter a mente saudável; paralisia cerebral o obriga a usar apenas um dedo Cristina Camargo/Agência BOM DIA

18/03/2012 05:45



cristina.camargo@bomdiabauru.com.br A imaginação fértil e a vontade de manter a mente saudável são as explicações de Leandro Giroldo, 38 anos, para a força que o faz superar as dificuldades e escrever, no Twitter e no Facebook, histórias de ficção científica, com personagens mutantes, cibernéticos e com aspecto de animais.



Leandro sofreu paralisia cerebral ao nascer, o que teve como consequências as deficiências físicas com que precisa lidar desde a infância.



Ele não anda, precisa de uma cadeira de rodas e tem problemas na coordenação motora. “Escrevo devagar, com apenas um dedo”, conta.



Na escola, que frequentou até a oitava série, contava com o auxílio dos amigos, que empurravam a cadeira de rodas, copiavam lições e emprestavam cadernos para ele estudar. Em casa, o pai e uma irmã ajudam no dia a dia.



Leandro conseguia andar quando era pequeno, mas, aos 10 anos, perdeu totalmente a força nas pernas e foi para a cadeira de rodas.

“Aí, tive que usar a imaginação. Foi o meio que encontrei para manter uma vida normal”, afirma.



As histórias cibernéticas começaram a ser criadas quando tinha 22 anos.



Os textos podem ser lidos no perfil dele no Twitter (@Le_Giroldo). No Facebook, ele divulga os capítulos para quem quiser acompanhar.

Na infância, quando tinha mais movimentos, Leandro conseguia desenhar brinquedos com perfeição. Hoje não consegue mais, então suas histórias só possuem textos.



Ele mandou e-mails para editoras na tentativa de publicar um livro ou revista em forma de quadrinhos, mas não obteve respostas. Por isso, achou que as redes sociais eram ideais para divulgar o trabalho.



O escritor lembra que um professor o estimulou a escrever, ainda na infância. “Ele disse que eu levava jeito”, recorda.



Rotina

Por causa das dificuldades físicas, Leandro cria as histórias de manhã e reserva o período da tarde para publicá-las no Twitter. Precisa de tempo para alimentar a rede social, onde tem 262 seguidores.



Ele já fez fisioterapia e tratamento com botox para tentar recuperar alguns movimentos, mas conta que foram períodos de sofrimento.



Costuma brincar com quem o conhece dizendo que as limitações físicas existem, sim, mas a cabeça funciona perfeitamente – com direito a lances de criatividade e estratégias para manter a atenção do público.



Leandro costuma fazer suspense entre um minicapítulo e outro. Para ninguém perder os próximos passos de seus heróis mutantes, prontos a derrotar os monstros. Da imaginação fértil direto para o Twitter.



Entenda o que é paralisia cerebral

O termo é usado para definir desordens caracterizadas por alteração do movimento secundária a uma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento.



3

É o número de tipos de paralisia.



Alterações são variáveis

O desenvolvimento do cérebro começa logo após a concepção e segue depois do nascimento. Quando ocorre qualquer agressão ao tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas atingidas são prejudicadas.



Na mídia

Pelo Facebook, Leandro fez contato com Luciano Huck. Contou ao apresentador que ele virou um dos heróis da história. O escritor usou bordão de Huck para divulgar sua história. “Loucura, loucura”



Leia trecho de história criada por Leandro

“A cidade dessas incríveis criaturas era, na verdade, um único núcleo habitacional formado por prédios grandes e altos, que possuíam o formato de centenas de gigantescos cilindros feitos de titânio, que se encontravam em posição vertical...



Esses prédios também eram todos interligados uns aos outros, através de um complexo sistema que consistia em enormes tubos transparentes, possuindo em seu interior uma espécie de esteira rolante. Assim, a população tinha o livre acesso a toda a cidade, cada um dos habitantes possuía a sua própria nave espacial...”



Universitários e especiais

É cada vez mais comum ver portadores de deficiências em cursos superiores. Instituições se adaptam



Antes de descobrir o curso de terapia ocupacional, o universitário Carlos Félix, 30 anos, estudou administração e psicologia, sem concluir nenhuma das duas graduações. Mas, segundo conta, nenhum desses cursos dava a sensação que ele sente agora, a de ter se encontrado.



Carlos é tetraplégico desde os 24 anos, quando mergulhou numa piscina imitando a pose de um golfinho para uma criança, bateu no fundo e sofreu a lesão que o deixou na cadeira de rodas.



Ele é conhecido pelos amigos como uma pessoa que não deixou de viver a juventude por causa do acidente. Frequenta baladas, namora e, agora, estuda e faz planos para seguir a profissão como terapeuta e também professor.



Para isso, precisa contar com a boa vontade da instituição na qual prestou vestibular, a USC (Universidade do Sagrado Coração). Conta estar satisfeito com as condições de acessibilidade, mesmo de vez em quando apontando a necessidade de uma melhoria ou outra.



É cada vez mais comum ver portadores de deficiência frequentando as universidades. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do Ministério da Educação, o número de deficientes matriculados em cursos superior saltou de 2.173 em 2000 para 16.328 em 2010.



No início do ano letivo, o estudante Kalil Assis Tavares chamou a atenção por ser o primeiro jovem com síndrome de Down a ser aprovado no vestibular da Universidade Federal de Goiás.



Na USC, que tem 15 portadores de deficiência matriculados, os alunos especiais podem contar com o Núcleo sobre Informação de Deficiências, aberto também para usuários de fora da universidade (esses pagam uma taxa).



Lá, existem livros e revistas em braile, audiolivros, lupa eletrônica, computadores e impressora adaptados. “Também oferecemos orientação sobre a legislação e indicamos serviços”, informa a coordenadora do núcleo, Alexandra Santos Monteiro Fernandes, 30.



Mostrar a cara

Na opinião de Carlos Félix, não é apenas a instituição que precisa se adaptar à inclusão.



Ele defende que os portadores de deficiência estejam dispostos a participar do processo, principalmente porque sabem melhor que ninguém o que precisa ser modificado. “A instituição não tem os olhos de quem está na cadeira de rodas”, afirma.



Alexandra confirma que professores e funcionários aprendem bastante com os alunos especiais. Cita o caso de um estudante que mostrou um programa de computador mais moderno para os cegos.



Carlos também é exemplo disso. Uma carteira foi construída especialmente para ele poder frequentar as aulas num laboratório. “A gente tem de mostrar a carinha. Quem não é visto, não é notado”, diz, entre uma aula e outra, na universidade que virou sua segunda casa.



Especialização de Carlos será em neuro e mãos

Ele acredita que será um profissional mais requisitado porque terá, além do conhecimento, a experiência prática.



10.000

É o número de alunos especiais matriculados na rede privada de ensino superior.



Inclusão escolar começa desde cedo

Num convênio com a prefeitura, a Sorri-Bauru orienta escolas municipais na adaptação para receber alunos especiais.



Professor cego propõe técnicas de ensino a alunos deficientes

Éder Pires de Camargo, de Lençóis, começou a perder a visão aos 9 anos e isso não o impediu de chegar ao pós-doutorado.



Ninguém melhor para fazer parte da Comissão de Acessibilidade da Unesp-Bauru do que o professor Éder Pires de Camargo, 39, que viveu na pele a experiência de ser um universitário portador de deficiência.

Ele começou a perder a visão aos 9 anos por causa de uma doença degenerativa e precisou enfrentar os anos na faculdade de física já com baixa visão.



Isso, no entanto, não o impediu de seguir em frente. Éder, que é de Lençóis Paulista, fez mestrado, doutorado e pós-doutorado. Pesquisa o ensino de física e a educação especial. Dá palestras em vários lugares do Brasil e é professor do curso de física na Unesp de Ilha Solteira (SP). Também escreve livros e desenvolve projetos.



Na faculdade, cursada na Unesp-Bauru, contou com a ajuda de professores e alunos para estudar.



Por meio de suas pesquisas e da vivência, ele defende a valorização das percepções não visuais e propõe o uso de materiais experimentais para as aulas, explorando sentidos como o tato e a audição.



O segundo livro de Éder, “Ensino de óptica para alunos cegos: possibilidades”, lançado ano passado, é resultado de dois projetos de pesquisas desenvolvidas entre 2005 e 2009.



No primeiro projeto, o professor analisou os processos de planejamento de atividades de ensino de física para ambiente educacional com a presença de alunos cegos. No segundo, analisou a aplicação dos mesmos planos. “Enfoca temas como o ensino de reflexão, refração, dispersão da luz, cores, relação luz matéria (opacidade, transparência, etc), espelhos planos e esféricos, lentes, entre outros”, explica.



“Discute saberes docentes necessários à condução de atividades inclusivas de óptica. Apresenta materiais táteis que auxiliam o ensino de alunos com e sem deficiência visual.”



Novos projetos

Éder não para. Este ano vai desenvolver um projeto com a Diretoria de Ensino de Andradina para propor soluções aos professores de física, ciência e matemática que encontram dificuldades ao dar aulas a alunos portadores de deficiência visual.



Também este ano sairá seu terceiro livro, pela editora da Unesp, que abordará o tema dos saberes docentes para a prática do ensino inclusive destinado a alunos cegos ou com baixa visão.



Na Comissão de Acessibilidade da Unesp-Bauru, o professor ajuda a identificar alunos, professores e funcionários com deficiência na universidade e propor ações para eliminar as barreiras arquitetônicas, digitais e também comportamentais a eles.



Tem mais. Éder faz questão de cultivar a própria independência. Toca violão, tenta caminhar sozinho na rua sempre que é possível e já participou da Corrida de São Silvestre, em 2000 e 2001.



Nas suas aulas, usa o equipamento datashow e a lousa, onde consegue escrever. Também costuma memorizar os cálculos que não poderá enxergar após estarem na lousa.



As barreiras existem, mas o professor está aí para provar que dá para superá-las.

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