quarta-feira, 4 de abril de 2012

Hidrobike

Hidrobike








Entrevista com profissional de Educação Física especializado em atividades aquáticas, apresenta dados surpreendentes e pouco conhecidos pelo público.



Alexis: Gostaria que você falasse sobre a hidrobike e outras atividades aquáticas alternativas, que parecem atividades terrestres adaptadas ao ambiente aquático



Miguel: A hidrobike é algo novo, nas academias, mas ela já circula nos laboratórios de pesquisa há algum tempo. É preciso esclarecer: é um aparelho que se mostra interessante do ponto de vista biológico e, por isso, acabou se espalhando para as academias. Nem sempre isso acontece, às vezes aparecem alguns equipamentos que são "só para enganar". Não é o caso da hidrobike. Ela utiliza um sistema de pás nas pedaleiras, o pedal parece um grande chinelo, de um material plástico, leve mas, ao arrastar-se na água, provoca uma forte resistência.



Todo exercício aquático, ou melhor, todo movimento dentro de um fluido, envolve resistência. O ar oferece uma resistência e, a água, outra. Essa resistência é proporcional à área de contato e à velocidade de deslocamento. Se você tentar balançar a mão espalmada numa certa velocidade dentro da água, você vai sentir uma resistência muito maior do que você normalmente faz no ar. Quanto mais rápido você fizer o movimento, maior será a resistência.



O mecanismo da hidrobike é planejado para aproveitar esse principio hidrostático. A bicicleta é feita de aço inoxidável, não tem rodas, ela é fixada no piso da piscina através de um sistema de ventosas, tem selim e um guidão como uma bicicleta comum. O pedal parece um chinelo enorme. Tenha você um pé tamanho 35 ou 44, estará bem calçado, porque ele é regulável. O selim pode ser ajustado de acordo com o tamanho das pernas - para cima ou para baixo - e também pelo tamanho de seu tronco, pode recuar ou avançar. Se, no caso, a pessoa é alta e tem o tronco comprido mas as pernas curtas, basta recuar o selim. No caso de uma pessoa que tem o tronco pequeno e as pernas curtas, basta abaixar e avançar o selim. A altura do guidão é ajustada de acordo com a altura dos membros superiores.



Dessa forma, a prática da hidrobike é possível para pessoas de qualquer tipo físico. A velocidade de pedalada é que vai individualizar o exercício, pois a sobrecarga vem do giro do pedal. Se você consegue fazer 60 giros em um minuto e eu consigo fazer 70 giros em 1 minuto, nós dois vamos ser estimulados de uma forma intensa, mas não precisamos fazê-lo de forma idêntica. Na grande maioria das aulas de solo, isso não acontece: as pessoas até trabalham com caneleiras e outros aparelhos de pesos diferentes, mas todo mundo tem que cumprir a mesma tarefa da mesma forma. As atividades aquáticas respeitam um pouco mais a individualidade biológica.



Essa individualidade vem das próprias características da água, que possibilita a cada um utilize um grau diferente de resistência. Na hidrobike, as bicicletas não têm regulagem de resistência, o que é comum nas bicicletas ergométricas. A hidrobike é um ergômetro que utiliza só a água como fonte de resistência, bastando, para isso, variar a velocidade de pedalada.



O princípio matemático é que a resistência do fluido é diretamente proporcional à área de contato. Se a gente aumentar o tamanho do pedal, o exercício vai ficar ainda mais difícil; já se a gente fizer furos no pedal, o exercício fica mais fácil, porque a área de contato diminui. Já a relação da velocidade com resistência é quadrática. Se duplicarmos a velocidade, multiplicamos a resistência por 4; se triplicarmos a velocidade, a resistência é multiplicada por 9.



Desse modo, é possível estimular vários sistemas biológicos ao usar força ou potência muscular. Assim, a aula de hidrobike é uma aula completa do ponto de vista de metabolismo. Mas, como ela é basicamente feita apenas com as pernas, nós incluímos alguns exercícios de membros superiores no nosso calendário. Nós temos um cronograma a cumprir. Incluímos exercícios abdominais todos os dias, toda aula tem uma série de abdominal, não tem como escapar. Porque como todos os dias você vai fazer seus exercícios com as pernas, o abdominal fortalece toda a região inferior do tronco e protege nossas coluna lombar. O fato de que a bicicleta está dentro d'água também tem todos aqueles fatores de proteção articular e cardiovascular que já mencionamos.



Assim, a hidrobike também é interessante para o iniciante, para quem tem algum problema cardíaco e precisa de uma atividade física pra reverter o quadro, e também para pessoas obesas, pelo alívio de peso proporcionado pelo empuxo da água.



Alexis: O que distingue uma aula de hidrobike de uma de spinning, não só em termos de resultados, como de público-alvo?



Miguel: O público é bem diferente. A hidrobike é mais recente, ela não é tão divulgada assim, pois surgiu num espaço acadêmico, numa universidade. A bicicleta do spinning foi adaptada também de uma bicicleta ergométrica e também surgiu num laboratório de fisiologia. Mas ela tem um caráter mais "comercial". O professor que ensina o método a difundiu com uma forte característica de marketing, criou uma marca, um método, uma certificação. O spinning traz todos os benefícios hormonais e fisiológicos de uma atividade física normal. Todos, igualmente, conseguem fazer uma aula que utiliza força, resistência, velocidade, explosão muscular. Mas não tem o fator de proteção proporcionado pela água.



O spinning não é uma aula para qualquer pessoa. Um obeso pedalando numa bicicleta do spinning vai sofrer drasticamente a ação de seu peso sobre a coluna sem nenhum alivio, um cardiopata não vai ter o benefício de reduzir sua freqüência cardíaca só por estar dentro da água.



Quando a gente termina uma série da hidrobike, realmente estão todos com o coração bem acelerado. A nossa recuperação é dar um mergulho. Ao mergulhar o corpo, você leva todo o seu sistema circulatório a 1 metro de profundidade. Para quem não gosta de mergulhar, basta mergulhar a carótida, a artéria que irriga o cérebro. Se você colocar o pescoço debaixo da água de um modo que ele sofra um pouquinho de pressão, a sua freqüência cardíaca já abaixa de uma maneira bem diferente. Você pode fazer essa experiência com aqueles relógios de freqüência cardíaca: sente-se na borda da piscina, espere 5 minutos e, depois, bem devagarzinho, mergulhe e, chegando ao fundo da piscina, confira no relógio o quanto baixou a freqüência cardíaca. Mesmo que você mergulhe apenas o pescoço, a carótida funciona como um "sensor de pressão". Qualquer toque na carótida já faz baixar a pressão. Isso explica porque os policiais e seguranças aplicam a "gravata" para apartar uma briga: apertam fortemente a carótida e a pessoa chega a desmaiar. O desmaio é uma resposta fisiológica à falta de sangue no cérebro. Se você precisa de irrigação no cérebro, qual é o melhor maneira de irrigá-lo? É ficar na horizontal. Então, o organismo "apaga" o sujeito para que ele vá para a posição horizontal. Assim, "aperto" que a água nos faz sobre a carótida já é um estimulo para recuperação após a aula.



Já no spinning, como em todas as atividades terrestres, você tem que esperar, esperar, esperar... Dentro da água, como suas pernas estão mergulhadas, você não se arrisca a chegar a extremos de esforço. Você consegue muita intensidade, consegue fazer um exercício para desenvolver muita força, muita resistência, mas o gordinho e aquele senhor que tem artrite pode ficar tranqüilo.



A gente procura colocar músicas que tenham batidas marcadas, uma marcação métrica bem fácil de identificar e que mantenham um ritmo constante que dê para acompanhar pedalando. Não pode ser uma música muito lenta. As musicas variam de 120 a 150 batimentos por minuto. Estudos mostram que, a 120 batimentos por minuto, as pessoas fazem 60 rotações por minuto, o que já é uma velocidade razoável para a grande maioria das pessoas. Quando a gente quer estimular este ritmo, uma musica de 120 batimentos por minuto vai resultar em 60 rotações, sendo uma rotação a soma de uma pisada com a perna direita com um com a perna esquerda.



Em congressos de Educação Física há profissionais especializados em montar este tipo de CD. A gente coloca musicas de ritmo mais intenso ou mais lento dependendo do tipo de estimulo desejado para cada aula. Esse estímulo também é planejado: se, hoje, a aula é de resistência, as séries vão provocar o sistema biológico que nos dá mais resistência, um sistema diferente daqueles que nos dão mais força.



Os dois sistemas são importantes, a separação é mais uma questão biológica, em termos de estimulo e de recuperação. A gente precisa se exercitar, precisa caminhar. Nesse momento, o importante é a resistência. Mas, em outro momento, a gente precisa mais de força, levantar um objeto pesado. Não basta agüentar caminhar o dia inteiro e não conseguir levantar um balde. A gente precisa a de força e resistência, e tudo isso faz parte do planejamento das aulas.



Alexis: Essas atividades de academia são visando um individuo médio, não-atleta, ou servem para as pessoas que já são atletas?



Miguel: A resposta muda de acordo com o lugar. Algumas academias de natação preservam uma equipe de atletas federados, equipes de natação, de nado sincronizado. Já outras academias têm a preocupação mais voltada para o incentivo à atividade física em geral. É o que a gente faz na natação infantil: direciona a aula para a atividade que a criança mais gosta.



Mas, em algumas atividades, como na musculação, que é mais personalizada, a gente atende a qualquer pessoa, com qualquer personalidade e objetivo, inclusive um jogador de futebol profissional pode utilizar nossa academia para sua preparação física. Seja uma senhora com alguma disfunção articular, seja um garoto de 14 e 15 anos, aqui na nossa academia temos profissionais habilitados para dar conta de todo tipo de público.



Há algumas aulas de academia, no entanto, que são franquias. Seu alvo é o público de jovens saudáveis e não têm condição de agregar nenhum outro tipo de população. Mesmo se pessoa for jovem mas não for tão saudável assim, já não consegue acompanhar. Essas aulas são para uma faixa muito restrita da população.



As atividades mais comuns na grande maioria das academias consegue atender a uma grande faixa populacional; a natação atende do bebê ao idoso; a hidroginástica e a musculação, do adolescente ao idoso.



Já aquelas aulas de ginástica de algumas franquias, elas têm uma coreografia pré-fixada, uma música pré-fixada, uma aula pré-fixada, uma aula igual em todas as academias. Do ponto de vista empresarial isso é bom. Você sabe que aula vai ser dada lá na cidade de interior, em que a franquia é pequenininha, será igual às das maiores academias de São Paulo. Seja em Curitiba, Joinville ou Rio de Janeiro, a aula é exatamente idêntica, inclusive aquele "uh-rruu!!" do professor, é sempre na mesma hora, igualzinho, está no manual da franquia.



Esse tipo de atividade ignora até os conhecimentos do próprio professor que, na sua formação, é habilitado para montar uma aula com intensidade, mecanismos e fatores motivacionais específicos. Nessas aulas de franquias, não há essa possibilidade.



Alexis: Qual é o segmento da população para quem a hidrobike é mais vantajosa, mais indicada?



Miguel: Já atendi a tri-atletas, de Iron Man, praticando duas vezes por semana a hidrobike para melhorar seus resultados. Também já atendi a obesos, cardiopatas, pessoas com lesões nos ligamentos, todas essas pessoas dentro de uma mesma aula de hidrobike, sem nenhuma espécie de discriminação. A aula permite a participação de qualquer pessoa a partir de 1,50m de altura. Não há restrições, podemos atender garoto de 12 anos, senhoras de 60 anos, rapagões de 25 anos. Apesar de não haver restrições, noto que a procura é maior na população entre 20 a 30 anos.

Autor: Alexis Kauffmann

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